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A corrente desapareceu além da plataforma de coral, engolida pela escuridão que parecia respirar. Elias flutuou acima dela, com bolhas subindo lentamente por seu rosto. A luz de sua lanterna atravessou a névoa azul-esverdeada apenas o suficiente para revelar os próximos elos e, em seguida, nada além de preto. Era como olhar para dentro de uma garganta.

Seu coração batia forte em seus ouvidos, mais alto que o oceano. Todos os instintos lhe diziam para voltar atrás, para subir em direção ao tênue brilho da luz do dia bem acima. Mas a corrente continuava, deslizando pela encosta, impossivelmente longa, impossivelmente imóvel. Ela não parecia esquecida. Parecia colocada.

Então, algo se deslocou abaixo dele. Os elos tremeram, quase imperceptíveis, mas reais, agitando o lodo. Elias ficou paralisado, com os olhos arregalados por trás da máscara. Pela primeira vez desde que chegou ao mar, Elias se sentiu realmente pequeno, suspenso entre a superfície acima e a escuridão abaixo.

O mar naquela noite parecia manso o suficiente para se confiar nele. Uma fina faixa de luz laranja se estendia pela água, do tipo que fazia com que até mesmo as redes quebradas parecessem douradas. Elias conduziu sua traineira em direção às docas, cantarolando baixinho, com o sal secando em seus antebraços.

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Ele ainda era novo na aldeia, estava há três meses, talvez quatro. O tipo de forasteiro que recebia acenos de cabeça, mas não conversas, respeito, mas não companhia. Os antigos pescadores o toleravam, principalmente porque ele pagava suas taxas de atracação em dia e não falava muito. Aqui fora, isso era suficiente.

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Ele tinha ido mais longe do que o normal naquele dia, atrás de rumores de que os cardumes tinham se deslocado para correntes mais frias. A água lá fora parecia diferente. De alguma forma, mais vazia, quieta demais para ser confortável. Ele estava a menos de meia milha da costa quando a traineira sacudiu embaixo dele.

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O convés balançou. Um gemido metálico profundo ecoou pelo casco, seguido pelo rangido agudo do ferro contra a madeira. Elias desligou o motor, com o coração batendo forte, e olhou para o lado. O mar estava calmo, liso, sem interrupções, até que seus olhos viram uma linha mais escura cortando as ondas.

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Uma corrente. Era enorme. Cada elo era largo o suficiente para passar o braço de um homem, com sua superfície descascando com ferrugem da cor de sangue seco. Ela se estendia em ambas as direções, uma extremidade desaparecendo no mar aberto, a outra enterrada sob as águas rasas perto da costa.

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Ele se inclinou e o cutucou com o remo. A madeira bateu no ferro com um estrondo oco. Não era rocha. Não era madeira à deriva. Algo feito. Algo colocado. De volta à praia, a curiosidade foi mais forte do que a cautela. A corrente serpenteava pela praia em uma linha irregular, meio enterrada na areia e nas algas marinhas, antes de desaparecer sob uma crista baixa. O cheiro de sal e ferrugem pairava no ar.

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Ele se agachou e agarrou um dos elos. O metal frio mordeu suas palmas. Preparando-se, ele puxou com toda a sua força: uma, duas vezes, cada vez com mais força. Nada. A corrente não se moveu nem um centímetro. Era como se o próprio oceano a estivesse segurando. Ele a soltou, sem fôlego, e ficou olhando para ela em silêncio. O que quer que estivesse preso, era muito mais pesado do que ele jamais imaginara.

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Elias se endireitou, olhando para o horizonte. O que poderia estar do outro lado? Um naufrágio, talvez. Um compartimento de carga cheio de moedas ou artefatos, engolido há décadas. A ideia era tola, mas despertou algo nele.

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Ele agarrou a corrente novamente, puxou com mais força dessa vez e ela deslizou mais alguns metros. O som que ela fez foi agudo e vivo, como se algo estivesse acordando. Foi então que começaram os gritos. No início, apenas ecos fracos carregados pelo vento e depois vozes mais claras e urgentes.

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Elias se virou e viu três homens descendo a encosta em sua direção, com os rostos desenhados e pálidos, agitando os braços. “Deixe isso!”, gritou um deles. “Pelo amor de Deus, não toque nisso!” Os homens o alcançaram rapidamente, sem fôlego e irritados com a luz que se esvaía.

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O mais velho, de barba grisalha e rosto de sol, apontou a corrente com a mão trêmula. “Você está louco?”, disse ele. “Você quer trazer o mar para todos nós?” Elias piscou os olhos, ainda segurando um dos elos enferrujados. “É uma corrente”, disse ele uniformemente. “Provavelmente de um naufrágio. Nada mais.”

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Os olhos do homem se estreitaram. “Então você ainda não conhece este lugar.” Os outros assentiram sombriamente. Um deles cuspiu na areia. “Dissemos isso ao último também. Ele também não nos ouviu.” Elias franziu a testa. “O último?” O homem de barba grisalha hesitou, depois suspirou.

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“Três dias atrás, um morador local foi procurar o fim daquela coisa. Disse que encontraria o caminho. Levou seu barco para além do cume e nunca mais voltou. Procuramos até a luz se apagar. Encontramos o barco à deriva na manhã seguinte. Vazio.”

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O pescador mais jovem interrompeu, com a voz baixa. “Você quer saber o que ainda estava lá dentro? Seu rádio, suas redes… até mesmo seu almoço. Como se ele tivesse acabado de sair do barco.” Elias olhou para além deles, em direção ao mar. O horizonte estava se transformando em violeta agora, e a corrente brilhava fracamente na luz que estava morrendo, como se estivesse ouvindo.

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“Talvez a correnteza o tenha levado”, disse ele. “Ou uma tempestade.” “Não houve tempestade”, respondeu o ancião. “A água estava calma naquela noite. Plana como vidro. Exatamente como agora.” O grupo ficou em um silêncio desconfortável. As ondas batiam tranquilamente contra a praia, o único som entre eles.

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Por fim, um dos homens murmurou: “Deixe isso para lá, estranho. Nós a deixamos em paz por algum motivo” Quando eles saíram, Elias ficou. Os elos brilhavam úmidos e escuros sob o céu crepuscular, desaparecendo no mar como a cauda de algo vasto.

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Ele disse a si mesmo que era apenas ferro e sal, mas o silêncio que se seguiu parecia vigilante, quase expectante. Naquela noite, no bar do porto, o ar estava cheio de conversas. Uma tempestade de rumores e uísque.

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Elias captou fragmentos entre o tilintar dos copos, a corrente, o homem desaparecido, o mar levando o que queria. O garçom, um homem corpulento com braços como barris, se aproximou quando Elias perguntou sobre o assunto. “Sim, todos estão falando. O homem que desapareceu, o pai de Edwin. O pobre rapaz está se destruindo de vontade de mergulhar atrás dele, mas ninguém o deixa.”

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Elias levantou uma sobrancelha. “E ninguém pensa em procurar de novo?” O barman revirou os olhos. “Nós procuramos. Encontramos o barco dele. Encontramos a corrente, assim como você. Mas um homem desaparecido há duas noites lá fora? Ele não está mais desaparecido. O mar não devolve o que leva.”

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Elias zombou baixinho, empurrando o copo para o lado. “Vocês todos fazem parecer que o oceano está vivo.” “Talvez esteja”, disse o barman. Depois, mais suavemente: “E talvez seja melhor deixá-lo em paz” Mas Elias não podia.

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Ao entrar na noite fria, o som das ondas se elevou fracamente atrás dele, constante como a respiração. Em algum lugar na escuridão além das docas, a corrente o aguardava e ele sabia que estaria de volta pela manhã.

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A manhã veio cinzenta e lenta, o tipo de amanhecer que fazia o mar parecer estanho. Elias se movia com um propósito silencioso ao longo da doca, com sua respiração brilhando no ar frio. Ele carregou seu equipamento no barco: tanques de oxigênio, máscara, nadadeiras, uma lâmpada à prova d’água e uma pequena unidade de sonar que ainda cheirava levemente a óleo.

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As gaivotas circulavam por cima, gritando como avisos que ninguém jamais ouviria. Ele estava apertando a última correia quando passos soaram atrás dele. “Você realmente quer voltar para lá?” Elias se virou. Um homem estava a alguns passos de distância, magro e desgastado, com o rosto enrugado pelos anos no mar. Seus olhos, no entanto, tinham algo de cru, algo de perscrutador.

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“Depende de quem está perguntando”, disse Elias. “Meu nome é Edwin.” O homem se aproximou. “Você estava no bar ontem à noite. Eu o ouvi conversando com Collins.” Elias assentiu com a cabeça. “Então é você que eles não deixam chegar perto da água.” O maxilar de Edwin se contraiu.

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“Meu pai foi o único que foi atrás da corrente.” Sua voz tremeu, mas apenas por um momento. “Dizem que ele se foi. Mas eu não acredito nisso. Preciso saber o que aconteceu.” Elias o estudou, o saco de lona a seus pés, o brilho do metal aparecendo por dentro.

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Equipamento de mergulho. O homem estava falando sério. “Eu mergulho desde que consigo andar”, disse Edwin. “Se essa corrente o levou a algum lugar, quero ver onde. Você está indo para lá de qualquer maneira. Deixe-me ir.” Elias franziu a testa. “Você sabe que todos nesta cidade acham que é suicídio.”

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Um leve sorriso apareceu nos lábios de Edwin. “Então talvez possamos provar que eles estão errados.” As gaivotas gritaram novamente, mais alto dessa vez. O vento aumentou, agitando as bordas do casaco de Elias. Ele olhou para a água, o horizonte plano e prateado.

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Finalmente, ele disse: “Tudo bem. Mas vamos fazer isso do meu jeito. Sem chances. Nada de heroísmo” Edwin acenou com a cabeça. “Não faria de outra forma.” Eles desamarraram as cordas em silêncio. A velha traineira gemeu enquanto se afastava do cais, o som ecoando contra os penhascos.

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Os aldeões observavam da margem. Não com esperança, mas com o tipo de pena reservado àqueles que já estavam meio perdidos. Enquanto o motor roncava e o litoral começava a se encolher atrás deles, Elias olhou por cima do ombro uma vez.

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A corrente brilhava fracamente sob a superfície, correndo em direção às profundezas como uma promessa que ele não tinha certeza se queria cumprir. Elias manteve uma mão no volante e a outra no monitor do sonar. Uma linha verde fraca piscou na tela, a corrente, inconfundível, correndo reta e ininterrupta abaixo deles. “Aí está você”, ele murmurou.

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Eles a seguiram por quase um quilômetro, com o sol brilhando na superfície da água como cacos de vidro. Quanto mais avançavam, mais pesado o ar parecia ficar. Uma vibração profunda, quase imperceptível, se infiltrou no casco, constante e rítmica, como se o mar tivesse um batimento cardíaco.

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Edwin olhou para o barco, mas não disse nada. Elias ajustou o acelerador, mas a vibração só aumentou, pulsando agora em seu peito em vez de nas mãos. Ele exalou lentamente, tentando não demonstrar que isso o incomodava.

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“Essa coisa não acaba”, disse Edwin finalmente. Sua voz era estranhamente carregada pelo vento. “Até onde você acha que ela vai?” Elias verificou o sonar novamente. “Mais longe do que fomos até agora. Veja. Há uma marca sólida à frente. Pode ser onde ele pare.”

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Eles passaram pelo local e desligaram o motor. O mundo ficou em silêncio, exceto pelo silvo suave da água contra o aço. Elias olhou para baixo. A superfície abaixo estava parada, escura, escura demais para a hora do dia. Ele se virou para Edwin. “Você está pronto?”

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Edwin assentiu com a cabeça, fechando a máscara. “Estou esperando por isso há algum tempo.” Eles se moveram com precisão silenciosa. Dois homens se preparando para algo que nenhum deles sabia nomear. O chiado do ar comprimido encheu o ar quando eles fecharam suas máscaras.

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Por um momento, Elias hesitou na borda do barco, olhando para o horizonte que agora parecia infinitamente distante. Então ele se inclinou para frente. Dois corpos cortaram a água, desaparecendo nas profundezas. O mar se fechou ao redor deles como vidro frio.

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Elias controlou sua respiração, as bolhas subindo por seu rosto enquanto ele seguia o feixe de sua lanterna para baixo. A corrente apareceu lá embaixo, enorme, antiga, arrastando-se pelo fundo do mar como a coluna vertebral de algo enterrado vivo.

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Seus elos estavam cobertos de corais e algas marinhas, mas o metal por baixo ainda brilhava em lugares onde a correnteza o havia raspado. Edwin nadou ao lado dele, com suas luzes atravessando a névoa azul. Cardumes de peixes se espalharam quando eles se aproximaram, piscando na cor prata e desaparecendo novamente na escuridão.

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Por um tempo, o único som era o ritmo lento de seus reguladores, que entravam e saíam, firmes como a maré. A corrente se enrolava nos jardins de coral como um ser vivo. Elias estendeu a mão e tocou em um dos elos. Era frio, anormalmente liso sob o crescimento.

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Não era metal comum de navio. Mais denso. Mais antigo. Eles o seguiram pela crista rasa até que o coral começou a se diluir. As cores se esvaíram, substituídas por pedra cinza e areia à deriva. Então, de repente, o chão simplesmente acabou.

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Elias se aproximou, inclinando a lanterna para baixo. O feixe desapareceu no nada. A corrente continuou, caindo diretamente da borda de um penhasco subaquático. Ela desceu em uma escuridão tão completa que parecia engolir a luz inteira.

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Por um longo momento, nenhum dos dois se moveu. Elias podia sentir o peso do mar pressionando seu peito, ouvir o baque de sua própria pulsação em seus ouvidos. Ele se virou para Edwin. Seus olhos se encontraram através do vidro. Ambos sabiam o que o outro estava pensando. O que quer que estivesse esperando lá embaixo não era para ser encontrado.

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Elias levantou a mão, sinalizando para que voltassem. Mas Edwin hesitou, com o olhar fixo na escuridão abaixo, como se algo lá embaixo estivesse chamando por ele. A luz de Elias varreu o fundo do mar. A corrente mergulhou em direção a uma crista recortada que caía em águas abertas.

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Ele sentiu o peito apertar. Eles estavam além da plataforma segura agora, onde o fundo do mar mergulhava por centenas de metros. Ele hesitou. Os tubarões caçavam nessas profundezas, e as correntes podiam se tornar mortais em segundos. Mas a corrente não parou, ela fluiu até a borda do penhasco, desaparecendo no vazio negro abaixo.

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Ele inclinou a lanterna para baixo. O feixe desapareceu antes mesmo de chegar ao fundo. Seu medidor indicava oitenta pés, depois noventa, e ainda não havia nada além de escuridão. Edwin flutuava ao lado dele, respirando com firmeza, com os olhos fixos na corrente.

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Elias fez um gesto para que eles voltassem, mas Edwin apontou para o abismo. A corrente não apenas caiu, ela se curvou ligeiramente, inclinando-se em direção a uma abertura escura esculpida na face da rocha abaixo. Uma caverna. Elias sentiu suas entranhas se revirarem.

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A boca da caverna era estreita, mal dava para um mergulhador passar por ela, e parecia não ter fim. Ele passou sua lanterna pela entrada. O feixe alcançou apenas alguns metros antes de desaparecer em uma névoa verde e espessa de lodo.

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Ele balançou a cabeça bruscamente, sinalizando para se retirar. Mas quando ele se virou, Edwin já estava se movendo. O homem mais jovem se afastou com uma explosão de bolhas, as nadadeiras cortando a água enquanto ele deslizava em direção à caverna. Sua luz desapareceu dentro da caverna antes que Elias pudesse gritar através de seu regulador.

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Elias praguejou, com bolhas saindo de seu bocal. Ele olhou para a escuridão, com todos os instintos gritando para não entrar. Mas a imagem do pai de Edwin, aquele que nunca voltaria, passou em sua mente. E então ele deu um chute para frente. A caverna o engoliu inteiro.

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O túnel se apertou ao redor deles até que a rocha se aproximou o suficiente para raspar seus tanques. A respiração de Elias soava forte em seus ouvidos. Cada chute agitava nuvens de lodo que giravam e pairavam no feixe de sua lanterna como fumaça.

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Era um mergulho traiçoeiro, o tipo de mergulho que não deixava espaço para pânico. A correnteza puxava e girava em torno de suas pernas, e o teto parecia ficar mais baixo a cada metro. O peito de Elias ardia com o peso da água que o pressionava. Ele tentou não pensar na quantidade de ar que ainda restava em seu tanque.

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À frente, a luz de Edwin balançava e tremeluzia, o único ponto de referência na escuridão sem fim. Seus movimentos eram firmes e determinados. Era a única coisa que fazia Elias continuar. Isso e a ideia de não deixar o garoto desaparecer sozinho naquele lugar.

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Depois do que pareceram horas, o túnel se alargou. A correnteza diminuiu e as paredes de pedra se abriram em uma pequena caverna. Os dedos de Elias tocaram em algo sólido embaixo dele, o chão. Ele emergiu em uma bolsa de ar, ofegante.

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Tirou a máscara, com os pulmões doendo, e se virou com o brilho fraco da lanterna de cabeça. O teto da caverna pingava em um ritmo lento. O ar tinha cheiro de sal e ferro. Edwin estava parado na piscina até a cintura, congelado, olhando para algo perto das rochas.

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“Elias”, disse ele, com a voz oca e incrédula. Havia uma pilha de equipamentos perto da parede, tanques, nadadeiras, uma faca enferrujada, tudo escorregadio com o tempo e o sal. Equipamento de mergulho. Não era deles. O pulso de Elias batia forte. “Alguém mais esteve aqui.”

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Antes que Edwin pudesse responder, uma luz cintilou do fundo da caverna. Fraca, instável, como o pulso de uma lanterna morrendo. Eles seguiram a luz em silêncio, com as botas escorregando nas águas rasas, até que o túnel se abriu em uma câmara maior do que Elias havia imaginado.

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A corrente terminava ali, desaparecendo em uma enorme âncora de ferro cravada na pedra. E ao lado dela, meio sentado, meio caído contra a parede, estava um homem velho. Sua barba estava emaranhada, sua pele pálida sob uma camada de sujeira. Seus olhos se abriram ao som de seus passos.

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Edwin ficou paralisado. A máscara de descrença em seu rosto se transformou em algo cru, trêmulo. “Papai?”, ele sussurrou. O velho piscou os olhos lentamente, como se estivesse acordando de um longo sonho. Sua voz saiu trêmula, mal conseguindo respirar. “Edwin…”

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Por um longo momento, tudo o que Elias pôde ouvir foi o raspado e irregular da respiração do velho. De perto, ele parecia menor, pálido e trêmulo, com a roupa de mergulho rasgada em um dos ombros. Elias se agachou ao lado dele. “Você está machucado. Precisamos tirá-lo daqui.”

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Os olhos do homem se abriram. “Não posso”, ele sussurrou. “Minha mangueira de ar se rompeu nas rochas. Perdi a pressão antes de conseguir sair.” Edwin se aproximou, com a voz trêmula. “Você esteve aqui esse tempo todo?”

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O idoso assentiu fracamente com a cabeça. “Três… talvez quatro dias. Encontrei esta bolsa por sorte. Tenho respirado o pouco ar que existe.” O coração de Elias bateu forte. “Você tem sorte de estar vivo.” Ele olhou para os tanques no chão, dois vazios, ambos marcados com as mesmas iniciais gravadas levemente no metal: E.T.

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Então, o instinto o fez verificar seu próprio medidor. A agulha pairava perigosamente perto do vermelho. O de Edwin era o mesmo. “Mal temos o suficiente para o caminho de volta”, murmurou Elias. O velho tentou se sentar. “Deixe-me”, disse ele. “Você não vai conseguir se perder tempo comigo”

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Edwin balançou a cabeça violentamente. “Não vou deixá-lo. Nós encontraremos outra saída.” Um silêncio pesado e desesperado se instalou sobre eles. Apenas o fraco bater da água o quebrou. A luz de Elias varreu a caverna, procurando por qualquer coisa, um túnel, uma fenda, até mesmo uma corrente que pudesse levar para cima.

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Elias apoiou o pai de Edwin enquanto o homem se atrapalhava com o arnês. Seus dedos estavam rígidos, seus movimentos eram lentos devido à exaustão e à desidratação. O tanque do velho estava seco como um osso, e o regulador sibilava inutilmente quando testado.

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Elias soltou o seu e pressionou o bocal na direção dele. “Vamos compartilhar”, disse ele com firmeza. “Você dá a primeira puxada” O homem balançou a cabeça fracamente. “Não…” “Não discuta”, Elias o interrompeu. Ele apertou as tiras ao redor dos ombros do velho, garantindo que a máscara estivesse segura. “Fique entre nós. Respire quando eu tocar em seu braço.”

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Edwin pairou ao lado deles, com os olhos desviando do pai para o estreito túnel de água à frente. “Não temos muito tempo”, disse ele, com a voz trêmula por causa da máscara. “Nossos tanques estão quase secos.” “Então vamos agora”, respondeu Elias.

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Os três deslizaram para baixo da superfície, engolidos pela água negra. A luz de suas tochas oscilava, atravessando nuvens de lodo e pedra fraturada. O túnel se inclinava para cima, uma rampa irregular que serpenteava em direção ao que Elias rezava que fosse água aberta.

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Eles se moviam em movimentos lentos e medidos, trocando o regulador a cada poucos segundos. Cada transferência parecia uma eternidade. Respirar. Passar. Respire. Passar. Na metade do caminho, a corrente se fortaleceu, puxando-os para trás. Os músculos de Elias gritaram quando ele chutou com mais força, puxando o velho para frente com um braço. A pressão em seu peito ficou insuportável.

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Ele olhou para cima e ainda havia apenas escuridão. O velho começou a vacilar, seus movimentos ficaram lentos e sua mão escorregou da parede de correntes. Bolhas escaparam de seus lábios enquanto o pânico cintilava em seus olhos. Elias enfiou o regulador de volta em sua boca, fazendo sinal para que ele respirasse.

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O medidor piscou em vermelho. Os pulmões de Elias pareciam estar pegando fogo. Cada segundo se estendia por um tempo impossivelmente longo. Ele tentou ignorar o aperto na garganta, a dor oca no peito, o pânico crescente que subia por sua espinha.

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Uma sombra passou pelo feixe de sua luz, maciça, suave e deliberada. A forma deu uma volta, silenciosa e lenta. O movimento de uma cauda. O pulso de Elias pulsou forte. O tubarão. Ele não se atreveu a olhar novamente. Ele chutou para cima, arrastando o velho com ele. A pressão o esmagou contra seu crânio. O mundo começou a escurecer nas bordas.

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Então, uma mão, a de Edwin, pressionou um regulador contra seus lábios. Elias inalou uma vez, desesperado, com o ar descendo por sua garganta como fogo e gelo ao mesmo tempo. Eles chutaram juntos, com as pernas queimando, cada golpe alimentado pela sobrevivência bruta. A água acima brilhava levemente, prateada e inalcançável.

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A visão de Elias se afunilou. Seu peito convulsionou. O mundo ficou branco nas bordas. O rugido de seus próprios estertores encheu o ar, selvagem e desenfreado. Elias tossiu violentamente, engasgando com o sal, seu corpo tremendo enquanto ele puxava o oxigênio.

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Edwin veio à tona ao lado dele, arrancando a máscara, com a respiração irregular e irregular. Por um momento, nenhum deles se moveu. Eles flutuaram em silêncio, as ondas batendo suavemente contra o casco do barco próximo, a salvação ao alcance da mão.

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Elias enganchou um braço embaixo do velho e o ergueu, com os músculos gritando enquanto o levantava para o convés. O homem caiu, tossindo, mas vivo. Elias se levantou em seguida, caindo ao lado deles, com o peito arfando. O ar tinha um gosto forte e frio.

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Edwin se agarrou à grade lateral, tremendo incontrolavelmente. Por um longo tempo, não houve palavras, apenas o som do mar, calmo novamente, como se ele não tivesse quase os levado. Elias fechou os olhos e deixou o mundo se estabilizar ao seu redor. Eles haviam conseguido, mas por pouco.

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Quando chegaram à costa, a luz havia se tornado suave e dourada. Os aldeões estavam esperando, atraídos pelo som do motor e pela visão de três figuras caídas no barco. Elias e Edwin puxaram o homem mais velho para a doca, onde a enfermeira correu com cobertores e água. A multidão se afastou, silenciosa.

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“Ele está fraco”, disse a enfermeira depois de verificar seu pulso, “mas ele se recuperará bem o suficiente para começar a reclamar novamente em breve” O alívio se espalhou silenciosamente pela doca. Edwin soltou um suspiro trêmulo, Elias esfregou o rosto e os pescadores próximos começaram a puxar suas redes como se o dia tivesse finalmente voltado ao normal.

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Naquela noite, os três se sentaram do lado de fora da cabana de Elias, com vista para o mar. O vapor subia de suas tigelas de ensopado, levando o cheiro de peixe e cebola pelo ar salgado. O pai de Edwin falou primeiro, com uma voz suave, mas firme.

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“Não era um tesouro”, disse ele. “Era parte de um antigo bloqueio naval. Essas correntes eram colocadas nas baías durante as guerras para impedir a entrada de navios inimigos. Devem ter sido deixadas para trás, enterradas até que as marés as descobrissem novamente.” Elias olhou para o horizonte, onde a água brilhava fracamente à luz da lua.

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“Então era só isso”, disse ele. “Um pedaço de ferro e história que nos mantém no limite.” Edwin deu um leve sorriso. “Pelo menos agora sabemos o que há lá embaixo. Os barcos podem se afastar.” Elias assentiu. Depois disso, os três comeram em silêncio, com as ondas batendo suavemente lá embaixo.

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