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Richard Hale desapareceu em uma tarde de sexta-feira, saindo da escola sem dizer uma palavra. Ninguém o notou sair e ninguém pensou muito sobre isso durante o fim de semana. Mas na segunda-feira, quando sua cadeira ainda estava vazia, algo parecia errado.

Os rumores se formaram rapidamente. Os professores sussurravam desculpas que não batiam, os colegas inventavam histórias que não se alinhavam, e cada explicação só aumentava a confusão. Shirley continuava procurando respostas, mas quanto mais procurava, mais a verdade parecia se confundir, como se a própria escola quisesse esquecer Richard.

Na segunda semana, a preocupação se instalou em seus ossos. O armário de Richard permaneceu intocado, suas contas on-line inativas, sua presença apagada como se ele nunca tivesse existido. Todos tentaram seguir em frente, mas Shirley não conseguia. Algo em seu desaparecimento parecia errado, silencioso demais, repentino demais. E o silêncio, ela percebeu, pode ser aterrorizante.

Richard Hale costumava acreditar que começar de novo seria a coisa mais fácil do mundo. Uma nova escola. Novos rostos. Novas rotinas. Ele achava que poderia simplesmente entrar em um prédio diferente, sentar-se em uma nova mesa e se reescrever tranquilamente. Mas a Westbrook High não funcionava assim.

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Os grupos de amigos já estavam fechados. Círculos apertados construídos ao longo de anos de aulas compartilhadas, festas de aniversário, jogos da liga juvenil e hierarquias não ditas. Richard chegou no meio do primeiro ano do ensino médio, a pior época possível para ser “o garoto novo” Ele não tinha um rótulo que o definisse, nenhum esporte em que se destacasse, nenhum clube que o reivindicasse, nenhuma personalidade forte que exigisse atenção.

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Ele era quieto, pensativo, desajeitado de uma forma que o tornava um alvo fácil. E em um lugar como Westbrook, os alvos fáceis nunca ficavam intocados por muito tempo. Isso começou de forma quase invisível. As pessoas o olhavam de lado por levantar a mão com muita frequência. Alguém zombou da maneira como ele carregava quatro livros didáticos pressionados contra o peito.

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Um grupo de garotos riu de seus tênis de loja de segunda mão. Então a situação se agravou. Muito mais rápido do que ele sabia como parar. Um empurrão no corredor. Uma caneta quebrada ao meio em sua mesa antes mesmo de ele se sentar. Alguém zombou de como ele gaguejava quando falava rápido demais. Outro o filmou deixando cair a bandeja do almoço e postou na Internet com uma legenda que se espalhou pela escola no sexto período.

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Na terceira semana, ele já havia se tornado uma piada, uma piada levada de um corredor para o outro. Surgiu uma conta falsa no Instagram, zombando de suas roupas, sua postura, a maneira como ele digitava nos fóruns. Ele não contou aos pais. Eles tinham acabado de mudar suas vidas novamente para outra transferência de emprego, e ele não queria ser mais um problema além das contas e caixas.

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Em março, ele andava com os ombros curvados para dentro, encolhendo-se sem perceber que estava fazendo isso. A escola se movia ao seu redor como uma corrente contra a qual ele não conseguia nadar. E então veio a época do baile de formatura, o brilho, os pôsteres e as conversas em voz alta sobre vestidos, ternos e pares. Algo alegre para todos os outros se tornou um foco de atenção do qual ele não conseguia sair.

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Richard não havia planejado convidar ninguém. Mas Shirley era a única pessoa que o tratava como se ele não fosse invisível, e algo dentro dele, a esperança, surgiu antes que ele pudesse impedi-la. Ele esperou até depois da aula de química, com as mãos tremendo levemente ao se aproximar dela. “Shirley… posso lhe perguntar uma coisa?”

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Ela olhou para ele, calorosa e atenciosa de uma forma que fez seu peito se apertar. Mas no momento em que ele pediu que ela fizesse o baile, o rosto dela mudou, sem pena, sem desconforto, apenas com um arrependimento sincero. “Oh, Richard… Eu realmente sinto muito. Eu já tenho um encontro” A sinceridade caiu como um hematoma. Ela não estava zombando dele. Não estava mentindo. E, de alguma forma, isso fez com que a dor fosse pior.

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Ele forçou um pequeno sorriso, acenou com a cabeça e se afastou antes que ela pudesse explicar mais. Ele poderia ter parado ali. Deveria ter parado ali. Mas alguma coisa, talvez a necessidade de provar que ele não era tão patético quanto as pessoas diziam, o levou a tentar novamente. Na manhã seguinte, ele se aproximou de Millie Harper.

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Millie não era naturalmente antipática, mas estava cercada por garotas que adoravam derrubar as pessoas. No momento em que Richard se dirigiu ao armário dela, as amigas se endireitaram, sorrindo de expectativa. “Millie?”, ele perguntou baixinho. “Você gostaria de ir ao baile de formatura com -” Ela o interrompeu com uma risada que não tinha a intenção de ser maldosa, mas que acabou sendo assim mesmo.

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“Oh, Richard… não. Apenas… não.” Suas amigas começaram a rir. Millie acenou vagamente para as roupas dele, sua postura, sua existência. “Quero dizer, vamos lá. Você sabe por que, certo?” As risadas ecoaram pelo corredor muito depois de ele ter se afastado. Mesmo assim, ele tentou mais uma vez. Amber Lockley não se deu ao trabalho de fingir ser simpática.

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Ela estava de braços cruzados, com o queixo erguido como se estivesse se preparando para a batalha. “Você está me perguntando?”, disse ela, incrédula. Richard engoliu. “Hum… sim. Eu pensei…” Ela interrompeu: “Não” Ela não suavizou. Não baixou a voz. “Não vou estragar minha noite de baile aparecendo com você. Você tem ideia do que as pessoas diriam?” Os alunos próximos fizeram uma pausa, ouvindo.

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Amber se inclinou, com a voz afiada o suficiente para cortar. “Sério, Richard. Olhe em volta. Ninguém aqui quer ser visto com você” O corredor ficou em silêncio. Algumas pessoas trocaram olhares mais divertidos do que solidários. Alguém riu. Outra pessoa sussurrou: “Ai” E então vieram as risadas. Cruel, alto e sem desculpas.

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As risadas o seguiram pelo corredor. Algo dentro dele se rompeu. Richard não foi à aula pelo resto do dia. Ele saiu correndo do prédio, empurrando as portas laterais com tanta força que uma delas bateu na parede de tijolos. Alguns alunos o viram sair, com os ombros rígidos e a respiração ofegante, mas ninguém o impediu.

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Horas mais tarde, muito depois do último toque do sino, um tipo diferente de comoção se espalhou pela escola. Alguém viu seus pais chegarem. Não estavam calmos ou tranquilos, mas furiosos. Sua mãe exigiu saber como um aluno poderia simplesmente “desaparecer entre o quarto período e a dispensa” Seu pai acusou a equipe de negligência.

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Um professor tentou falar calmamente, mas a discussão se intensificou até que as portas bateram e as persianas do escritório principal se fecharam. Na segunda-feira de manhã, a cadeira de Richard estava vazia. E sempre que alguém perguntava o que havia acontecido, os professores davam a mesma resposta curta: “Concentrem-se em suas aulas, o Richard não deve ser sua preocupação” Nada de “ele está doente” ou “ele está bem” Apenas desdém.

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E em um lugar como a Westbrook High, o silêncio se espalhou mais rápido do que a verdade jamais poderia. Os boatos explodiram em poucas horas. Alguns diziam que ele havia fugido. Outros diziam que a escola estava escondendo algo. Alguns sussurravam que nem mesmo seus pais sabiam onde ele estava. E Shirley? Ela sentiu um frio pavor se instalar em seu peito.

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Porque ela tinha sido a primeira pessoa a quem ele perguntou. E a última pessoa que o viu antes de ele desaparecer. Shirley não conseguia se livrar da sensação de que, de alguma forma, ela estava ligada ao desaparecimento dele. Não era responsável, mas estava ligada. Na semana seguinte, os sussurros começaram a se espalhar pelos corredores.

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Alguns alunos insistiam que ele devia ter se transferido novamente. Outros murmuravam que ele havia fugido após a humilhação. Alguns afirmaram que seu pai havia sido transferido durante a noite, enquanto outros juraram que o diretor havia se reunido com a polícia depois do expediente. Então, veio o momento que selou o pânico: um carro da polícia estacionado do lado de fora da escola na manhã de quarta-feira.

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Dois policiais entraram no prédio e foram vistos caminhando diretamente para a sala do diretor. Os alunos se encostaram nos armários do corredor, tentando ouvir alguma coisa, mas todas as conversas dentro da sala eram abafadas pelo sigilo institucional. Os valentões que antes empurravam Richard ficaram pálidos de repente, sussurrando em círculos apertados.

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“E se eles pensarem que fomos nós?” Um deles perguntou, com as mãos trêmulas. “E se ele disser alguma coisa antes de ir embora?” “Isso é ruim. Eu nem sequer fiz nada, fiz?” Ninguém sabia. E o medo só alimentava os boatos. Ainda assim, a escola tentou seguir em frente, pelo menos até a manhã de quinta-feira, quando o sistema de som estalou e o diretor convocou uma assembleia inesperada.

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O ginásio se encheu de corpos inquietos, as arquibancadas rangendo sob o peso e a especulação crescente. O discurso do diretor foi dolorosamente vago. Um lembrete para “sermos gentis” Um lembrete de que “todos fazem parte desta comunidade” Um lembrete de que “palavras têm consequências” Sem nomes. Sem detalhes. Apenas um véu fino sobre o que todos já estavam pensando. Richard.

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No momento em que a assembleia terminou, os murmúrios irromperam novamente, mais alto dessa vez. “Você acha que aquilo foi por causa dele?” Perguntou um aluno. “Só pode ser.” Outro se perguntou: “Por que eles simplesmente não nos dizem onde ele está?” E foi aí que todos começaram a pensar a mesma coisa: “Talvez não possam”

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Alguns disseram que haviam ligado para a casa dele e ninguém atendeu. Outros disseram que a mãe dele foi vista chorando no estacionamento de um supermercado. Alguém jurou que um dos policiais carregava uma pasta de pessoas desaparecidas. Nada foi confirmado, mas a confirmação não era necessária. O suspense prospera no silêncio.

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O armário de Richard permaneceu perfeitamente intocado, seu registro de presença não mostrava nada além da palavra “ausente” A inquietação se tornou grande demais para Shirley ignorar. Ela precisava ver a verdade por si mesma. Depois da escola, ela foi até a casa dos Hale. Era apenas um desvio de quinze minutos, mas cada passo parecia escorregadio de medo.

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Ela nem sabia o que esperava, talvez Richard fosse atender a porta, envergonhado, mas seguro. Talvez a mãe dele sorrisse e explicasse tudo. Em vez disso, ela chegou a uma entrada de garagem silenciosa. As persianas estavam fechadas.

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A casa parecia habitada, mas de alguma forma vazia, como um lugar onde os relógios haviam parado. Ela hesitou por um longo momento antes de bater na porta. Ninguém respondeu. Bateu novamente. Com mais força. Ainda nada. Ela se afastou e olhou para a janela da frente, procurando por movimento, sombras, qualquer prova de que a família estivesse lá dentro.

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Mas a casa a encarava com uma quietude que lhe dava voltas no estômago. Por fim, ela se forçou a sair. A caminhada para casa pareceu mais longa. O céu estava mais escuro. A cidade estava mais silenciosa. Ela não conseguia se livrar da sensação de que havia perdido algo, algo óbvio, algo bem na sua frente.

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De volta ao seu quarto, ela se sentou na cama com o laptop aberto e as mãos trêmulas. Ela precisava encontrá-lo no único lugar em que ele sempre foi fácil de encontrar: a Internet. Ela verificou todas as plataformas habituais dele novamente. Nada. Verificou postagens antigas. Comentários antigos. Tópicos antigos. As contas ainda estavam lá, mas era como se o proprietário tivesse desaparecido no meio de uma frase.

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Shirley abriu uma janela de mensagem privada. “Richard? Você está bem?” Ela esperou, observando o cursor piscar na tela silenciosa, esperando o indicador de digitação que sempre aparecia em segundos quando ele estava on-line. Nada apareceu. Ela tentou novamente. “Por favor, diga alguma coisa.” Suas palavras ficaram sem resposta na linha vazia.

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O desespero a levou a enviar mais mensagens, perguntas, garantias, qualquer coisa que ela achasse que poderia levar a uma resposta. Elas se empilhavam em uma coluna estreita no lado direito da tela, cada uma mais frenética do que a anterior, cada uma recebendo o mesmo silêncio ininterrupto. Ela observou a tela de bate-papo por tanto tempo que seus olhos começaram a arder, mas a tela permaneceu imóvel.

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Nenhum indicador de digitação. Nenhum sinal de atividade. Nenhuma evidência de que ele estivesse lá fora lendo suas palavras. Ficou dolorosa e silenciosamente claro que ele não iria responder. A constatação se abateu sobre ela lentamente, como um peso pressionando seus ombros. Pela primeira vez desde que ele havia desaparecido, ela entendeu a profundidade do que havia acontecido. Ele não estava apenas evitando a escola.

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Não estava apenas se escondendo. Richard havia desaparecido do único lugar onde sempre existiu, e a totalidade desse silêncio a aterrorizava mais do que qualquer coisa que ele pudesse ter escrito. Eventualmente, a exaustão a puxou para baixo. Suas mãos escorregaram do teclado, seus pensamentos se confundiram nas bordas, e ela caiu em um sono inquieto e agitado.

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Ela havia estendido a mão. Ela tentou. Mas Richard não havia lhe dado nada em troca. E isso era o que mais a assustava. Quando chegou a semana do baile de formatura, a escola havia entrado em uma estranha amnésia seletiva. Durante dias, os sussurros sobre o desaparecimento de Richard consumiram todas as mesas de almoço, todas as conversas em grupo, todos os cantos dos corredores.

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Os alunos reproduziram teorias, recontaram rumores, juntaram fragmentos de contradições dos professores como detetives em um drama ruim de TV. Mas e agora? Agora era como se um interruptor tivesse sido acionado. Começou de forma silenciosa, quase invisível, com os alunos voltando suas conversas para as prioridades normais dos adolescentes: vestidos, quem poderia ficar com quem, quem havia alugado o carro mais extravagante.

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Em um curto período de tempo, a presença tênue de Richard foi deixada de lado por limusines, cabeleireiros e playlists. Não é que elas pararam de se importar. O fato é que se importar era inconveniente. E a Westbrook High era excelente em esquecer qualquer coisa inconveniente. Cartazes anunciando o baile de formatura iluminavam os corredores.

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Tinta brilhante, balões metálicos, recortes de papelão de rolos de filmes e Oscars falsos. O tema era “Uma noite em Hollywood” A ironia não passou despercebida por Shirley: a escola estava decorada como um show de prêmios, enquanto uma tragédia real poderia estar se desenrolando silenciosamente ao fundo. Ninguém parecia mais preocupado.

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Os valentões riram novamente, mas mais baixo, como se estivessem tentando não acordar algo que estava dormindo. As meninas que rejeitavam Richard sorriam mais, embora às vezes seus olhos se turvassem quando passavam pelo armário vazio dele. Os professores pareciam aliviados por não serem mais questionados sobre ele. A preocupação de todos havia se dissipado na excitação superficial da maior noite do ano.

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Todos, exceto Shirley. Ela observou a escola seguir em frente como se nada tivesse acontecido, e essa visão a perturbou mais do que o pânico. O pânico significava que as pessoas se importavam. O pânico significava que as pessoas temiam a verdade. O esquecimento parecia uma culpa varrida para debaixo do tapete. O nome de Richard voltou ao silêncio, não o silêncio assustado e pesado de duas semanas atrás, mas fino e frágil.

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Como se ele já fosse uma lembrança. Uma história que eles haviam contado pela metade uma vez e depois perdido. Na sexta-feira à tarde, o último sino da escola tocou, liberando os alunos para um frenesi de preparativos. As risadas ecoavam nos corredores. Os armários bateram com força para comemorar. Os sapatos fizeram um clique. O perfume permaneceu. Ninguém disse seu nome. Nem uma única vez.

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Shirley ficou impressionada com a rapidez com que eles seguiram em frente. A facilidade com que um menino desaparecido se tornava uma nota de rodapé na pressa de se arrumar e dançar. Ela sentiu isso enquanto ajustava o vestido, passava rímel nos cílios trêmulos e tentava sorrir para as fotos dos pais. Richard deveria estar aqui esta noite.

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Se as coisas estivessem normais, ele teria ajustado a gravata de forma desajeitada e rido de si mesmo. Ele teria ensaiado uma conversa fiada em sua cabeça. Ele teria perguntado a uma daquelas garotas novamente, talvez, se tivesse tido coragem. Mas, em vez disso, a ausência dele era como um machucado que ela continuava a esbarrar. Seus pais lhe disseram gentilmente: “Tente aproveitar esta noite, querida”

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Ela assentiu com a cabeça, mas as palavras passaram por ela como vento. Quando chegou ao local do evento, o ginásio da escola havia se transformado em um cenário cintilante e glamouroso, com luzes douradas e luminárias. As alunas giravam em vestidos brilhantes. Rapazes de terno desajeitadamente afrouxavam suas gravatas. Um arco de balões emoldurava a entrada, alto e ridículo.

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Uma professora recolhia os ingressos na porta, sorrindo alegremente, como se esse fosse um baile qualquer, em qualquer ano, em qualquer noite normal. Shirley examinou a multidão no momento em que entrou. Parte dela se odiava por fazer isso. Mas outra parte, a parte ansiosa e trêmula, sabia que não podia evitar. Ela o procurou. Por via das dúvidas. Ele não estava lá.

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Claro que não estava. Seu acompanhante, um rapaz gentil, mas esquecível, chamado Tyler, pairava ao lado dela tentando conversar sobre o DJ, as decorações, a cabine de fotos. Ela acenava com a cabeça, sorria quando era preciso, mas nada disso se encaixava. Sua mente permaneceu no mesmo espaço vazio perto das portas do ginásio. Esperando.

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O que tornava tudo pior era a injustiça de toda a noite. Dois dos maiores valentões da escola, Amber Lockley e Chase Merrill, estavam praticamente garantidos como rainha e rei do baile. Seus nomes flutuaram em previsões sussurradas durante toda a semana, ditas com uma espécie de certeza resignada:

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“Eles já contaram metade dos votos” “Só o vestido da Amber vai ganhar” “Chase poderia incendiar o ginásio e ainda assim levar a coroa.” Shirley odiava isso. Odiava que os mesmos garotos que tornaram a vida de Richard miserável estivessem prestes a ser recompensados por sua popularidade. Não era apenas errado, era grotesco. Quando a noite chegou ao seu ápice, o riso encheu a sala.

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O ginásio pulsava com a música, os alunos dançavam sem se importar e os professores se aglomeravam em torno da tigela de ponche como se beber dela fosse fazê-los se sentir trinta anos mais jovens. Um grupo de garotas posou dramaticamente sob o pano de fundo “Hollywood Nights”, brilhando sob a luz do flash de alguém. E, no entanto, em meio a todo aquele barulho, algo gelou Shirley.

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Todos haviam se esquecido dele. Há pouco tempo, as pessoas cochichavam freneticamente sobre a visita da polícia, a assembleia, os rumores de que ele havia fugido. E agora? Nada. Ele havia sido apagado, absorvido em segundo plano como se nunca tivesse existido. Shirley tentou se concentrar na tentativa de piada de Tyler, nas luzes que giravam acima deles, na promessa de uma noite normal.

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Mas tudo parecia errado. Talvez fosse a dor que ela sentia toda vez que seus olhos se voltavam para as portas. Talvez fosse o riso forçado que circulava pelo ginásio, um pouco alto demais, um pouco brilhante demais. Ou talvez fosse simplesmente o fato de que Richard deveria estar aqui e não estava.

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A noite se tornou seu ponto mais brilhante e barulhento. Os professores exalaram aliviados com o fato de que nada de desastroso havia acontecido ainda. Os casais posaram para fotos. Alguém derramou ponche vermelho perto da cabine do DJ, causando um pequeno tumulto. O baile de formatura havia entrado em seu caos turvo e dourado. Então aconteceu.

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Um murmúrio se espalhou pelo ginásio, suave, mas inconfundível, uma ondulação de vozes que se moviam e pescoços que se inclinavam. Os faróis varreram as janelas distantes, muito brilhantes, muito brancos, muito elegantes para pertencer a qualquer pai atrasado ou motorista de Uber perdido. Alguém perto do palco sussurrou: “Quem vem ao baile de formatura em um carro como esse?”

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Os alunos se dirigiram instintivamente para a entrada, atraídos pelo zumbido desconhecido do motor de um carro, suave, caro, nada parecido com o que normalmente aparecia no estacionamento de uma escola de ensino médio. Os faróis varreram as janelas do ginásio, cortando a música e o falatório até que as conversas se transformaram em silêncio. Uma porta de carro se fechou. Depois outra.

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Os acompanhantes trocaram olhares incertos e saíram. Por um momento, a porta ficou vazia. Então, as portas se abriram novamente e um silêncio se espalhou pela sala. Uma mulher entrou primeiro. Alta. Elegante. Vestida em um vestido preto que brilhava a cada passo.

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Seu cabelo estava preso em um penteado brilhante e ela se portava com a autoridade tranquila de alguém acostumado com a atenção, não do tipo desesperado e dramático, mas com a presença natural e polida de uma pessoa que pertencia às revistas, não às academias do ensino médio. “Quem é ela?”, sussurrou um aluno. “Ela é famosa?”, perguntou outro, com os olhos arregalados.

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“Ela parece ter saído de uma passarela”, alguém murmurou perto da tigela de ponche. Todas as cabeças se viraram. Até o DJ baixou o volume por acidente. Então, Richard Hale entrou ao lado dela. E os sussurros mudaram instantaneamente. “Esse é… Richard?”, murmurou um garoto, incrédulo. “De jeito nenhum – não pode ser ele”, disse uma garota, inclinando-se para dar uma olhada melhor.

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“Ele parece completamente diferente”, acrescentou outra pessoa, parecendo quase nervosa. Não é que ele tenha se tornado irreconhecível. Era o fato de que, pela primeira vez, ele parecia ser ele mesmo, sem medo. O smoking se encaixava perfeitamente em seus ombros, seu cabelo estava bem aparado e ele caminhava com uma confiança calma que parecia quase irreal naquela sala.

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A elegante mulher ao seu lado se inclinou, sussurrou algo e ele assentiu. Sem hesitar, ele a conduziu até a pista de dança. Os alunos ficaram congelados enquanto eles começavam a dançar lentamente sob as luzes fracas, o vestido da mulher brilhando e a postura de Richard firme e composta. Aqueles que haviam zombado dele o observavam com expressões indiferentes.

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As meninas que o haviam dispensado pareciam desconfortáveis, sem saber o que fazer com a transformação. Alguns professores trocaram olhares surpresos. Shirley não estava confusa ou com ciúmes, apenas extremamente aliviada. Ele parecia saudável. Presente. Firme. Como alguém que não apenas sobreviveu às duas últimas semanas, mas que, de alguma forma, cresceu com elas.

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Ela começou a se aproximar de seu acompanhante, mas parou quando a mulher elegante sussurrou algo mais para Richard. Ele acenou novamente com a cabeça, sorriu levemente e se virou para Shirley. Não em direção a Amber. Não na direção de Chase. Não na direção da multidão que fervilhava de especulações. Para ela.

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A sala parecia abrir espaço naturalmente à medida que ele caminhava, com seus passos sem pressa e seguros. Quando ele a alcançou, o ar no ginásio parecia estranhamente parado. “Shirley”, disse ele suavemente, com uma voz mais firme do que ela jamais tinha ouvido. “Você quer dançar comigo?” Ela nem sequer hesitou. “Sim.”

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Tyler piscou em confusão, mas Shirley lhe lançou um olhar de desculpas antes de deixar Richard guiá-la para a pista de dança. A mão dele era quente, confiante, e ela sentiu sua respiração se acalmar pela primeira vez em dias. Eles se balançaram em silêncio por alguns momentos antes de ela finalmente sussurrar: “Aquela mulher… quem é ela?”

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Os lábios de Richard se curvaram em um sorriso pequeno, quase envergonhado. “Minha tia”, disse ele. “Ela é modelo, faz algumas campanhas importantes, coisas de passarela. Ela brincou que seria meu par no baile de formatura, já que minhas tentativas anteriores… não foram exatamente um sucesso.” Shirley hesitou e, em seguida, fez a pergunta que estava pesando sobre ela há duas semanas.

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“Richard… para onde você foi? Passei em sua casa no dia seguinte. Ela estava vazia. Completamente vazia.” Ele soltou um suspiro tranquilo. “Eu fui para casa. Mas não fiquei muito tempo. Meus pais receberam uma ligação da escola dizendo que eu tinha saído e ficaram furiosos porque os funcionários nem perceberam.

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Eles me pegaram e foram direto para a casa da minha tia. Eles queriam que eu saísse da cidade por um tempo. Um lugar mais calmo” Shirley piscou os olhos. “E a polícia? Eles estavam na escola. As pessoas pensaram…” Ele balançou a cabeça. “Eles nunca foram à nossa casa. O que quer que tenha sido, não foi por minha causa. Pode ter sido alguma reunião, alguma coisa de campanha… apenas o momento errado.”

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“Todo mundo achou que tinha a ver comigo, mas não tinha”, ele suspirou. “Então você estava seguro o tempo todo?”, ela sussurrou. “Seguro e incrivelmente entediado”, disse Richard com uma risada suave. “Principalmente comendo cereais, jogando videogame e fingindo não ouvir meus pais discutindo se a escola era negligente”, acrescentou Richard.

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“Minha tia acabou me arrastando para fora de casa porque, e eu cito, eu parecia ‘uma batata triste’.” Shirley bufou, sentindo o calor entrar em seu peito. Richard sorriu: “Ela não me transformou”, disse ele gentilmente. “Ela apenas me lembrou que eu não precisava me fechar em mim mesmo o tempo todo. O resto… eu tinha que escolher. Eu tinha que aparecer.” Os olhos de Shirley se suavizaram. “Estou muito feliz por você ter aparecido.”

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Ele olhou para ela, firme e agradecido. “E eu estou muito feliz por alguém ter sentido minha falta.” Ao redor deles, os sussurros diminuíram. Os valentões evitavam olhar para ele. Os candidatos ao baile de formatura de repente não pareciam tão confiantes. E Shirley sentiu-se acomodada no momento, algo quente florescendo sob suas costelas.

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A música foi sumindo e a multidão voltou lentamente à sua conversa, embora muitos olhos ainda estivessem fixos em Richard. Os valentões se amontoaram perto do fundo da foto, sussurrando e olhando para ele com zombarias exageradas e altas. Amber estava com eles, sacudindo o cabelo como se fosse a dona da noite. Chase, sua contraparte igualmente detestável, ficava sorrindo sempre que chamava a atenção de Richard.

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Shirley sentiu a mão de Richard se soltar da sua. “Você está bem?”, ela perguntou suavemente. Richard assentiu com a cabeça. “Sim. Acho que já não estou mais me escondendo.” Ele caminhou em direção ao grupo com um passo firme e sem pressa. A conversa morreu no momento em que ele se aproximou. Amber cruzou os braços. “Bem, vejam quem decidiu ressuscitar dos mortos” Chase bufou. “Vestido como se pensasse estar em um filme.”

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Algumas pessoas próximas se viraram para observar. Richard não se mexeu. “Engraçado”, disse ele calmamente, “não me lembro de nenhum de vocês ter se importado com a minha aparência há duas semanas. Vocês estavam ocupados demais rindo para perceber qualquer outra coisa.” Amber levantou o queixo. “E você é muito sensível. Estávamos brincando.” Richard inclinou a cabeça. “Certo. Brincadeiras.” Ele fez uma pausa o suficiente para que as pessoas se inclinassem.

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“Como quando o Chase empurrou meus livros pela escada? Ou quando vocês dois passaram metade do segundo ano decidindo qual apelido me humilharia mais?” O maxilar de Chase se contraiu. “Não se faça de vítima, Hale.” “Não estou agindo como se fosse nada”, disse Richard, completamente firme. “Mas acho interessante que vocês chamem isso de ‘brincadeira’ apenas quando são vocês que estão brincando.”

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Alguns alunos murmuraram em concordância. Alguém sussurrou: “Ele está… realmente certo”, alto o suficiente para que Amber pudesse ouvir. Alguns outros assentiram com a cabeça, quase involuntariamente, como se estivessem esperando que alguém quebrasse o feitiço. Richard não deu tempo para que os valentões recuperassem o equilíbrio. “Você sabe qual foi a melhor parte das últimas duas semanas?”, disse ele, com uma voz leve, mas firme.

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“Perceber que eu não tinha mais medo de vocês. Acontece que no momento em que você para de se importar com o que um valentão pensa… ele perde todo o seu poder.” As bochechas de Amber ficaram vermelhas, não de raiva dessa vez, mas com a inconfundível marca do constrangimento. Ela olhou em volta, esperando que seu círculo habitual a apoiasse. Em vez disso, encontrou olhos arregalados e pés balançando.

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A energia ao seu redor havia mudado, e ela sentiu isso instantaneamente. Chase soltou uma risada curta e desajeitada, do tipo que as pessoas usam quando estão tentando fingir que não estão incomodadas. “Tanto faz”, ele murmurou, acenando com a mão como se Richard não merecesse atenção. Mas quando ele olhou em volta, a reação não foi a que ele esperava: nenhum aceno de cabeça, nenhum sorriso, nenhum apoio.

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Apenas uma coleção crescente de olhares não impressionados. Foi sutil, mas devastador. Os alunos que sempre ficavam perto dos valentões deram um passo para trás em silêncio. Alguém cruzou os braços. Outro olhou para os sapatos. O espaço se ampliou, não dramaticamente, apenas o suficiente para mostrar que algo havia mudado na gravidade da sala. Pela primeira vez, Chase parecia incerto.

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A mandíbula de Amber se contraiu enquanto ela examinava os rostos ao seu redor, tentando encontrar a lealdade que antes considerava natural. Ela não estava lá. Richard deu um passo para trás, não para recuar, mas para encerrar o momento em seus termos. “Não se preocupe”, disse ele suavemente. “Não estou aqui para estragar a noite de ninguém. Só queria que você entendesse uma coisa. Não são vocês que decidem quem importa”

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E então ele se afastou, deixando-os sozinhos sob as luzes fracas do ginásio, expostos de uma forma que nenhum deles jamais havia experimentado. Shirley os observou, atônita. Não era a raiva que pesava em seus rostos agora, era o reconhecimento. Eles não eram mais o centro. Não eram intocáveis. Não eram admirados.

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Minutos depois, quando as cédulas do baile de formatura foram distribuídas, a mudança se tornou inconfundível. Os cochichos se espalharam. Canetas riscadas. E quando os nomes foram anunciados, nem Chase nem Amber ouviram os seus. Os aplausos foram educados, contidos, mas cada aplauso parecia um veredicto silencioso.

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Enquanto isso, do outro lado da sala, Richard nem sequer olhava para o palco. Ele estava rindo baixinho de algo que Shirley disse, relaxado e com os pés no chão de uma forma que ela nunca tinha visto antes. Ele não precisava de uma coroa. Ele já havia vencido a noite.

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