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“De jeito nenhum…” A voz de Clara tremeu enquanto ela olhava para a filmagem de segurança, com o coração batendo no peito. A mulher na tela – aquela que havia ajudado a criar seu filho, dobrado suas roupas, sorrido em sua cozinha – era uma estranha. O calor de Rosa havia desaparecido. Em seu lugar, algo calculado. Arrepiante.

Ela rebobinou a filmagem várias vezes, desesperada por clareza. Mas cada quadro a deixava mais inquieta. Os movimentos de Rosa eram lentos. Intencionais. Seus olhos se demoravam demais. Suas mãos pararam onde não deveriam. Havia algo estranho – algo que Clara não conseguia nomear, mas estava lá. E estava crescendo.

“Meu Deus”, Clara sussurrou, mal conseguindo respirar. “O que você está fazendo?” A realidade abalou a confiança que ela havia construído ao longo dos anos. Não era paranoia. Não era projeção. Era algo muito mais perturbador. Clara rebobinou novamente, com as mãos trêmulas, precisando de respostas. Mas ela já sabia – no fundo, ela sempre soube. “Isso não pode ser real…”

Para Clara e Marc Bellerose, a vida não era fácil – mas era intencional. Eles se conheceram durante um estágio em Amsterdã, dois jovens de vinte e poucos anos sobrecarregados de trabalho brigando pelo último café expresso na sala de descanso. O que se seguiu foi uma conexão estável e tranquila, baseada em ambições compartilhadas e longas noites no escritório.

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Clara foi para a área de branding, Marc para a de arquitetura. Os primeiros anos estavam longe de ser glamourosos – trabalhos freelance, jantares de ramen e prazos apertados -, mas eles estavam construindo algo real. Quando finalmente compraram uma casa em Haarlem, sentiram-se merecedores.

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Então veio Leo, o filho deles, nascido durante uma tempestade em dezembro. Sua chegada trouxe caos, alegria e uma breve e bela quietude. Mas a vida real voltou a se infiltrar – clientes, projetos, pressão. Nenhum dos dois queria abandonar a vida pela qual haviam trabalhado, mas não podiam fazer tudo sozinhos. Foi então que Rosa entrou em suas vidas.

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Calorosa, confiável e quase perfeita demais – ela entrou em cena exatamente quando eles mais precisavam dela. E, por um tempo, tudo parecia funcionar. Ela havia sido altamente recomendada pelo colega de Marc, alguém em quem ambos confiavam. “Ela é um unicórnio”, disse a mulher. “Quieta, respeitosa, nunca se atrasa. Você nem vai perceber que ela está lá, até que tudo esteja magicamente pronto.”

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Quando Clara conheceu Rosa, ela não tinha certeza do que esperar. A mulher que estava à sua porta tinha cabelos grossos e castanhos presos em um coque baixo, uma sacola de lona pendurada no ombro e um ar de calma tão fundamentado que parecia quase fora de lugar em sua casa apressada.

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“Eu trato cada casa como se fosse minha”, disse Rosa suavemente, com um pequeno sorriso nos lábios. E, desde o início, ela cumpriu essa promessa. Ela não era apenas eficiente – ela era intuitiva. Os pisos brilhavam, a roupa suja se dobrava sozinha, os brinquedos reapareciam ordenadamente organizados por cor.

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Rosa nunca interrompia. Trabalhava com foco silencioso e, às vezes, até deixava pequenas anotações – o aquecedor de mamadeira do Leo não estava esquentando direito hoje, eu o desliguei e limpei por precaução. O que mais surpreendeu Clara foi a maneira como Rosa lidou com Leo.

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Ele se afeiçoou a ela instantaneamente. Não houve lágrimas, nem birras. Ela lia para ele em espanhol, cantarolava velhas canções de ninar que Clara não reconhecia e, de alguma forma, conseguia mantê-lo entretido por horas sem recorrer a telas. Logo, Rosa não era apenas uma parte da rotina deles.

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Ela era a rotina. Clara não conseguia se lembrar de como era a vida antes dela. No dia seguinte, em uma tarde de quinta-feira, Clara decidiu levar Leo ao parque. O sol estava surpreendentemente quente para a primavera. O ar fervilhava com as risadas das crianças e o zumbido distante do gerador de um carrinho de café.

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Clara sentou-se em um banco perto da caixa de areia, tomando seu café com leite de aveia e observando Leo cavar com uma concentração intensa que só as crianças pequenas conseguem reunir. Ela não notou Simone até que ela estava bem ao seu lado. “Clara!” A voz de Simone era doce como xarope, sempre meio tom a mais de entusiasmo. “Já faz tempo. Como você está?”

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Clara sorriu educadamente. Simone fazia parte do circuito social da vizinhança – sempre organizando encontros para brincar, eventos para arrecadar fundos, degustações de vinho que ninguém pedia. Clara não tinha nada contra ela, na verdade. Ela só não gostava de conversa fiada envolta em agressão passiva. “Estou bem”, respondeu Clara. “Só estou dando um tempo no trabalho. O Leo precisava de um pouco de ar.”

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Simone seguiu seu olhar para a caixa de areia. “Ele está ficando tão grande. Ele tem o quê, três anos agora?” “Dois e meio”, disse Clara. “Ah, claro.” Simone tomou um gole de seu smoothie, depois se inclinou ligeiramente. “E a Rosa está cuidando da casa, eu presumo?” Clara piscou os olhos. “Sim, ela está.” Os lábios de Simone se curvaram em um meio sorriso. “Ela é… muito bonita, não é?”

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O comentário pegou Clara desprevenida. “Acho que sim”, disse ela com cuidado. “Quero dizer, sim, ela é atraente. Por quê?” “Ah, nada”, disse Simone com falsa inocência, acenando com a mão. “É só que – bem – você sabe como alguns maridos são.

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Sempre encontram motivos para estar em casa quando a babá ou a empregada está por perto.” Seu riso era leve, como se ela estivesse brincando. Mas seus olhos estavam fixos nos de Clara. Clara forçou um sorriso. “Marc não é assim.” “Claro que não”, disse Simone rapidamente, colocando uma mão bem cuidada no braço de Clara.

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“Eu não quis dizer seu marido. É que… as pessoas falam, sabe? E Rosa parece muito à vontade em sua casa. Eu a vi passeando com o Leo de manhã. Tão carinhosa. Como se ela fosse a mãe.” Clara sentiu seu estômago revirar, só um pouco. “Ela é muito boa com ele.”

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“Tenho certeza de que ela é”, disse Simone com naturalidade. “Provavelmente não é nada. Eu sempre digo que é bom ficar alerta. Mesmo as situações mais perfeitas… às vezes não são o que parecem.” Com isso, ela se levantou e mostrou um sorriso. “De qualquer forma, deveríamos almoçar logo!”

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Enquanto Simone se afastava, Clara permaneceu congelada no banco, com seu café frio na mão. Ela olhou para Leo novamente – ainda rindo, ainda seguro. Mas o calor do dia de repente pareceu mais fraco. Rosa nunca havia lhe dado um motivo para não confiar nela. Mas agora, pela primeira vez, Clara se perguntava se estava prestando atenção suficiente.

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Clara tentou afastar as palavras de Simone de sua mente. Ela disse a si mesma que Rosa estava apenas fazendo seu trabalho – diligente, atenciosa, maternal, até – mas não inadequada. Ainda assim, algo havia mudado. Era sutil. Mas, uma vez visto, era difícil deixar de ver.

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Começou com a maneira como a postura de Rosa mudava quando Marc entrava em uma sala. Ela ficava um pouco mais ereta. Seus movimentos se tornavam mais lentos, apenas ligeiramente, como se estivesse ciente de estar sendo observada – ou querendo ser. Clara também começou a perceber o momento em que tudo acontecia.

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Rosa sempre parecia estar na cozinha terminando de arrumar as coisas quando Marc descia do banho. Ela estava sempre lá, casualmente posicionada, como se fosse algo orquestrado. Marc não era paquerador. Não abertamente. Mas Clara viu a maneira como sua expressão mudou perto de Rosa.

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Ele sorria com mais facilidade. Ria de pequenas coisas. Comentava com mais frequência sobre como o café estava “perfeito”. Era um pequeno detalhe – mas Rosa sempre respondia com um leve agradecimento e um olhar que se prolongava um pouco demais.

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Certa vez, Clara entrou no momento em que Marc estava entregando a garrafa de Leo para Rosa. Suas mãos se tocaram. Eles riram. Rosa disse algo que Clara não conseguiu ouvir, e Marc sorriu como se estivesse participando de uma piada. O momento foi interrompido no momento em que viram Clara – Marc limpou a garganta, Rosa se afastou. Nenhum deles disse nada. Mas para Clara, aquele silêncio dizia tudo.

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Ela disse a si mesma que estava interpretando demais. Que estava cansada. Que sua mente ainda estava girando com as insinuações de Simone. Mas a intuição não ia embora. Não importava que nada explícito tivesse acontecido – algo não dito havia se enraizado e estava crescendo. Naquela noite, Clara confrontou Marc.

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Eles estavam no quarto, com o tipo de silêncio entre eles que gera tensão. Clara estava de pé perto do armário, cruzando os braços. Marc estava deitado na cama, folheando seu telefone. “Você gosta dela?” Clara perguntou baixinho. Ele não olhou para cima. “O quê?”

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Clara perguntou novamente, com os braços ainda cruzados: “Rosa” Isso chamou sua atenção. Ele se sentou. “Do que você está falando?”, perguntou ele, parecendo perplexo. Era apenas uma encenação? “Eu vi como você é perto dela.” Marc levantou uma sobrancelha. “O quê?” Clara deu um passo à frente.

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Marc piscou os olhos, pego de surpresa. Então ele riu – curto, desdenhoso. “Clara. Vamos lá. Isso é um absurdo.” “É?”, a voz dela permaneceu uniforme. “Você está realmente me acusando de trair você… com a Rosa? Mark se enrijeceu.

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“Eu não disse que você estava traindo”, disse Clara, com o coração batendo forte. “Eu perguntei se você gosta dela. Se você se sente atraído por ela. Se há algo acontecendo que você não está me contando.” Marc exalou bruscamente. “Isso é loucura. Você está sendo paranoico.” Ele disse acenando com um braço na direção de Clara. “Estou sendo observadora”, ela retrucou.

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“Eu noto as coisas. O modo como ela olha para você. O modo como você olha para ela.” Ele se levantou da cama e foi em direção à porta. “Você tem pensado demais em tudo ultimamente. Rosa está conosco há anos. Ela faz parte da casa. Ela ajuda com o Leo. É só isso.”

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Clara o encarou. “Você acha que isso é engraçado?” “Não, acho que é exaustivo”, disse ele, com a voz mais alta. “Você está sempre duvidando de tudo o que eu faço, e agora está transformando a Rosa em uma espécie de… tentadora? Vamos lá.”

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“Eu não a estou transformando em nada!” Clara respondeu. “Mas algo está errado, Marc. Eu sinto isso.” Marc hesitou antes que as palavras saíssem: “Talvez o que esteja errado seja você não confiar em seu próprio marido”

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Isso bateu mais forte do que ela esperava. O peito de Clara se apertou. Sua voz baixou. “Sabe de uma coisa? Talvez eu não confie.” Marc piscou como se tivesse levado um tapa. Ele se virou e saiu da sala sem dizer mais nada.

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Clara ficou ali, respirando com dificuldade, com os punhos cerrados ao lado do corpo. Lágrimas picavam os cantos de seus olhos – mas ela se recusava a chorar. Ainda não. Ela olhou para a porta aberta, e foi então que ela a viu. Um pouco além da borda da parede do corredor, um movimento suave.

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Um fragmento de sombra. Uma bochecha pálida, a borda de um olho observando. E então, inconfundivelmente, a menor e mais perturbadora coisa: um sorriso. Rosa. A respiração de Clara ficou presa. A sombra desapareceu em um instante. O corredor estava vazio novamente. Ela piscou os olhos. Será que ela realmente viu aquilo?

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A briga ficou acirrada nos dois dias seguintes. Marc lhe deu espaço, dormindo no quarto de hóspedes, evitando o confronto. Clara também não tocou no assunto novamente – não porque acreditasse nele, mas porque não sabia como continuar a conversa sem se desvencilhar.

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Havia muito a dizer e nenhuma boa maneira de dizer. Mas aquele sorriso que Rosa deu a eles – isso ficou com ela. Não foi um mal-entendido. Não foi uma projeção. Era algo calculado. Divertido. Ela tinha ficado feliz em vê-los lutando. E Clara não conseguia afastar o pensamento de que Rosa queria que ela visse.

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Clara sentou-se na cama muito depois de Marc ter adormecido, iluminada apenas pelo brilho azul de sua tela. Câmeras acionadas por movimento. Câmeras escondidas de babás. Backups na nuvem. Ela não sabia o que estava procurando – prova de traição? Manipulação? Algo pior? Ela clicou em Add to Cart sem hesitar.

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A caixa chegou dois dias depois. Clara esperou até que Marc saísse para o trabalho e instalou as câmeras por conta própria – uma acima da porta da cozinha, outra inclinada em direção à sala de estar, uma terceira perto do corredor dos quartos. Nada evidente. Apenas o suficiente para capturar o que ela precisava, se houvesse algo para capturar.

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No início, ela verificava as imagens obsessivamente. Todas as noites antes de dormir. Todas as manhãs, antes do café. Mas tudo o que ela via era Rosa dobrando a roupa, varrendo o chão, cantarolando baixinho para si mesma. Marc entrava e saía como sempre – sorridente, distraído, sem nunca passar dos limites. Nada incriminador. Nada mesmo.

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Marc era… normal. Talvez normal demais. Ele beijou o rosto dela antes de sair, reabasteceu seu café e até lhe enviou um meme no meio da manhã. Sua cordialidade parecia roteirizada. Praticado. E a Rosa? Ela ainda cantava enquanto limpava. Ainda perguntava a Clara sobre seu dia. Ainda arrumava os brinquedos de Leo no lugar como uma segunda mãe.

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Clara observava as duas – em tempo real, em sua tela e pessoalmente. E ainda assim, ela não conseguia se livrar disso. A maneira como os olhos de Rosa olhavam para Marc quando ele passava. A maneira como Marc se demorava na cozinha mais do que o necessário. Era sutil. Frustrantemente. Ela estava em uma espiral – e sabia disso.

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Naquela tarde, Clara foi até o pátio dos fundos e ligou para sua irmã. Sua voz estava rouca. “Acho que estou enlouquecendo”, sussurrou ela, esfregando as têmporas enquanto Leo cochilava no andar de cima. “Você não está louca”, disse Julia gentilmente. “Você está exausta. Está com medo. Há uma diferença. Não há problema em perder o equilíbrio.”

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Clara suspirou, passando a mão pelo cabelo. “Estou duvidando de tudo. Cada sorriso, cada tom de voz, cada meia que vai parar na gaveta errada. Até instalei câmeras.” Houve uma pausa do outro lado da linha. Então a voz de Julia se suavizou. “Clara…”

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“Eu só precisava saber. Mas agora estou vendo as filmagens e não há nada. Nada! Rosa é apenas Rosa. O Marc é só o Marc. E eu pareço a louca que está entrando em uma espiral.” Julia soltou um suspiro lento. “É normal pensar demais quando algo é tão importante.

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Você está protegendo sua casa. Sua família. Mas Clara, não se perca nisso. Você pode ser cuidadosa sem desmoronar.” Clara piscou de volta para o ardor em seus olhos. “E se eu já estiver desmoronando?” “Você não está. E você não vai. Você é forte, certo?” Clara assentiu com a cabeça, embora sua voz estivesse trêmula. “Está bem.”

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Naquela noite, a casa entrou em seu ritmo habitual. Rosa já havia saído. Leo, cansado de sua brincadeira, foi dormir cedo. Marc sentou-se na sala de estar com seu iPad, com os pés para cima e fones de ouvido. No andar de cima, Clara dobrava a roupa suja, movendo-se no silêncio como se estivesse no piloto automático.

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Ela tirou uma das camisas de Marc da pilha – branca, recém-lavada, mas algo a fez parar. Ali, logo abaixo do colarinho, havia uma mancha fraca. Ela se aproximou da lâmpada de cabeceira, levantando o tecido em direção à luz. Não era poeira. Não era sujeira. Era rosa. Sutil. Desfocado. Batom.

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Seu coração bateu mais forte. Ela aproximou a camiseta do rosto, com a descrença apertando seu peito. Aquele não era o tom dela. Ela nunca usava batom assim. Ela hesitou, depois inspirou – e seu estômago caiu. Um perfume suave e floral se agarrou ao tecido. Não era dela, mas definitivamente familiar… Era de Rosa.

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Clara ficou imóvel, segurando a camisa com dedos trêmulos. Por um longo momento, ela ficou apenas olhando para ela. Então, algo em seu interior se rompeu. Ela se virou, desceu as escadas rápida e bruscamente, seus passos eram altos o suficiente para fazer Marc levantar os olhos do sofá, assustado.

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“Marc”, disse ela, jogando a camiseta para ele. Ela caiu em seu colo. Ele piscou, depois a pegou lentamente, confuso. “O que é isso?”, ele perguntou. “Diga-me você”, disse Clara. “Vá em frente. Diga-me de quem é esse batom. De quem é esse perfume.”

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Ele examinou a camiseta e depois olhou para ela. “Clara, eu realmente não sei. Talvez tenha saído na lavanderia…” “Não”, ela interrompeu. “Não me insulte dessa maneira. Esse é o perfume da Rosa. Esse é o batom da Rosa. Por que isso está na sua camisa?”

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Marc se levantou, segurando o tecido como se ele pudesse oferecer uma resposta. “Isso é ridículo. Você está exagerando em algo pequeno.” A voz de Clara oscilou, com raiva e medo. “Porque é disso que eu tenho medo. Tenho visto a maneira como você age perto dela. E agora isso?”

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“Eu não fiz nada de errado”, disse Marc. “Estou aqui todos os dias. Cuido do Leo. Eu trabalho. Nem sequer tenho tempo para mim e agora você está me acusando de traição?” Os punhos de Clara se fecharam em seus lados. “Então explique a camiseta, Marc. Explique o modo como você olha para ela.”

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“Você é paranoica, Clara. Você está paranoica há semanas”, disse ele. “Você deixou que alguns desses pensamentos envenenassem sua cabeça e agora eles se transformaram no que você está fazendo agora.” “Estou perseguindo a verdade!”, gritou ela. “Porque algo está errado e estou cansada de fingir que é só coisa da minha cabeça!”

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Suas vozes se elevaram, agudas e amargas, chocando-se uma contra a outra. A tensão que havia se acumulado durante semanas era agora fogo entre eles – cru e selvagem. E então, do corredor, uma pequena voz atravessou o caos como um vidro.

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“Mamãe?” Os dois congelaram. No pé da escada estava Leo, agarrado ao corrimão, com as mangas do pijama muito compridas e os lábios trêmulos. “Por favor, não brigue”, ele sussurrou. O coração de Clara desabou em seu peito. Ela correu para lá, ajoelhou-se e o puxou para seus braços. “Sinto muito, bebê”, ela murmurou, beijando o cabelo dele. “Não queríamos assustá-lo.”

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Marc passou a mão pelos cabelos e soltou um suspiro trêmulo. “Vou colocá-lo de volta na cama.” “Não”, disse Clara suavemente. “Vamos fazer isso juntos.” Quando Leo estava dormindo novamente, eles ficaram do lado de fora do quarto dele, o silêncio entre eles não era mais hostil – apenas pesado.

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Marc se virou para ela. “Isso não pode continuar.” Clara assentiu com a cabeça, sua voz calma. “Eu concordo.” Eles desceram as escadas lentamente. Ela se sentou no sofá. Ele a seguiu. “Preciso ser honesta com você”, disse ela. “Não estou apenas observando a Rosa. Tenho observado… a nós. Coloquei câmeras na casa.”

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Marc ficou olhando. “Cozinha. Corredor. No andar de cima”, ela continuou. “Não se tratava de pegar você. Era para não me sentir como se estivesse perdendo a cabeça.” Ele não falou por um longo tempo. Então, finalmente, disse: “Tudo bem. Vamos dar uma olhada” Clara piscou os olhos. “O quê?” Ele se inclinou para frente.

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“Vamos ver a filmagem juntos. Se houver alguma coisa, nós a veremos. Se não houver nada… então vamos parar de deixar que isso nos separe.” Clara exalou lentamente. “Está bem.” Ela abriu o laptop e o conectou à TV.

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A sala de estar piscou com registros de tempo congelados e o zumbido suave da transmissão de segurança. Clara clicou em Reproduzir. Eles assistiram em silêncio. A sala de estar: Rosa dobrando a roupa suja. A cozinha: Rosa preparando uma bandeja de frutas para Leo. O corredor: Rosa passando pelo cabide de casacos.

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Clara avançou rapidamente, ocasionalmente diminuindo a velocidade quando algo parecia errado – mas a maior parte era normal. Até que ela parou na filmagem do dia anterior. “Espere”, ela murmurou. Rosa tinha acabado de entrar no quarto deles, sozinha, segurando uma pilha de roupa suja dobrada. Mas suas mãos estavam vazias quando ela saiu.

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Marc se inclinou enquanto Clara rebobinava alguns segundos. Rosa colocou o cesto na cadeira e se aproximou lentamente do guarda-roupa. Ela o abriu. Seus olhos examinaram o conteúdo – e então ela tirou uma das camisas de Marc. Clara e Marc observaram, em silêncio, enquanto Rosa a segurava.

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Rosa aproximou a camisa de seu rosto. Ela abriu um batom, inclinou-se para frente e passou-o suavemente na gola – quase como um beijo. Então, como se estivesse dominada por algo, ela abraçou a camiseta em seu peito. A pele de Clara ficou arrepiada. A boca de Marc se abriu, mas nenhuma palavra saiu.

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“Mas o que…?”, ele começou, com a voz baixa. Clara não respondeu. Ela não podia. Eles continuaram observando enquanto Rosa dobrava a camisa novamente, de forma organizada, e a colocava no fundo da pilha. Depois, ela se recompôs e saiu da sala como se nada tivesse acontecido. A filmagem tinha registro de data e hora. Naquela mesma manhã.

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O coração de Clara bateu forte. “Essa foi a camiseta que eu encontrei. Aquela pela qual brigamos.” Marc se inclinou para trás, atônito. “Ela armou uma cilada para nós. De propósito.” Os olhos de Clara se estreitaram. “Verifique o escritório em seguida.” Ela percorreu horas de filmagem até parar novamente – Rosa, entrando no escritório de Clara, sozinha.

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Dessa vez, Rosa não se preocupou em fingir. Ela olhou em volta e, em seguida, tirou algo de seu avental. O estômago de Clara se revirou. A câmera captou um brilho – um pequeno objeto colocado atrás da mesa, perto do rodapé. Rosa o ajustou, se afastou e saiu.

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Clara não esperou. Ela correu para o escritório, com o coração acelerado. Uma rápida busca atrás da escrivaninha revelou o objeto – um elegante colar de prata. Simples. Caro. Definitivamente não era dela. Ela o trouxe de volta para o andar de baixo, com a mão trêmula. “Ela está plantando coisas”, disse Clara em voz baixa. “Para mexer conosco.”

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Marc ficou olhando. “Ela queria que nós brigássemos. Para nos separar.” “Vamos verificar o banheiro em seguida”, Clara sussurrou. “Na noite anterior à primeira discussão.” Eles voltaram para a filmagem, rolando até a noite em que Clara se lembrava de ter encontrado algo estranho.

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Rosa estava no banheiro, limpando a pia. Ela fez uma pausa, enfiou a mão no bolso e discretamente colocou algo pequeno atrás da torneira. Clara não precisava ver mais nada. Ela sabia o que era – apenas outro objeto suficiente para começar uma briga. Seus dedos se fecharam em punhos.

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“Ela me fez pensar que eu estava perdendo o controle”, disse Clara, com a voz um pouco acima de um sussurro. “Que você estava me traindo. Que eu não podia confiar em mim mesma.” A expressão de Marc escureceu. “Vamos levar isso para a polícia. Agora mesmo.” Clara assentiu, com o peito apertado. “Não há como saber até que ponto ela já fez isso antes.”

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Eles imprimiram fotos da filmagem, pegaram o colar e o brinco e foram para a delegacia de polícia local. Clara se preparou para a dúvida. Para perguntas. Mas a policial que encontraram não perguntou muito – ela apenas ficou quieta enquanto estudava a foto de Rosa no celular de Clara.

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A policial então desapareceu em uma sala nos fundos. Quando voltou, parecia séria. “Sua empregada doméstica”, disse a policial lentamente, “corresponde à descrição de uma mulher envolvida em um caso de roubo de identidade que estamos construindo há mais de cinco anos.” Clara e Marc trocaram olhares chocados.

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“Ela tem vários nomes”, continuou o policial. “Geralmente se insere na vida dos casais. Ganha confiança. Semeia a discórdia. E, por fim, drena as finanças ou assume a identidade da mulher se ela sair de casa.” Clara sentiu o chão cair debaixo dela. “Ela estava tentando me substituir.”

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O policial assentiu com severidade. “Vamos lidar com isso. Deixe-a vir amanhã como se nada estivesse acontecendo. Nós estaremos prontos.” Na manhã seguinte, Rosa chegou exatamente às 9:00 horas, como sempre fazia. Ela sorriu ao entrar. “Bom dia!” Clara manteve sua expressão neutra. “Bom dia, Rosa.”

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Marc ficou fora de vista, andando silenciosamente no andar de cima. Clara observou Rosa andando pela casa, cantarolando enquanto ajeitava uma almofada no sofá. Dez minutos depois, bateram à porta. Rosa se virou, confusa. Clara abriu a porta com calma.

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Dois policiais uniformizados estavam na varanda. “Rosa Aguilar?”, perguntou um deles. Rosa se enrijeceu. “Sim?” “Você precisa vir conosco.” Clara viu então – aquele lampejo de pânico. De reconhecimento. Mas isso passou rapidamente. Rosa assentiu com a cabeça, se recompôs e se dirigiu à porta com uma graça prática.

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Ela nem mesmo perguntou por quê. Naquela noite, o silêncio na casa parecia diferente. Mais leve. Marc abriu uma garrafa de vinho. Clara sentou-se no sofá com Leo aninhado ao seu lado, com um desenho animado cantarolando baixinho ao fundo.

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“Então… acabou?”, ela perguntou suavemente. Marc assentiu com a cabeça. “O policial disse que eles vão acusá-la. As provas que apresentamos – além das que eles já tinham – são suficientes.” Clara se inclinou para ele. “Eu fico pensando em quão perto ela chegou.”

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Marc colocou o braço em volta dos ombros dela. “Você a viu. Confiou em seus instintos.” Ela deu um sorriso cansado. “Eventualmente.” Ele beijou sua testa. “Você estava certa, Clara. E agora podemos seguir em frente.” Leo subiu em seu colo, rindo enquanto envolvia seus braços em torno de ambos. E, sem mais nem menos, a casa começou a se sentir em casa novamente.

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