Ethan correu pelo corredor em direção ao quarto 314, com o buquê na mão. Ele ainda podia ver o sorriso cansado dela e ouvir o primeiro choro do bebê. O ar era antisséptico, mas, apesar disso, sua alegria aumentava – ele estava voltando para casa, para sua família, e iria comemorar com eles.
A porta estava entreaberta. Lá dentro, uma cama amarrotada, um monitor escuro e um soro não utilizado o saudaram. O berço também estava vazio. Nenhuma respiração suave de um recém-nascido. Apenas a cortina balançando suavemente no cômodo imóvel e abafado.
“Talvez um check-up?”, murmurou ele, confuso, entrando no corredor. Uma enfermeira, que passava apressada pelo corredor, olhou para o quarto vazio e depois para ele, sua expressão se contraindo de ansiedade. O pulso de Ethan acelerou inexplicavelmente. Ele sabia que o que quer que ela estivesse prestes a dizer não seria simples, e não seria uma boa notícia..
O ar da manhã estava úmido, a rua ainda meio adormecida quando Ethan guiou Lina para dentro do carro. A mão dela agarrou a dele, com os nós dos dedos brancos de dor. Eles haviam ensaiado essa viagem por semanas, mas agora o mundo se resumia à respiração, à contração e ao borrão de luzes do hospital à frente.

Na ala de parto, as enfermeiras se moviam como sombras concentradas. Gotas de suor marcavam as têmporas de Lina enquanto ela resistia a cada onda de dor. Ethan permaneceu ao seu lado, murmurando conforto e contando suas respirações. O sinal sonoro do monitor acompanhava seu ritmo difícil. As horas se transformaram em momentos, até que um grito agudo dividiu o ar denso.
Ele olhou para o pequeno pacote colocado nos braços de Lina – rosa, incrivelmente pequeno e vivo. Os olhos de Lina estavam vidrados, mas sorridentes, seus dedos se curvavam protetoramente ao redor da filha. Por um momento, o frio clínico da sala desapareceu, substituído pelo zumbido de algo frágil, perfeito e totalmente novo. Ethan achou que seu peito poderia explodir.

Mais tarde, na recuperação, Lina entrou e saiu de um sono leve. A filha deles estava deitada ao seu lado, enrolada em um cobertor, mexendo-se silenciosamente. Ethan queria marcar o momento de alguma forma, fazer algo mais do que apenas ficar sentado ali segurando a mão dela. Ele pensou em flores. Seria um toque de cor contra o branco do hospital. “Volto já”, ele sussurrou.
A floricultura do outro lado da rua embrulhou lírios brancos e rosas cor-de-rosa pálidas em um tecido macio. Ethan imaginou o sorriso sonolento de Lina quando ela os visse. Ele demorou a atravessar de volta, parando para pegar um café na área de vendas, saboreando a calma estranha e flutuante após horas de intensidade bruta.

A porta do quarto 314 estava entreaberta quando ele voltou. Ele a abriu com um empurrão, primeiro o buquê. A cama estava vazia, com os lençóis amarrotados, ainda segurando o corpo de Lina. O berço estava vazio. Um copo de água meio cheio estava empoleirado na mesa ao lado do cartão fechado. A cortina balançava levemente no ar parado.
Seu primeiro pensamento foi um check-up de rotina. Ele procurou pelo prontuário, por um cobertor, qualquer coisa. Nada. Com o coração batendo forte, ele entrou no corredor, com o buquê amassado em suas mãos. A enfermeira veio tão rapidamente que ele se assustou. “Desculpe-me, minha esposa, Lina, não está em seu quarto.”

O olhar da enfermeira se desviou para a porta aberta e depois voltou para ele, com a ansiedade gravada em cada traço do rosto. “Não conseguimos encontrar a paciente. Estávamos prestes a ligar para você”, disse ela cuidadosamente. Por um momento, Ethan ficou apenas olhando, as palavras lutando para tomar forma em sua mente, recusando-se a se juntar em algo que pudesse ser verdade.
A voz de Ethan se elevou. “Como ela pôde simplesmente ir embora? Ela estava exausta, mal conseguia ficar de pé. E com um recém-nascido?” Sua raiva ardia, mas por baixo dela fervia algo mais sombrio: o medo. Cada segundo que passava parecia um terreno perdido. “Você deveria estar cuidando dela”, ele esbravejou. Algumas pétalas do buquê caíram perto de seus pés.

Uma enfermeira balançou a cabeça, com a culpa nublando suas feições. “Ela não disse nada. Em um momento, ela estava na cama… no momento seguinte, ela se foi.” Ethan sentiu o calor subir por seu pescoço. Ela está cansada, vulnerável e não tem força suficiente para cuidar de si mesma, muito menos do bebê deles. Para onde ela estava indo?
Ele pegou o telefone e discou o número dela. O toque do telefone soou fracamente de dentro do quarto. O celular dela estava sobre a mesa ao lado, com a tela escura. Ela o havia deixado para trás! Aquela não era Lina – não era a mulher que ele havia beijado uma hora atrás. Era alguém… desequilibrado. Alguém correndo sem um plano.

Depressão pós-parto? O pensamento veio sem ser solicitado, absurdo em sua rapidez. Não houve nenhum aviso, nenhuma sombra em seu sorriso. No entanto, como explicar isso de outra forma? Ele a imaginou andando pelos corredores, segurando a filha deles. Um sentimento de pânico o envolveu – o bebê estava com frio? Com fome? Ela estava segura?
Um médico se aproximou, com a voz baixa. “Nós verificamos. Ela não falou com ninguém. O CCTV a mostra saindo pela saída oeste – com o bebê nos braços. Nenhum funcionário percebeu.” As palavras o atravessaram como vidro. Uma fuga escondida. Como se ela estivesse planejando… ou reagindo desesperadamente no momento.

A mente de Ethan girou. Lá fora. Sozinho. Lina, sangrando, tremendo em suas pernas. Um frágil recém-nascido pressionado contra seu peito. Carros. Estranhos. A imprevisibilidade de uma manhã na cidade. O medo o atormentava – e se ela desmaiasse? E se ela entregasse o bebê a alguém? E se eles já estivessem longe?
Ele agarrou o braço do médico. “Chame a polícia. Agora.” A palavra “desaparecido” pairava entre eles como uma maldição. As enfermeiras se dispersaram, uma delas já estava ao telefone. O coração de Ethan batia forte em seus ouvidos. Quinze minutos, talvez vinte – isso era tudo o que levaria para desaparecer completamente. O tempo estava se esvaindo.

Em algum lugar lá fora, Lina estava se afastando cada vez mais dele, da segurança, do sentido. Ethan sentiu o espaço entre cada segundo se esticar como uma fratura. A cada respiração, ele imaginava as coisas que poderiam dar errado. Ele não tinha nenhum plano ou aviso – e agora, também não havia espaço para erros.
Ethan sentou-se na sala de espera apertada que a polícia havia tomado. O buquê foi descartado em algum lugar pelo caminho. Dois policiais o encaravam, com cadernos de anotações prontos. “Comece do início”, disse um deles. Sua mandíbula se cerrou. Eles deveriam estar lá fora, encontrando-a – não se intrometendo em cada segundo da manhã dele.

“Eu já lhes disse”, gritou ele. “Ela estava na cama. Fui buscar flores. Dez minutos, talvez quinze. Quando voltei, nada.” A caneta do policial mais jovem riscava o papel deliberadamente, sem pressa. Do lado de fora, um rádio crepitava, e Ethan pensou nos preciosos minutos que estavam se esvaindo.
“Alguma discussão? Momentos tensos antes do parto?”, perguntou o outro policial. Ethan ficou olhando. “Ela acabou de me dar nossa filha. Você acha que é nesse momento que as pessoas discutem umas com as outras?” Sua voz estava mais aguda do que pretendia. Mas cada pergunta parecia uma acusação. Para ele, parecia que eles estavam construindo um caso, não montando um resgate.

Um policial uniformizado entrou, segurando o telefone de Lina. “Verificamos as atividades recentes”, disse ele, passando-o para o detetive. A tela brilhava com números desconhecidos, linhas de chamadas não atendidas e textos curtos e urgentes da mesma fonte. Ethan se inclinou para a frente, com a inquietação subindo por sua espinha. “Quem é esse?”
Não havia nome ou foto do contato. Apenas palavras: Precisamos nos encontrar. Preciso vê-la, o bebê, hoje. O tempo está se esgotando. Por favor. Ethan engoliu com força. “Eu não conheço esse número. Nunca o vi antes.” Sua mente procurou por familiares, amigos, qualquer pessoa que pudesse terminar frases dessa forma. Mas sua mente ficou em branco.

“Você tem certeza?”, pressionou o detetive. “Absoluta”, disse Ethan. O policial fez uma anotação, sem olhar para ele. “Então precisamos considerar – talvez ela tenha saído por vontade própria, para se encontrar com essa pessoa.” A sugestão o atingiu em cheio. Por vontade própria? Lina, horas após o parto, mancando pelos corredores do hospital? Isso não fazia sentido!
Uma hora atrás, ele estava dizendo a si mesmo que o filho deles tinha o nariz dele e os olhos dela. Ele estava planejando a primeira foto que enviariam à família. Agora tudo era jargão policial, sacos de provas, ligações não atendidas. Ele pensou no berço vazio, na quietude daquele quarto. Um tipo diferente de silêncio se apegava a ele agora.

“Passe o número!” A voz de Ethan era crua. “Descubra quem é.” Mas a calma do detetive era irritante. “Estamos cuidando disso. Essas coisas levam tempo.” Tempo. Essa palavra novamente. Pesada, sufocante, escorregando por suas mãos. Se Lina estava com alguém, por que não contar a ele? Por que sumir sem deixar rastros?
Ele a imaginou do lado de fora, com o telefone frio na mesa de cabeceira, o bebê apertado contra o peito. Caminhando para encontrar um estranho. Ou pior – alguém que ela conhecia, mas que ele não conhecia. Sua mente se revirava em nomes e rostos. Cada espaço em branco parecia uma armadilha esperando para ser acionada.

O detetive empurrou sua cadeira para trás. “Vamos divulgar a foto e o número dela. Fique por perto.” Ethan também se levantou, com as mãos segurando a mesa. “Não, eu vou com você.” Porque ficar sentado aqui com perguntas sem respostas era pior do que correr pelas ruas, era pior do que imaginar cada final possível.
Quando eles saíram, as portas automáticas do hospital se abriram com um sibilo. A luz da manhã entrou, brilhante e limpa demais para o peso oco em seu peito. Em algum lugar, nos infinitos cantos não vigiados da cidade, Lina estava se afastando – e cada pergunta que a polícia fazia parecia apenas estimular seus piores temores.

O detetive mencionou uma busca em casa – “Só para o caso de ela ter ido para lá” Por mais irracional que parecesse, Ethan aceitou a ideia. Talvez ela tivesse entrado, enrolada na cama deles. Talvez essa fosse uma bagunça que a manhã limparia. Ele se agarrou a essa imagem durante todo o caminho para casa.
A rua deles parecia dolorosamente inalterada, com a luz do sol iluminando a entrada da garagem. Ele se atrapalhou com a chave duas vezes antes de a fechadura girar. “Lina?” Sua voz ecoou na quietude. A sala de estar estava exatamente como eles a haviam deixado – a caneca dela na mesa de centro, um cobertor dobrado no sofá. A ausência de passos e risadas fez seu coração disparar.

A polícia se moveu metodicamente, verificando cada cômodo, examinando as superfícies em busca de anotações ou sinais de empacotamento apressado. Ethan ficou parado inutilmente, olhando para o corredor, meio esperando que a silhueta dela aparecesse na porta do quarto. “Não há nada aqui”, murmurou um policial para outro. As palavras eram calmas e assustadoramente finais.
Quando eles saíram, a casa parecia ainda mais vazia, o tique-taque do relógio zombando dele. Ethan fechou a porta atrás deles e ficou ali, olhando para o vazio. Se ela não está aqui… onde ela está? Uma dor se espalhou por seu peito. Ele não sabia se deveria se sentar, gritar ou começar a correr.

Em vez disso, seus pés o levaram até o quarto deles. Ele abriu o armário dela, o lugar onde ela guardava reflexivamente todas as suas coisas – até mesmo as mundanas. O cheiro familiar de amaciante de roupas de lavanda e leves traços de seu perfume se espalharam. Os vestidos forravam o cabideiro, com as cores e texturas de anos passados juntos. Ele estendeu a mão, deixando o tecido roçar em seus dedos, como se a estivesse tocando.
Como um cão farejando, ele continuou procurando algo, qualquer coisa que explicasse as coisas. No chão, meio escondida, estava sua velha caixa de sapatos com lembranças – canhotos de filmes, ingressos e álbuns de fotografias. Fazia anos que ele não a via. Mas, atrás de um emaranhado de botas, algo chamou sua atenção: pedaços de papel dobrados e recibos impressos.

Ele se sentou no carpete, puxando-os para a luz. Eram, em sua maioria, multas de estacionamento e contas de restaurantes, datadas do último mês, algumas de apenas uma semana atrás. Ele não reconhecia esses lugares. Eram do horário de almoço e tinham carimbos de data e hora da noite – todos de quando ele estava no trabalho. Seu pulso acelerou. Por que ela os guardava? Por que escondê-los aqui?
As perguntas se aprofundavam a cada recibo. Um restaurante. Um estacionamento no centro da cidade. Cada detalhe soltava um fio. Essas eram provas de encontros repetidos com alguém – silenciosos o suficiente para passarem despercebidos – até agora. Sua garganta ficou apertada. Ele podia vê-la ali, inclinada em direção a alguém, sorrindo. Alguém que não era ele.

O pensamento surgiu antes que ele pudesse impedi-lo – O bebê é mesmo meu? Isso deixou um gosto amargo em sua boca. Ele apertou os recibos em seu punho, furioso consigo mesmo. Lina estava rindo com ele ontem. Ela havia lhe dado a linda filha deles. Como ele poderia duvidar dela agora?
Ele enfiou os papéis de volta na caixa de sapatos, com a respiração trêmula. Isso parecia ter um início nos eventos, muito antes do hospital e de tudo que destruiu sua vida. Ethan ficou sentado em silêncio, lutando contra a vontade de chamar a polícia. Ele não tinha mais certeza de onde estava a verdade.

Ethan ficou imóvel por alguns minutos depois de encontrar os recibos, com a caixa de sapatos ainda a seus pés. Em seguida, pegou suas chaves. Se a polícia quisesse seguir o protocolo, tudo bem, mas ele não ficaria sentado aqui. Os tíquetes de estacionamento indicavam um endereço. Ele precisava saber, e o faria!
O motor do carro zumbia no calor do final da tarde. Enquanto as ruas passavam embaçadas, sua mente recuou no tempo. Cinco anos atrás, era um emprego diferente, um apartamento menor e menos responsabilidades. E então Lina. Ela apareceu no escritório como a luz do sol que aqueceu seu coração.

Ele estava enterrado em faturas no Departamento de Contabilidade, consciente das risadas que vinham da Publicidade. Lina era o centro silencioso dessa energia. Ela sorria rapidamente e ouvia com atenção. Todos adoravam seu jeito calmo, sua capacidade de se conectar sem nem mesmo tentar.
Eles se conheceram adequadamente por causa de um congestionamento na impressora. Ela riu dos xingamentos dele, desmontou a máquina em segundos e entregou-lhe os documentos como se não fosse nada. Suas mãos cheiravam levemente a loção de lavanda. Ele se lembra de ter pensado – de forma absurda e irreversível – É ela. Vou me casar com ela.

Uma semana depois, durante um café, ela lhe disse que não tinha família. Sua voz era firme, mas as sombras atrás de seus olhos não combinavam com o pequeno sorriso. Um acidente, ela explicou – carros, fogo, despedidas finais engolidas por sirenes. Desde então, ela tem se cuidado sozinha. E ele nunca mais falou sobre o assunto. O que importava era ela.
Eles construíram uma vida tranquila juntos. Nunca houve brigas dramáticas ou ressentimentos ocultos – pelo menos não que ele tenha notado. Lina sempre foi firme, acessível e calorosa – seu lar. Ela se lembrava dos aniversários da família, deixava bilhetes em sua bolsa de almoço e fazia com que as manhãs de domingo parecessem ter roubado um pedaço do céu.

Então, como – e por que – ela conheceria outro homem em segredo? O pensamento ardia. Será que ele era cego? Será que todas aquelas pequenas gentilezas eram um disfarce para outra coisa? Ele agarrou o volante com mais força enquanto a área do bilhete de estacionamento se aproximava em sua tela de navegação.
Localizar o restaurante a partir das notas não foi uma tarefa difícil. O restaurante era pequeno, com luzes de cobre e mesas de madeira escura visíveis pelas janelas. Ele estacionou do outro lado da rua, a garagem multada aparecendo atrás dele, e ficou olhando por um longo momento antes de sair. A data e a hora do recibo ficaram gravadas em sua mente.

Lá dentro, um homem de 50 anos o cumprimentou calorosamente. “É a primeira vez aqui?” Ethan balançou a cabeça, puxando a foto de Lina em seu telefone. “Você a viu? Ela é minha esposa. Você deve tê-la visto por aí.” O alívio se acendeu quando o rosto do homem se iluminou com o reconhecimento.
“Ah, sim”, disse o gerente, sorrindo. “Uma senhora adorável. Sempre educada, sempre tinha tempo para conversar. Ela geralmente vinha sozinha, no final da tarde. Sentava-se perto da janela com chá e um bolo” O peito de Ethan se aliviou um pouco. Sozinha significava que não havia nenhum estranho, nenhuma traição romântica.

“Ela passava por aqui depois de sair do asilo do outro lado da rua”, acrescentou o homem casualmente. Os pensamentos de Ethan vacilaram. “Lar de idosos?” Ele se virou para olhar pela janela, seguindo o dedo que o homem apontava para um prédio de tijolos com portões gradeados e uma placa desgastada pelo tempo.
Não fazia sentido. Lina havia lhe dito – ou pelo menos ele havia entendido – que não tinha família. Ela jurou que tudo havia desaparecido, que tudo havia sido apagado naquele acidente. “Você sabe quem ela visitou?” Perguntou Ethan, tentando manter a voz uniforme, embora sua garganta estivesse apertada.

O gerente se inclinou para mais perto, baixando a voz de forma quase conspiratória. “Não tenho certeza. Ela nunca mencionou a pessoa, e eu não quis me intrometer. Mas deu para perceber que ela se importava muito com a pessoa.” Ethan sentiu as palavras como uma força bruta contra a lateral de seu crânio.
A pulsação de Ethan se acelerou. “Ela parecia chateada, você quer dizer?” O gerente assentiu lentamente com a cabeça, pensando. “Sim, talvez. Ela nunca disse o motivo. Eu não quis me intrometer – ela me pareceu reservada. Mas ficou claro que eles eram importantes para ela. Ela sempre os visitava antes de vir para cá.” A incerteza em sua voz atormentou Ethan.

Até onde Ethan sabia, Lina não tinha família – nenhuma viva, pelo menos. Então, quem era essa pessoa? Por que o sigilo? Que tipo de controle eles exerciam sobre ela? Sua mente começou a tecer possibilidades perigosas: dívida, chantagem, ameaças… Poderia ser algo que a tivesse afastado… ou levado.
Ele tentou pensar racionalmente, mas as possibilidades mais sombrias continuavam surgindo. Se essa pessoa não era da família, por que ela a visitava tão fielmente? E por que ela não podia confiar a verdade a Ethan? A traição foi dolorosa, mas, por baixo de tudo, surgiu outro sentimento, mais agudo e frio. Ele estava com medo.

O medo surgiu por Lina e pelo bebê deles. Se ela havia escondido isso dele, o que mais estava enterrado em seu passado? E se essa conexão misteriosa tivesse algo a ver com o desaparecimento de hoje, então ambos poderiam estar em perigo – talvez até mesmo agora. Ele sentiu que as respostas estavam ficando cada vez mais distantes.
Ethan ficou do lado de fora do restaurante, olhando para o prédio de tijolos do outro lado da rua. Restava apenas uma decisão: voltar atrás e contar à polícia ou enfrentar qualquer verdade que estivesse por vir. Suas mãos se apertaram nos bolsos da jaqueta. Ele não iria para casa sem respostas. Não dessa vez.

Seu telefone tocou. O identificador de chamadas imediatamente detectou que era a polícia. Eles provavelmente haviam notado sua ausência ou descoberto algo novo. Ele deixou o telefone tocar por um segundo, concentrando seus pensamentos, e então atendeu. Ele perguntou, impregnando sua voz com toda a autoridade que conseguiu reunir: “E aí?”
O policial respondeu: “Nada ainda, só liguei para lhe dizer que o manteremos informado e que não faça nada precipitado” Um pouco tarde para isso, pensou Ethan ao interromper a ligação. Ele passou um pouco mais de tempo se decidindo, mas sabia o que tinha de fazer.

Guardando o telefone, ele saiu do meio-fio. Cada passo pela rua parecia mais pesado, como se o próprio ar resistisse a ele. Os portões de metal da casa de repouso estavam abertos, e uma recepcionista estava visível atrás de uma ampla mesa de trabalho. Não haveria como voltar atrás.
Lá dentro, o ar carregava um leve cheiro de antisséptico e flores desbotadas. A recepcionista olhou para cima com uma confusão educada quando ele se aproximou. Ethan tirou o celular do bolso e mostrou a foto de Lina. “Por favor… esta é minha esposa. Ela está desaparecida e tem nosso recém-nascido, com apenas algumas horas de vida.”

Sua voz ficou rouca, suplicando além do orgulho. “Acho que ela está visitando alguém aqui. Poderia me dizer quem? Eu sei que você tem regras de confidencialidade, mas eu lhe imploro – como marido, como pai – por favor.” Todos os músculos de seu corpo ficaram tensos enquanto ele esperava pela resposta.
A mulher franziu a testa. “Eu não deveria…” Ela hesitou, olhando para o corredor. “Houve muita emoção hoje. O Sr. Carrington… ela estava visitando-o.” Ethan piscou os olhos. Carrington? Esse nome não significava nada. Antes do casamento, o sobrenome de Lina era Dawson. A incompatibilidade o chocou, dispersando seus pensamentos em um milhão de novas direções.

“Ela disse que ele era seu pai”, acrescentou a recepcionista gentilmente. As palavras não se encaixavam na mente de Ethan. Ele balançou a cabeça. “Isso é impossível.” Dawson, não Carrington. Nenhuma família viva – ela mesma havia lhe dito isso. A recepcionista estudou seu rosto atônito, depois suspirou suavemente. “Talvez seja melhor você vir comigo”
Ethan a seguiu por um corredor silencioso repleto de portas fechadas. O ar ficou mais pesado, o silêncio foi interrompido apenas pelo barulho suave de um carrinho distante. Sua pulsação latejava em seus ouvidos. Ela parou em uma porta perto do fim. “Ela está lá dentro”, murmurou a mulher.

Ethan entrou e congelou. Lina estava sentada em uma cadeira, com sua filha pequena nos braços. As lágrimas escorriam sem controle por seu rosto. Na cama ao lado dela estava um homem idoso, com os olhos fechados e a pele pálida. A quietude no quarto sinalizava a finalidade da morte.
Por um momento, ele se sentiu aliviado – ela estava a salvo, assim como a filha deles. Ele foi até ela, colocando um braço em volta de seus ombros. Ela soluçou com mais força, segurando o bebê com mais força. “Sinto muito”, ela sussurrou. “Ele simplesmente… ele não existe mais.” Sua voz se embargou na última palavra.

Ethan colocou o bebê em seus braços, segurando-o junto a si enquanto Lina cobria o rosto com as mãos trêmulas. Ele olhou para o homem na cama – Carrington – e tentou reconciliá-lo com a mulher que amava. As perguntas giravam em círculos irregulares dentro de sua cabeça.
Quando a respiração de Lina finalmente se acalmou, ela ergueu o olhar para encontrar o dele. “Eu deveria ter lhe contado”, ela começou. “Mas eu não sabia como.” As palavras carregavam anos de peso, anos que ela havia guardado a sete chaves. Ethan ficou em silêncio, dando a ela espaço para desvendar o nó.

“Minha mãe morreu quando eu era um bebê”, disse Lina. “Papai me criou até… até ser preso. Eu tinha oito anos.” Seu rosto se contraiu. “Prefiro não dizer o nome do crime. Acabei em um orfanato. Quando fiz dezoito anos, mudei meu nome. Não queria que a sombra dele me perseguisse continuamente.”
Seus olhos se voltaram para o chão. “Eu tinha vergonha dele. E ele… ele continuava me escrevendo cartas da prisão, mas eu nunca respondia. Dois meses atrás, ele ligou. Ele havia cumprido sua pena. Ele me encontrou. Eu o conheci… bem, porque… eu estava curioso, eu acho. Afinal, ele era de sangue”

Sua voz vacilou. “Ele me disse que tinha câncer. Não lhe restava muito tempo. Eu não podia simplesmente ir embora e não fazer nada. Eu o trouxe para cá. Não contei a você porque…” Ela vacilou. “Porque achei que isso poderia mudar a forma como você me via. E nós estávamos tão felizes com nossa gravidez. Eu não queria estragar tudo.”
Ethan engoliu com força. “Lina… você achou que eu não entenderia?” Ela olhou para ele com desamparo. “Eu vivi com a vergonha por tanto tempo que me esqueci de como compartilhá-la. E agora…” Seus ombros tremeram. “Ele morreu hoje, mas viu a neta. Isso era importante para ele.”

Ela enxugou o rosto, finalmente parecendo mais leve em meio à tristeza. “Ele queria muito conhecê-la. Eles me ligaram hoje de manhã para dizer que ele tinha piorado, e eu simplesmente não tive coragem de negá-lo. Cada minuto contava. Cada minuto contava. Eu nem percebi que tinha deixado meu telefone para trás até alguns minutos antes de você entrar.”
Ethan pegou a mão dela, entrelaçando seus dedos nos dela. Ele disse: “Eu teria ajudado você a saber. Se eu soubesse o que você estava carregando. Fiquei muito preocupado quando você desapareceu, Lina. Passei o dia pensando no que eu tinha feito para você me abandonar daquele jeito!”

Ela sorriu para ele com tristeza: “Sinto muito” “Sem mais segredos, por favor. É só o que eu peço”, disse ele calmamente. Ela assentiu com a cabeça. Um sorriso exausto e frágil, que mal tocava seus lábios, pairava ao redor de sua boca. O polegar dele passou sobre os nós dos dedos dela, o bebê se mexendo no braço dele.
Eles ficaram sentados assim por um longo momento – pai, mãe e filho – ao lado do homem que havia moldado e assombrado sua vida em igual medida. Ethan ainda tinha centenas de perguntas, mas uma resposta era clara o suficiente: Ela não havia fugido dele, e não iria fugir. Por enquanto, essa era a única coisa que importava.

Ao saírem do asilo para idosos, com o peso da dor ainda pressionando seus ombros, Ethan apertou a mão de Lina. A cidade se movia indiferente ao redor deles, mas ele sabia que a promessa deles era o que mais importava – nada mais de mentiras, nada mais de sombras. Somente a verdade, o amor e o recomeço juntos.