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A chuva martelava a interestadual como se quisesse atravessá-la. Dan lutou contra o volante enquanto a caminhonete se desviava, o reboque sacudindo atrás dele como se tivesse vontade própria. Um solavanco forte, um estalo metálico, e algo lá dentro se soltou. Caixas irromperam pela parte traseira e caíram para fora.

O som de madeira estilhaçada e metal quebrando, embora horrível, foi abafado pela chuva. Ele praguejou, foi para o acostamento e piscou os olhos através dos limpadores de para-brisa para o rastro de detritos atrás dele. A chuva tornava impossível ver o que havia caído, mas uma coisa estava clara: algo grande havia se soltado.

De repente, faróis apareceram atrás dele. Duas esferas brancas atravessaram a tempestade, aproximando-se rapidamente. Ele apertou os olhos, esperando um lampejo de vermelho e azul, mas não havia nenhum. O veículo diminuiu a velocidade à medida que se aproximava. Por um breve instante, ele viu o motorista olhar para ele com frieza. Seu estômago se revirou de forma desagradável. Com certeza não era a polícia rodoviária!

Aos quarenta e três anos, Dan Miller já tinha visto tempo e sorte piores. Ele dirigia para a Hawthorne Logistics, uma empresa que pagava em dia. A natureza de seu trabalho também significava que os colegas raramente lhe faziam muitas perguntas pessoais. Era um trabalho confiável, noites tranquilas e o tipo de dinheiro que mantinha o aluguel atrasado longe de suas costas. Isso era suficiente.

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Ele nem sempre esteve atrás do volante. Ele costumava consertar motores. Antigamente, ele tinha uma pequena oficina até que as contas venceram. O divórcio veio em seguida e, de repente, a estrada parecia mais fácil do que as pessoas. Agora, ele preferia a solidão, as noites longas e o ritmo dos pneus ao som de vozes.

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Quando Alvarez, seu gerente, lhe ofereceu um “trabalho fácil com um bônus”, Dan não pensou duas vezes. “Transporte de móveis. Coleção particular para um depósito neutro. Coisa fácil”, disse Alvarez. “É um transporte grande. Você pode até tirar o resto da semana de folga.” Não haveria problemas, o pagamento seria em dobro e a promessa de terminar cedo. Parecia ótimo.

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O manifesto era simples: Móveis – Coleção particular. O destino era um depósito perto do rio. Não era nada difícil, apenas um ponto de entrega. Dan gostou do fato de que isso significaria menos conversa fiada e menos papelada. Alvarez até lhe deu dinheiro adiantado, dizendo que o colecionador não queria pagar as taxas de processamento do cartão. Dan não discutiu.

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A coleta foi feita em uma propriedade particular nos arredores da cidade. Dan notou portões de ferro, leões de pedra e uma entrada de automóveis longa o suficiente para perder de vista a estrada principal. Os holofotes brilhavam através da névoa quando Dan se dirigiu ao compartimento de carga. Ele esperava que houvesse carregadores, mas, em vez disso, havia homens silenciosos de terno.

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Eles não se apresentaram nem falaram muito. Apenas o apontaram para a doca e começaram a carregar. As caixas pareciam uniformes. Não estavam marcadas e estavam bem fechadas, mas cada uma batia como se pesasse uma tonelada. Ele verificou sua papelada duas vezes, murmurando: “Móveis, não é?” Ninguém disse nada.

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Cada caixa precisava de dois homens para ser movida e, mesmo assim, eles grunhiam com o esforço. Pareciam pesadas e densas demais para cadeiras ou armários, mas móveis antigos eram sempre mais sólidos. O trabalho foi rápido e metódico. Cada alça era puxada duas vezes e cada canto era verificado. Ninguém olhava para ele por tempo suficiente para manter contato visual.

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Quando o último caixote foi colocado, um dos homens deu um passo à frente. “Sem paradas. Sem atalhos. Você vai passar direto, entendeu?” Seu tom carregava uma autoridade incomum para um agente da empresa de transporte.

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Outro homem acrescentou em voz baixa: “Tenha cuidado” Dan riu, esmagando o mal-estar que sentia. “Claro que sim”, disse ele. “As pessoas normalmente só ficam nervosas assim com a porcelana do casamento.” Ninguém riu. Dan presumiu que o homem estava falando sobre a chuva que estava por vir. O primeiro homem simplesmente fechou a porta do trailer e fechou o trinco com firmeza.

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A chuva recomeçou no momento em que ele atravessou os portões, com gotas grossas espirrando contra o para-brisa. Quando ele chegou à estrada principal, o aguaceiro era constante. Os limpadores de para-brisa rangiam no vidro, acompanhando o ritmo do zumbido baixo do motor. Ele murmurou: “Ótimo momento” e manteve o veículo estável.

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Ele ligou o rádio, mas foi recebido por estática. Nem mesmo o leve ruído dos programas de entrevistas da AM. “Acho que não terei outra escolha a não ser aproveitar o silêncio”, disse ele para ninguém, girando o dial de qualquer maneira por hábito. O rádio emitiu o mesmo chiado morto. Dan não ficou particularmente incomodado. Isso já havia acontecido antes em dias de tempo ruim.

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Ele verificou seu telefone, que deu uma piscada de serviço e depois desapareceu. “Esta rota é uma zona morta de qualquer maneira”, ele suspirou. Aqui fora, a quilômetros de tudo, a estrada pertencia à chuva e ao motor. Era para ser apenas ele, a tempestade e um trailer cheio de pertences de outra pessoa.

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A 16 quilômetros dali, ele avistou faróis em seus espelhos retrovisores. Era um utilitário esportivo preto, pouco visível através da cortina de chuva, mantendo uma distância perfeita. Ele não passou, nem sumiu. Continuava seguindo-o. A princípio, ele o ignorou, dizendo: “Há muitos motoristas noturnos por aí”.

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Ele tomou outro gole de café, que já estava frio, convencendo-se de que não era nada. Provavelmente era outro caminhoneiro pegando o mesmo atalho, ou paranoia por excesso de cafeína e muitas rodovias vazias. Ainda assim, os pelos de sua nuca se arrepiaram.

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A cada poucos minutos, seus olhos voltavam para o espelho. A SUV estava sempre lá. A mesma distância. O mesmo ritmo calmo e paciente. Ele riu baixinho. “Você está perdendo a cabeça, Miller. Ninguém quer seus móveis velhos e pesados” Mas, instintivamente, ele continuou verificando.

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Um par de lanternas traseiras apareceu à frente. Era um carro pequeno se arrastando na pista da direita. Ele desviou para passar e, assim que o trailer se aproximou, o carro freou. “Ele puxou o volante para a esquerda. Os pneus chiaram, e a carreta inteira sacudiu para o lado.

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O impacto veio de dentro do trailer. Um forte estalo acompanhou o gemido do peso deslocado. O caminhão deu um solavanco, mas se manteve ereto. Dan parou, respirando com dificuldade, com os nós dos dedos brancos no volante. Em algum lugar atrás dele, algo se estilhaçou. Um dos caixotes havia se soltado com certeza. Ele gemeu, esperando que nada estivesse quebrado.

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Ele saiu para a tempestade, com as botas afundando na água lamacenta ao contornar o trailer. A chuva caía com tanta força que batia nas laterais de metal como se fossem pregos. Uma das correias havia se rasgado completamente. Ele pegou uma nova na caixa de ferramentas e começou a prender novamente a carga.

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Quando bateu na caixa mais próxima para verificar se havia movimento, ela não emitiu nenhum som oco, apenas um baque denso e pesado. Ele franziu a testa. Os móveis tinham lacunas de ar, mesmo com estofamento. Este parecia sólido em toda a sua extensão. Enquanto a chuva o atingia com mais força, ele deixou o pensamento de lado e apertou a correia mais um pouco.

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Enquanto trabalhava, algo branco polvilhou suas luvas – um resíduo fino e pulverulento que se agarrava ao caixote. Ele esfregou os dedos, cheirando. Não era serragem, nem nada que ele reconhecesse. O cheiro era fraco e quase metálico. Ele limpou o cheiro em sua calça jeans, murmurando baixinho.

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“Coisas estranhas de empacotamento”, disse ele, tentando parecer entediado, embora sua pulsação o incomodasse um pouco mais. Ele se forçou a terminar o trabalho rapidamente e voltou para seu assento, fechando a porta com mais força do que o necessário, como se isso pudesse bloquear o mal-estar que se insinuava.

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Ele tentou usar o rádio do caminhão novamente, esperando ouvir qualquer som que não fosse o da chuva. Estática. Apenas o mesmo chiado baixo que o seguia desde que deixara a propriedade. “A umidade deve ter acabado com o sinal”, ele murmurou. O relógio do painel de instrumentos piscou, depois escureceu. Ele deu um tapa nele até que ficasse estável.

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Seu telefone também não estava melhor. Sem sinal. Ele o segurou perto do para-brisa, balançou-o inutilmente e depois o jogou no banco. “Tudo bem. Hoje é a velha guarda”, disse ele. Sem GPS, sem rádio, sem poder ligar para ninguém. O caminhão e a longa estrada seriam os únicos companheiros esta noite. Isso lhe convinha.

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O vento uivava contra o trailer, um assobio oco que subia e descia a cada rajada. Ele ouviu uma suave mudança de marcha vinda de dentro. Foi suave e deliberado, como algo pesado deslizando um centímetro para fora do lugar. Ele ficou parado, ouvindo. Então parou. Provavelmente, ele não havia prendido o caixote solto o suficiente.

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Ele aumentou o volume do desembaçador, fingindo que o som não havia ocorrido. “É apenas a carga se acomodando”, disse a si mesmo, com os dedos batendo no volante, não querendo arriscar a chuva e o frio novamente. Ele olhou para o retrovisor novamente. Não havia nada além de listras de chuva e escuridão. A estrada à frente engolia todos os faróis.

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Então, fracamente, um brilho surgiu atrás dele. Eram os faróis do utilitário esportivo novamente. Ele não podia ter certeza, é claro. Era apenas um borrão de luz em meio à chuva, mas algo na distância e na firmeza lhe parecia familiar.

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Ele diminuiu o acelerador, observando o espelho. As luzes se apagaram, combinando perfeitamente com sua velocidade. Ele pisou nos freios uma vez; o brilho piscou, mas permaneceu ali. Quem quer que fosse, não tinha interesse iminente em passar ou ultrapassá-lo.

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Ele pressionou o pedal suavemente, ganhando velocidade. O utilitário esportivo fez o mesmo, mantendo a distância como uma sombra presa a ele. Ele exalou bruscamente, uma risada seca escapando de sua garganta. “Você só pode estar brincando comigo.” Ele conhecia alguns brincalhões que se divertiam com esse tipo de coisa.

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“Sim, tudo bem. Não é nada assustador. Mas vou ignorá-lo”, ele murmurou, forçando um sorriso que não durou muito. Sua mão permaneceu perto da buzina, como se isso pudesse ajudar de alguma forma. Toda vez que um raio brilhava, os espelhos ficavam brancos, e o utilitário esportivo ainda estava lá. Sempre lá.

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Sem a distração do rádio ou da música, Dan não conseguia afastar os pensamentos. E se Alvarez não tivesse lhe contado tudo? Talvez fosse algum tipo de mobília antiga roubada? Sua pulsação acelerou. Então ele se lembrou da papelada e do local onde pegou a carga. Ele disse em voz alta. “Não pode ser. Isso é bizarro. A empresa é legítima.”

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Ele balançou a cabeça, expulsando o pensamento. A Hawthorne Logistics lidava com remessas de alto nível o tempo todo. Alvarez podia ser um pouco duvidoso, pedindo gorjetas e coisas do gênero, mas não estúpido o suficiente para se arriscar a ter problemas federais. “É só nervosismo”, ele murmurou. “E muito café na parada de caminhões.”

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A estrada se reduziu a uma única pista através de colinas arborizadas. A chuva veio com mais força, batendo no teto da cabine como se fosse cascalho. Os limpadores de para-brisa se esforçavam para acompanhar o ritmo, cada rangido mais alto que o anterior. Em algum lugar por trás do barulho, o motor zumbia constantemente. Essa era sua única garantia.

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Ele disse a si mesmo que estava bem. Disse isso a si mesmo duas vezes, depois uma terceira vez. Mas suas mãos permaneceram rigidamente presas ao volante. Ele dirigia curvado para a frente, com os olhos passando entre os espelhos e a estrada, esperando por algo que não conseguia identificar.

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Uma curva foi acentuada e repentina, meio inundada perto do acostamento. Ele reduziu a velocidade, mas os pneus do reboque sibilaram ameaçadoramente e todo o veículo sacudiu. O som que se seguiu foi um baque forte e repugnante e o eco de algo pesado se soltando.

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Ele verificou o espelho bem a tempo de ver uma forma caindo da traseira. Um dos caixotes rolou uma vez antes de se espatifar na lama perto do guarda-corpo. Estilhaços se espalharam no brilho vermelho de suas lanternas traseiras.

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Ele xingou alto, encostou o carro e pegou a lanterna no porta-luvas. A chuva martelava sua jaqueta quando ele saiu. Um dos pneus do trailer estava estourado, o que precisaria de reparos mais tarde. As luzes do SUV foram engolidas pela escuridão. Ele olhou para a estrada em direção ao caixote caído e começou a caminhar em direção a ele.

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Ele se agachou ao lado do caixote quebrado, com a chuva encharcando sua jaqueta. O feixe de luz de sua lanterna atravessava a madeira estilhaçada e algo escuro dentro – veludo, não papel de embalagem. Sua testa se franziu. Os móveis não eram forrados de veludo. Ele afastou os detritos úmidos, com o coração batendo mais forte a cada segundo.

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Um canto havia se aberto mais do que o resto. Lá dentro, a luz refletia algo muito vívido para ser verniz – fragmentos de azul, verde e vermelho brilhando sob a luz. Ele se inclinou para mais perto, piscando os olhos em meio à chuva. “O que em nome de Deus…”, sussurrou, meio com medo de acreditar no que estava vendo.

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Ele estendeu a mão e pegou uma pequena bolsa, selada com barbante. Ela era mais pesada do que deveria ser. O tecido se deformou contra sua mão. O tecido se projetava contra seu punho. Ele a soltou com cuidado, e o conteúdo se deslocou com um som suave de tilintar que fez seu estômago se apertar.

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Quando a luz chegou, o mundo mudou. Dezenas de pedras – safira, rubi e esmeralda – explodiram em cores, espalhando reflexos em suas mãos molhadas. Por um momento, ele esqueceu a chuva, o frio e a escuridão. Tudo o que ele conseguia pensar era: Isso não é mobília.

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Seu estômago se revirou. “Que diabos, Alvarez…”, murmurou ele. O bônus, o sigilo e os homens estranhos na propriedade – tudo isso voltou à tona, peças de um quebra-cabeça que se encaixavam em um quebra-cabeça mais completo que ele não queria ver.

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“Coleção particular.” “Sem paradas.” “Pagamento de bônus.” Cada frase ecoava como um aviso que ele havia ignorado. Ele não tinha sido escolhido por sua confiabilidade; tinha sido escolhido porque não faria perguntas. E não havia feito, até agora. Ele notou outra coisa que deveria ter notado antes. Vários pregos enferrujados embaixo dos pneus!

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Ele cambaleou para trás, olhando para o caixote aberto. Ele estava transportando uma fortuna pelo estado no meio da noite, sozinho e desarmado. Alguém provavelmente havia danificado seu pneu intencionalmente, e talvez soubesse exatamente o que ele carregava.

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A verdade o atingiu como uma onda gelada. A SUV, o silêncio e as instruções não tinham sido aleatórios. Aquelas pessoas não eram curiosas. Estavam esperando por uma chance. Elas o seguiram por horas e sabiam exatamente o que aconteceria na estrada. Talvez tenham confirmado isso agora.

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Ele enfiou as joias de volta na bolsa, recarregou o caixote da melhor maneira possível e fechou as portas. Tomou a precaução de colocar uma chave inglesa nas maçanetas da porta, para que elas não se abrissem novamente. Suas mãos tremiam por causa da adrenalina. Ele entrou no táxi, com o coração batendo tão forte que abafou a chuva.

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Pegou seu telefone. Ainda estava escrito No Service. Ele xingou baixinho e o deixou cair. O relógio do painel de instrumentos piscou para ele inutilmente. Por um segundo, ele pensou em voltar, mas também não tinha ideia de quem poderia estar esperando atrás dele.

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Pela primeira vez naquela noite, ele se perguntou se conseguiria chegar ao amanhecer. A tempestade lá fora parecia mais pesada agora, como se soubesse o que estava em seu trailer. Cada instinto gritava para que ele dirigisse mais rápido e nunca olhasse para trás.

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Sua mente repassou cada palavra que Alvarez havia dito. Siga esta rota. Nenhuma outra estrada. É a mais fácil. Ele estava cansado demais para questionar isso e estupidamente grato pelo pagamento extra. Agora tudo parecia ensaiado e cuidadosamente escolhido para torná-lo um bode expiatório.

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Ele se lembrou da maneira como Alvarez sorriu ao lhe entregar as chaves. Ele estava tenso e distraído. Em retrospecto, seu sorriso cheirava mais a culpa do que a bondade. A lembrança lhe deu um nó nas entranhas. “Você sabia, seu desgraçado”, murmurou Dan, agarrando o volante com mais força. “Você sabia o que estava lá dentro e me armou uma cilada.”

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Fazia um sentido doentio e perfeito. Alvarez vaza a rota, recebe uma parte e deixa o motorista levar a culpa. Uma carga roubada, um motorista convenientemente tolo e um caso encerrado. Quando a polícia o localizasse, ele, Dan, já estaria bem longe ou pior.

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O pensamento o queimou. O medo e a fúria se misturaram como combustível. “Não dessa vez”, ele rosnou. Se Alvarez queria um idiota, havia escolhido o homem errado. Dan não estava morrendo em uma vala pela ganância de outra pessoa. Ele não havia reconstruído sua vida para morrer sem lutar na estrada.

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Ele voltou para a rodovia, a chuva lavando o vidro em faixas brancas. Os limpadores de para-brisa batiam furiosamente, lutando em uma batalha perdida. Por alguns minutos, era apenas ele e a tempestade, até que os mesmos faróis apareceram novamente no espelho. Ele rezou para que o pneu estourado aguentasse até que ele conseguisse chegar a um lugar seguro.

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O utilitário esportivo se aproximou rapidamente, desviando para sua pista, com as luzes piscando em rajadas curtas. Ele avançou, depois diminuiu a velocidade repentinamente, forçando-o a frear. Seus pneus gritaram contra a estrada molhada. O caminhão estremeceu.

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Outro conjunto de luzes se juntou a ele pela lateral. Dessa vez, era uma picape. Eles o encurralaram, o SUV na frente e a caminhonete atrás. A chuva transformou tudo em um borrão de luzes traseiras vermelhas e pânico refletido. Sua pulsação disparou, mas sua determinação se fortaleceu.

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O SUV freou forte novamente. Dan reagiu por instinto, contra-esterçando para evitar que o reboque dobrasse. Os pneus lutaram por aderência, o reboque se desviou perigosamente. As palmas de suas mãos escorregavam no volante, o suor se misturando à água da chuva.

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Ele encontrou uma abertura e girou o volante para a esquerda. O caminhão se endireitou, rugindo para a frente. A picape se aproximou, batendo na lateral do trailer. O metal raspou, com faíscas sendo lançadas na tempestade. “Afaste-se!” Dan gritou, tocando a buzina.

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A picape o atingiu novamente, com mais força desta vez, tentando empurrá-lo em direção à vala. Dan se manteve firme, com todos os músculos travados. Então, com uma súbita explosão de velocidade, ele girou a carreta para a direita, o peso do reboque fazendo o veículo menor derrapar no acostamento.

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Pelo espelho, ele viu a picape girar, com os faróis girando loucamente antes de desaparecer atrás de um jato de água. Um a menos, pelo menos por algum tempo. Seu alívio durou meio batimento cardíaco antes que o SUV disparasse novamente, inabalável e implacável.

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O motor rugiu em protesto, as engrenagens rangendo com o esforço. A caminhonete era pesada demais para ultrapassar alguém por muito tempo. Cada segundo a essa velocidade era um jogo de azar com a física. Ele pressionou o pedal de qualquer maneira, com os olhos correndo entre a estrada e o espelho, procurando por qualquer brecha, qualquer milagre.

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Não havia nenhuma. Era apenas uma floresta negra dos dois lados e um rio de chuva à frente. Os limpadores de para-brisa se agitavam inutilmente, mal conseguindo acompanhar o ritmo. Seus ombros doíam de tanto segurar o volante. Ele procurou por saídas, pontos de descanso, luzes ou qualquer coisa humana, mas o mundo havia se reduzido ao asfalto e ao medo.

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O utilitário esportivo se distanciou, batendo em seu para-choque traseiro com batidas curtas e agudas. Cada batida sacudia a cabine, o metal gritando com a tensão. Eles o estavam conduzindo, guiando-o para o lado direito da estrada, onde o guardrail brilhava molhado e fino. “Não está acontecendo”, murmurou Dan entre dentes cerrados.

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À frente, o contorno tênue de uma estrada de serviço de terra se separava à direita, meio escondido pelas ervas daninhas e pela chuva. Não havia nenhuma placa ou sinalização. Ele não pensou muito; simplesmente seguiu. Os pneus uivaram quando ele girou o volante, o trailer deu um solavanco forte e a lama explodiu em todas as direções.

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O mundo se transformou em um caos, com limpadores de para-brisa batendo, o motor roncando e os faróis batendo nas árvores. O caminhão balançou um pouco, com a traseira deslizando para o lado antes de se firmar novamente. A lama espirrou no para-brisa, cegando-o por segundos que pareceram minutos. “Vamos, vamos!”, gritou ele, lutando contra o giro.

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Atrás dele, o utilitário esportivo seguia sem hesitação. Suas luzes dançavam violentamente sobre as poças, ganhando velocidade. Quem quer que fosse, não estava desistindo. A estrada se inclinou, girou e se estreitou. A floresta se afastou e, de repente, Dan percebeu que o terreno à frente estava acabando!

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A estrada parou na beira de um antigo poço de pedreira, com sua bacia cheia de água negra refletindo flashes de relâmpagos. Não havia mais para onde ir. Ele pisou nos freios e a caminhonete deslizou até parar, com os pneus meio enterrados na lama e na água.

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O vapor sibilou do capô. O motor tossiu e depois morreu. Dan bateu no volante uma vez, com a adrenalina aumentando, e pegou a lanterna de emergência no porta-luvas. Seu pulso batia nos ouvidos enquanto ele cambaleava para a chuva, com as botas afundando na lama.

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Ele acionou o sinalizador, soltando faíscas antes que o fogo vermelho ganhasse vida, brilhante e furioso. Ele o acenou para o alto, a luz cortando a tempestade. O SUV parou a metros de distância, com as luzes cortando a névoa. Distante, quase inaudível no início, as sirenes começaram a ecoar pela noite.

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O veículo ficou parado por alguns segundos na beira da pedreira, com as luzes brilhando na lama. Então, à medida que o fraco lamento das sirenes ficava mais alto, o motor rugiu e o veículo deu ré, desaparecendo na estrada da floresta como uma sombra que se dissolve na chuva.

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Momentos depois, luzes vermelhas e azuis irromperam em meio à tempestade. As viaturas da polícia pararam, as portas se abriram e os policiais se espalharam com lanternas e gritaram comandos. “Mãos onde possamos vê-las!” “Afastem-se do veículo!” Suas vozes ecoavam nas paredes da pedreira.

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Dan levantou as mãos e saiu cambaleando da cabine. Ele estava encharcado, tremendo, e seu coração ainda estava mais acelerado do que as sirenes. Suas botas deslizaram na lama enquanto dois policiais o guiavam para longe do caminhão. Ele não resistiu, apenas respirou, longa e irregularmente, como se estivesse buscando ar.

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Um policial abriu a trava traseira e apontou a lanterna para dentro. O feixe captou o veludo rasgado e um leve brilho de cor por baixo dele. Ele congelou, depois levantou o rádio. “Central, temos algo grande aqui”, disse ele em voz baixa. “Coloque o contato do museu na linha.”

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Ao amanhecer, Dan estava sentado em uma sala quente na delegacia, com um cobertor sobre os ombros e uma xícara de café esfriando nas mãos. Os detetives andavam de um lado para o outro, juntando as peças. O trabalho da “mobília” nunca foi uma mobília; era um disfarce desde o início.

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As caixas continham uma coleção particular de pedras preciosas destinada ao museu estadual. O colecionador e o museu haviam concordado em transportá-la discretamente para evitar a atenção da mídia. Apenas um punhado de pessoas conhecia os detalhes, e Alvarez era uma delas.

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Ele havia vazado a rota em troca de dinheiro, avisando os ladrões para que interceptassem a carga e atribuíssem o crime a Dan. “Culpa fácil”, disse um detetive. “O novato leva a culpa.” Dan apenas assentiu lentamente com a cabeça, a raiva dando lugar à exaustão. Pelo menos agora, a verdade estava sendo revelada.

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Dois dias depois, as manchetes foram publicadas em todos os principais meios de comunicação: O clarão do caminhoneiro expõe um trabalho interno. Sua foto, manchada de lama e atordoada, foi espalhada pela internet, acompanhada de uma citação sobre “fazer a coisa certa” Dan não gostou da atenção, mas não podia negar o alívio que veio com ela.

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Alvarez foi preso depois de ser demitido pela empresa. O museu emitiu uma declaração formal de gratidão e uma generosa recompensa. Dan a aceitou em silêncio, usando parte dela para substituir seu para-brisa, pagar a última de suas dívidas e finalmente consertar a velha motocicleta que acumulava poeira em sua garagem.

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Semanas depois, ele estava de volta à estrada, a mesma rodovia que quase o havia matado. A chuva havia voltado, dessa vez suave e constante, brilhando no asfalto. Ao passar pelo marco 212, ele diminuiu um pouco a velocidade, observando o guardrail passar.

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Outro caminhão apareceu na pista oposta. Era um modelo semelhante, com o mesmo zumbido, coberto com lona e amarrado como o dele. Por um breve momento, sua pulsação se acelerou. Então, ele expirou, dessa vez com firmeza. A tempestade estava atrás dele. Ele apertou o acelerador e dirigiu em direção ao céu limpo.

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