A luz do sol iluminava o convés enquanto John se movia ao redor de Catherine, com a câmera clicando rapidamente. Ele a flagrou rindo, com o vestido de linho levantado pela brisa, uma das mãos apoiada gentilmente em sua barriga. Cada foto parecia uma maneira de guardar uma tarde perfeita com sua esposa.
Mais tarde, sentado ao lado do leme, ele folheou as fotos. O sorriso de Catherine aparecia repetidamente, como imagens de um vídeo caseiro – até que uma imagem chamou sua atenção. Algo escuro pairava logo após a grade. Parecia errado, tanto na forma quanto na cor.
Ele ampliou o zoom. O borrão ficou um pouco mais nítido: uma superfície lisa e preta curvada logo abaixo da água. Era muito mais comprida do que o barco de quarenta pés deles. Não era uma rocha. Não era madeira à deriva. A percepção o atingiu em cheio, sua respiração ficou presa quando a escala ficou clara.
John e Catherine conversaram pela primeira vez sobre fugir em uma terça-feira chuvosa de junho – o tipo de dia em que o chá esfriava antes que você pudesse terminá-lo. Catherine estava com os pés inchados apoiados na mesa de centro, folheando uma lista de ideias de férias rápidas para futuros pais.

John, segurando uma caneca de chá morno, brincou que até mesmo a palavra “fuga” parecia irrealista com tudo o que estava acontecendo – consultas médicas, mensagens de parentes com nomes de bebês e escolha da pintura do quarto do bebê. Mesmo assim, a ideia ficou na cabeça deles.
Alguns dias mais tarde, durante um momento de lentidão no trabalho, John procurou por aluguéis de iates na costa. Naquela noite, ele havia reservado um fim de semana em um veleiro de 12 metros com um convés de sol. Eles pegaram a estrada na sexta-feira de manhã cedo.

Catherine levou mais travesseiros do que roupas, e John trouxe mais lanches do que mapas. A rodovia era tranquila e, a cada hora, mais ou menos, John parava para que Catherine pudesse esticar as pernas perto de postos de gasolina e lanchonetes que cheiravam a café forte e óleo.
Eles cantavam ao som de antigas playlists – músicas da faculdade em que não pensavam há anos. Toda vez que um caminhão passava, Catherine sentia um chute e pressionava a mão gentilmente no estômago. “Está quase lá”, ela dizia, metade para si mesma, metade para o bebê.

A marina ficava escondida em uma pequena enseada, depois dos pontos turísticos. O barco deles, o Sea Glass, estava amarrado no ancoradouro C-12, balançando suavemente na água. Catherine achou que o ranger das cordas soava estranhamente calmante.
O proprietário do barco, um homem mais velho e bronzeado chamado Morales, entregou-lhes as chaves e lhes deu informações sobre o tempo. Ele pareceu aliviado quando disseram que não estavam indo longe – apenas duas enseadas ao norte para ancorar e relaxar.

“Fiquem na baía. O rádio está aqui. Chamem se algo parecer estranho”, disse Morales. John riu. O que poderia dar errado em um local tão tranquilo? Eles partiram por volta do meio-dia. Catherine tirou os sapatos e se apoiou na amurada enquanto John os conduzia para além do cais.
O motor zumbia suavemente até que o vento enchesse a vela, e então tudo ficou quieto, exceto pelo leve tilintar de metal contra metal. A terra desapareceu atrás deles. Eles ancoraram em uma enseada cerca de uma hora depois. Era tranquila – água azul-esverdeada, dunas de areia clara.

O sol estava alto e Catherine se sentia bem, confortável em seu vestido de linho solto. Ela sabia que a gravidez havia mudado sua aparência, mas, naquele momento, sentia-se confiante. John pegou sua câmera antiga e perguntou se poderia tirar algumas fotos para o livro de recordações deles. Ela concordou, mas o advertiu: nada de ângulos estranhos.
Ele tirou algumas fotos casuais – Catherine sentada em um banco, mergulhando os dedos dos pés na água, tirando uma mecha de cabelo do rosto. Depois, ela posou perto da grade com uma mão na barriga e a outra na madeira polida.

John se movia ao redor dela, dando instruções silenciosas e tirando fotos em pequenos intervalos. Depois de alguns minutos, o sorriso de Catherine se transformou em uma careta. “Já chega”, disse ela, abaixando o chapéu.
“Só mais duas”, respondeu John, dando um passo em direção à proa para obter uma foto mais ampla. Depois disso, Catherine afundou em uma cadeira do convés e abriu uma lata de ginger ale. John permaneceu onde estava, percorrendo as fotos na tela da câmera.

A maioria delas era perfeita – ela rindo, o sol iluminando a água atrás dela. Então, uma foto o fez parar. Catherine estava no quadro, mas algo mais estava lá também, no fundo – escuro, estranho, muito perto da costa.
Ele ampliou o zoom. A imagem se separou um pouco, mas a forma não desapareceu. Não era um barco ou uma rocha. Parecia mais suave, maior. Seu estômago se apertou. “Catherine?” Sua voz baixou. Ela arregalou os olhos. “Sim?”

“Venha dar uma olhada nisso.” Ela se ergueu e se inclinou para ver a tela. Mesmo na pequena visualização, a coisa se destacava. Era enorme. Maior que o iate deles – talvez o dobro do tamanho.
Difícil dizer. Ele pairava logo abaixo da superfície, longo e curvado em ambas as extremidades, escuro e úmido. No quadro seguinte, ele se moveu. Não era apenas um truque da câmera. Catherine franziu a testa. “O que… é isso?” John olhou para a água.

Por um segundo, tudo o que ele viu foi a luz do sol dançando nas ondas. Então, algo se ergueu – uma forma escura, lenta e silenciosa – antes de mergulhar novamente. “Ali”, ele sussurrou, apontando. “Perto do banco de areia.” Um calafrio percorreu Catherine, e não foi por causa do vento.
“Pode ser uma baleia, mas elas não nadam tão perto”, disse ela, mais por hábito do que por certeza. “Também não há golfinhos… nada desse tamanho deveria estar aqui.” John não respondeu. A água estava quieta novamente, mas os dois ainda estavam olhando.

Eles ficaram olhando. A água levantou e liberou a forma como uma criatura respirando sob lençóis de seda. Nenhum respingo, nenhum borrifo no espiráculo, nenhuma gaivota voando acima – apenas um silêncio, uma quietude perturbadora. John levantou a câmera novamente, com o polegar pairando, quase com medo de capturar outro vislumbre.
Mesmo assim, ele tirou a foto. A lente captou um brilho fraco. “Talvez seja madeira à deriva”, sugeriu Catherine, mas seu tom não era convincente. “Ou uma rocha exposta na maré baixa?” “Está se movendo”, respondeu John, sem nunca abaixar a câmera.

Outra onda sutil surgiu, como se algo tentasse se soltar e não conseguisse. A água espumou brevemente onde a massa encontrou a areia rasa antes de se acomodar. Catherine abraçou a barriga. “John, se estiver vivo, pode estar machucado. Ou preso.”
Ele passou a mão pelo cabelo. “Deveríamos chamar a guarda costeira.” As barras de sinal em seu telefone piscaram – uma, depois nenhuma. Eles haviam navegado para além da cobertura confiável. O rádio VHF no convés inferior emitia uma estática fraca quando ele girava o botão, mas nenhuma voz era ouvida.

Ele exalou de frustração. Eles estavam sozinhos, ancorados em uma área calma que, de repente, parecia isolada demais. “Vamos puxar a âncora e nos aproximar da marina”, disse ele, com a voz deliberada. “Teremos serviço lá e poderemos relatar o fato. Alguém saberá o que fazer.”
Catherine assentiu com a cabeça, ainda concentrada na forma distante. Ela voltou à tona brevemente e depois afundou. Havia algo de lento no movimento, como se estivesse se debatendo. Ela não sabia explicar o porquê, mas parecia… cansada. Talvez fosse apenas instinto – algum pressentimento que lhe dizia que estava em apuros.

Enquanto John levantava a âncora, Catherine não tirava os olhos da forma escura à frente. Ela parecia estar se aproximando da costa a cada minuto, como se a correnteza a estivesse empurrando. Uma fileira de pássaros estava ao longo das dunas, excepcionalmente quietos, observando.
Com a âncora presa e o motor funcionando, John virou o iate lentamente. O barco se movia suavemente sobre pequenas ondas, mantendo a forma escura bem à vista. Catherine estendeu a mão e tocou a mão dele no acelerador. Ele a apertou rapidamente.

“Voltaremos assim que pedirmos ajuda”, disse ele, embora parte dele não tivesse certeza de que queria voltar. Uma gaivota gritou acima deles, assustando Catherine. John empurrou o acelerador um pouco mais para frente.
Catherine observou a água com cuidado. “Não está apenas à deriva”, disse ela. “Está tentando se mover.” John fez uma pausa em seu trabalho. “Sim… mas podemos ligar quando estivermos perto da marina.” “E se ele não tiver esse tempo?” Sua voz soou preocupada e urgente.

Ela colocou a mão sobre o estômago, como se estivesse captando algo mais profundo do que eles podiam ver. “Olhe para os pássaros. É como se eles estivessem esperando.” A forma se deslocou novamente, rolando ligeiramente, e uma espuma branca borbulhou ao redor dela.
Seguiu-se um som fraco – algo duro raspando contra a areia ou pedra. O barulho deu a John uma sensação ruim. Ele sentiu o gosto de sal no fundo da garganta e algo metálico, talvez medo. “Tudo bem”, disse ele finalmente. “Vamos dar uma olhada – devagar e com calma.”

John fez o Sea Glass avançar. O motor permaneceu em um zumbido baixo. Catherine assumiu o leme, e John foi para a proa, usando binóculos para dar uma olhada melhor. A luz do sol brilhava na água, dificultando a focalização.
Mas a uns 50 metros de distância, a forma ficou mais clara: uma enorme massa negra, lisa e úmida, como pedra polida. Então, ele o viu: manchas brancas perto do que parecia ser uma barbatana. O estômago de John se revirou. “Tem marcas brancas”, ele gritou. “Grandes. Pode ser uma orca.”

Catherine franziu a testa. “Tão perto da costa?” Eles estavam agora a trinta metros de distância. A água era rasa, clara o suficiente para ver faixas de areia abaixo. Se a maré baixasse mais, o animal poderia ficar encalhado.
John olhou novamente pelo binóculo. A pele brilhava ao sol, inconfundivelmente preta, com um oval branco atrás do olho – exatamente como uma baleia assassina. Na cauda, algo estava errado. Uma grossa rede azul estava enrolada firmemente ao redor dela.

Cada contração só fazia com que as linhas cortassem ainda mais a carne do animal. John baixou os binóculos. “Ele está preso em uma rede de pesca.” A mão de Catherine cobriu sua boca. “Se a água ficar mais baixa…” “Ele não vai conseguir”, disse John em voz baixa.
Ele sabia que deveriam chamar a Guarda Costeira. Ele também sabia como as orcas podem ser perigosas. Mas a razão não o estava guiando agora – algo mais estava. Talvez fosse o fato de Catherine estar grávida.

Talvez fosse a ideia de algo indefeso, preso e incapaz de se mover. Ele não podia ignorar isso. “Na pior das hipóteses, ele entra em pânico e quebra algumas de minhas costelas”, murmurou. Ele imaginou manchetes: Pai que morreu tentando salvar uma baleia.
Ele tentou tirar o pensamento da cabeça. Catherine podia ver que ele estava dividido. “John, não podemos libertá-la daqui.” “Não. Mas eu posso entrar na água e cortar a rede.” Sua garganta estava apertada, mas ele já tinha certeza.

Ele forçou um sorriso trêmulo. “Lembra do kit de sobrevivência que eu trouxe? Nunca pensei que teria utilidade para ele aqui.” Ela hesitou, preocupada. “Vista a roupa de mergulho, pelo menos. Mesmo que seja a mais curta.” Ele assentiu e puxou a roupa de mergulho que havia levado por precaução.
Ao lado dela havia uma faca de caça em uma bainha de plástico. Ele a havia trazido para o caso de tentarem pescar. Agora ela tinha um novo propósito. Catherine estabilizou o barco a cerca de vinte metros do lado da baleia, com o motor funcionando em ponto morto. Era perto o suficiente para John nadar, mas longe o bastante – ela esperava – para ficar seguro.

Ele amarrou um cabo de segurança em sua cintura e o prendeu ao barco. A faca parecia estranhamente familiar em sua mão. “Se ele se debater”, disse Catherine, claramente tensa, “você o solta e nada de volta” Ele beijou a mão dela. “Sim, eu prometo. Mas se as coisas derem errado, comece a me puxar.”
Ele entrou na água. O frio o atingiu com força, mesmo com a roupa de mergulho, mas ele avançou com braçadas lentas e constantes. A corda de segurança seguia atrás dele. A quinze metros, depois a dez, ele podia ver o fundo arenoso. A orca não se movia muito – apenas o lento pulsar de seu espiráculo.

Agora que estava perto, ele realmente viu o tamanho dela. Tinha pelo menos 30 pés de comprimento. Sua pele era brilhante e preta, quase como vidro, salpicada de sal. A forma oval branca atrás de seu olho o encarava, imóvel. Ele estava observando, mas não se moveu. Como se estivesse economizando a pouca energia que lhe restava.
John voltou à superfície, com o coração batendo forte. “Calma, grandão”, ele sussurrou, absurdamente. “Nós vamos consertar isso.” Ele se abaixou novamente e traçou a borda da rede. A rede estava tão apertada que cortava a carne, manchando a água com tênues fitas cor-de-rosa.

Fios grossos envolviam a cauda como uma algema, amarrada a um tufo maior preso em pedras escondidas. Entrar, cortar, sair. Simples no papel, letal na realidade. As orcas podiam quebrar o gelo do Ártico com um tapa na cauda; um movimento reflexivo aqui e ele seria polpa.
Isso é coragem paternal ou estupidez? A pergunta soou mais alto do que as gaivotas. Catherine e o bebê precisam de mim inteiro. Ele apoiou a mão enluvada na pele macia. A orca se arrepiou, mas não se curvou. Talvez ela tenha entendido a intenção – ou talvez a exaustão tenha superado o instinto.

John começou a cortar a rede. Os fios de plástico se esticaram e resistiram antes de finalmente ceder. Ele ajustou a empunhadura e continuou a serrar, tomando cuidado para não deixar a lâmina passar muito perto da pele da baleia.
A linha de segurança em torno de sua cintura puxou suavemente – Catherine estava se mantendo firme. Sua presença parecia um segundo batimento cardíaco através da corda. Metade da rede se soltou, flutuando em espirais azuis. A orca se contorceu, sua cauda se moveu levemente.

John ficou tenso, esperando uma reação violenta, mas não houve nenhuma. Quase lá, pensou ele. Ele se abaixou em direção à cauda, com os pulmões ardendo. O último nó estava apertado, preso sob a pele áspera. Ele fez alguns cortes rápidos – dois fios cederam, mas o terceiro se prendeu.
Acima dele, a barbatana da baleia tremia. A água zumbia com um som baixo – talvez um gemido, um grito ou um aviso. John trabalhou mais rápido. Em sua mente, ele ouvia todos os programas sobre vida selvagem que descreviam as orcas como predadores de primeira linha – rápidas, inteligentes e mortais.

Se ela girar, você está acabado. Ele enfiou a faca uma última vez – um estalo. O último pedaço da rede se rompeu. De repente, a orca se moveu, torcendo o corpo com um forte giro. Sua barbatana dorsal alta bateu na superfície, encharcando John com o spray. Ele se encolheu, protegendo o rosto.
Em seguida, a baleia mergulhou para a frente, seguida por um jorro de água e bolhas. John sentiu a pressão como a de um trem veloz passando debaixo d’água. A corda foi puxada com força. Catherine já havia começado a puxá-lo para trás. Ele chutou com força, não querendo ficar preso no caminho do animal.

Na metade do caminho, ele olhou para trás. A orca havia se virado e estava circulando a uma certa distância. Por um momento, ela nadou ao lado dele, com um olho escuro encontrando o seu. Não parecia um agradecimento – apenas consciência. Uma espécie de compreensão.
Em seguida, a baleia se virou e foi para águas mais profundas, com a cauda se movendo com força. Sua barbatana dorsal desapareceu até se tornar apenas uma linha no horizonte. John subiu a escada, com a roupa de mergulho pingando. Catherine o abraçou com força.

Então ela começou a chorar. “Você é louco”, disse ela, rindo em meio às lágrimas. “Louco, mas incrível.” Ele tentou fingir, mas seus joelhos estavam tremendo. “Alguém tinha que fazer isso.” Ela tocou seu rosto. “Eu estava contando cada segundo.”
“E eu estava contando motivos para não largar a faca”, disse ele. O sal ardia em seus olhos, da água do mar – ou talvez não apenas isso. Ele tocou a barriga dela gentilmente. “Acho que isso é um bom treino. Ajudar primeiro, surtar depois.”

O bebê deu um chute em resposta, e Catherine deu um sorriso choroso. Eles mal tiveram tempo de relaxar quando Catherine se enrijeceu de repente. Um pequeno estalo ecoou e um calor se espalhou por seu vestido. Seu rosto ficou pálido. “John… acho que minhas águas acabaram de estourar.”
Por um segundo, John ficou olhando. Então o instinto entrou em ação. Ele a ajudou a subir no banco. “Está bem. Você está bem. Estamos voltando.” Ele ligou o motor e aliviou o acelerador. O iate se moveu, depois deu um solavanco.

Catherine agarrou-se à amurada, respirando lentamente. “Eles ainda não estão fortes”, disse ela, “mas estão chegando” John verificou o medidor de profundidade – raso. A maré estava baixando. Ele apertou o acelerador novamente. Um ruído de moagem ecoou pelo casco.
O iate gemeu e depois parou de se mover. A água ao redor do barco ficou lamacenta. John reduziu o acelerador e deu ré. A hélice se agitou, mas nada aconteceu. “Estamos presos?” Perguntou Catherine. Uma contração cruzou seu rosto.

“Não muito longe, mas sim, precisamos de ajuda.” Ele pegou o rádio: nada além de estática. Seu telefone tinha uma barra, que caiu quando ele tentou fazer uma ligação. “Flare”, ele murmurou. Ele abriu o kit de emergência, pegou o recipiente vermelho e puxou o cabo.
Um sinalizador laranja brilhante disparou para o céu, queimou por um momento e depois se apagou. A enseada ficou em silêncio. Catherine respirava com firmeza, embora o suor brilhasse em sua testa. “Vamos pensar em alguma coisa”, disse ela suavemente.

John se agachou ao lado dela. “Eu deveria ter ficado de olho em quão perto estávamos da parte rasa. Sinto muito.” Houve outra contração. Ela segurou as mãos dele com força até que ela passasse. Eles estavam se aproximando. Opções? Aliviar o barco? Não seria possível sozinha. Chamar? Ninguém estava perto o suficiente para ouvir isso.
Seus pensamentos estavam uma bagunça. Então ele ouviu um respingo. Ele olhou para cima. A água além do banco de areia escureceu. Uma barbatana cortou a superfície – alta e reta. Ele piscou os olhos. “Não pode ser.” Ela se aproximou, desaparecendo e reaparecendo.

Depois, um solavanco. O iate balançou levemente. Catherine arfou. “O que é isso?” Outra cutucada, mais forte. O barco se inclinou. John correu para o lado e olhou para a água. Uma forma negra com um tapa-olho branco e rosado brilhava.
“É ele”, disse John. “A orca voltou.” Ela se virou, pressionou seu corpo contra a lateral do barco e empurrou. O casco se deslocou. A fibra de vidro rangeu. A areia raspou embaixo, mas menos do que antes.

Um terceiro empurrão – mais forte dessa vez – balançou o iate com força suficiente para fazer algumas garrafas soltas rolarem pelo chão da cabine. O casco se deslocou, arrastando-se sobre a areia. A pulsação de John acelerou a cada solavanco. Ele se inclinou sobre a amurada e fixou os olhos na baleia, a apenas alguns metros de distância.
“Continue”, disse ele, com a voz baixa. “Só mais um pouco.” A orca recuou, ganhou impulso e bateu seu corpo contra o casco uma última vez. O barco sacudiu e depois se levantou. O medidor de profundidade aumentou – quatro pés, depois sete, depois nove.

Águas mais claras e profundas rolaram por baixo deles. O Sea Glass flutuou livremente. John foi para o leme e empurrou o acelerador suavemente para frente. A quilha passou por centímetros do banco de areia. Ele manteve a mão firme, embora sua mente já estivesse à frente – Leve Catherine para o cais. Peça ajuda agora.
Atrás deles, a orca veio à tona novamente. Ela seguiu de perto, com sua barbatana alta cortando a água no mesmo ritmo do movimento do barco. “Ela está nos escoltando”, disse Catherine, com a respiração fraca. Sua voz oscilava tanto de dor quanto de admiração.

Outra contração apertou seu rosto. Ela estremeceu, mas manteve o foco na água. “Agradeça a ele.” John não conseguia falar. Sua garganta estava apertada. Em vez disso, ele levantou a mão, em agradecimento silencioso. A orca se levantou brevemente a bombordo e, em seguida, mergulhou nas ondas novamente, acompanhando o ritmo deles.
Quinze tensos minutos depois, a marina foi vista – barcos de resgate laranja brilhantes balançando perto do quebra-mar. Quando o Sea Glass se aproximou, a orca deu uma volta, com a barbatana dorsal fazendo um arco final amplo. Em seguida, ela se virou e se afastou, desaparecendo em águas abertas.

John cortou o acelerador e começou a acenar e gritar por ajuda freneticamente. Um estivador correu em direção a eles. Os paramédicos chegaram rapidamente, levantando Catherine em uma maca. John os seguiu de perto, com a roupa de mergulho pela metade, ainda pingando, com crostas de sal nas sobrancelhas.
Ele foi deixado do lado de fora da maternidade do hospital. As roupas molhadas se agarravam friamente à sua pele. Ele não conseguia se sentar. Não conseguia pensar direito. Cada minuto se estendia mais do que o anterior. E se o estresse tivesse feito alguma coisa? E se a ajuda tivesse chegado tarde demais?

Ele andava de um lado para o outro no corredor, contando os azulejos, relembrando tudo, desde o resgate da baleia até o sinalizador, passando pela forma como Catherine havia se agarrado ao corrimão com dor. Por favor, fique bem. Ele cerrou os punhos e olhou para as portas duplas fechadas. Nenhuma notícia. Nenhum som. Apenas o zumbido antisséptico do ar do hospital.
O tempo parecia não passar – dez minutos, talvez quarenta – John não tinha ideia de quanto tempo ficou andando pelo corredor até que uma enfermeira saiu e deu um sorriso pequeno e cansado. “Você pode entrar agora.” John a seguiu, com o coração na garganta. A porta se abriu para uma sala iluminada. As máquinas emitiam bipes silenciosos.

Catherine estava deitada em travesseiros brancos, com a pele corada e olhos vidrados, mas claros. Na dobra de seu braço havia uma pequena trouxa embrulhada em tecido hospitalar. “Seu nome é Maren”, ela sussurrou. “Vem de marinus, que significa ‘do mar’ em latim.”
A respiração de John ficou presa. Ele deu um passo à frente e tocou a mão do bebê, com dedos menores do que conchas. “Perfeita”, disse ele com voz rouca. “Ela é perfeita.” Sua voz ficou rouca de alívio. O sorriso de Catherine tremeu de exaustão, mas se manteve firme.

Ele beijou a testa dela, ainda úmida de suor, e depois se virou para a janela. Do lado de fora, o céu havia entrado no início do crepúsculo e o oceano estava pintado com uma mistura de dourado, violeta e azul profundo. Em algum lugar lá fora, a orca nadava livremente.