Daniel congelou. As folhas farfalharam. Um galho estalou. Seu pulso acelerou – ele não estava sozinho. Agarrando uma vara resistente que estava por perto, ele esticou os ouvidos, examinando a floresta escura. O que quer que estivesse lá fora, ele tinha que encontrá-lo antes que o encontrasse.
Ele se moveu com cautela, afastando a folhagem espessa, com a respiração lenta e controlada. As sombras tremulavam, mudando com o vento
Ele apertou o punho enquanto seguia o barulho sinistro, suas botas rangendo contra a terra úmida. A vegetação rasteira engrossou, engolindo a luz. Então ele a viu. Sua respiração ficou presa, o coração martelando contra as costelas. A visão diante dele fez seu sangue gelar.
Daniel ajustou as alças da mochila, inalando o aroma fresco de terra úmida e pinheiro. A Evergreen Trail havia se tornado seu santuário, um lugar para clarear as ideias. Seu trabalho como professor o esgotava e seu recente término o deixava inquieto.

O ritmo familiar de suas botas contra a terra batida era reconfortante. A luz do sol se filtrava através da copa das árvores acima, lançando padrões inconstantes no chão da floresta. Os pássaros chilreavam em algum lugar ao longe e uma brisa suave trazia o cheiro de folhas úmidas. Era disso que ele precisava: ar fresco, solidão e a pulsação constante da natureza ao seu redor.
Um som distante surgiu em meio ao farfalhar das folhas. Ele parou no meio do caminho, ouvindo. O som era fraco, mas inconfundível, carregado pelo vento. Seu estômago se retesou. Ele examinou a densa vegetação rasteira e seu coração acelerou.

Daniel já havia passado tempo suficiente caminhando sozinho para saber que a floresta podia ser imprevisível. Instintivamente, ele pegou um galho resistente do chão da floresta. Ele o segurou com determinação, agarrando-o com força. No momento em que ele estabilizou a respiração, o farfalhar veio novamente – mais perto dessa vez. Depois, um gemido fraco, pouco mais que um sopro de som.
Segurando o bastão, ele esticou os ouvidos, examinando a floresta escura. O que quer que estivesse lá fora, ele tinha que encontrá-lo antes que o encontrasse. Ele se moveu com cautela, afastando a folhagem espessa, com a respiração lenta e controlada. As sombras tremulavam, mudando com o vento. Por um momento, nada. Então, um som. Não eram passos. Um suave arrulho. Não natural. Inquietante.

Ele apertou o punho enquanto seguia o ruído inquietante, cada passo rangendo contra a terra úmida. O ar parecia mais pesado, a vegetação rasteira se tornava mais densa, engolindo os últimos vestígios de luz. As sombras se contorciam entre as árvores enquanto ele examinava os arredores, com o coração batendo forte. Havia algo lá fora, mas ele não conseguia ver nada.
Os olhos de Daniel percorreram a densa vegetação rasteira, procurando por movimentos. A princípio, não havia nada – apenas folhas balançando e uma ocasional rajada de vento agitando os galhos. Sua pulsação acelerou. O som tinha sido real, mas de onde tinha vindo? Então, embaixo de um arbusto baixo, algo pequeno e imóvel chamou sua atenção.

Uma forma dourada, pouco visível contra a terra úmida. Ele se aproximou, abaixando a vara quando se deu conta. Era um filhote de cachorro – frágil, trêmulo e enrolado em si mesmo, como se estivesse tentando desaparecer no chão. Um gemido fraco e lamentável escapou de sua garganta.
Daniel se agachou, com o coração apertado diante da visão. O filhote mal reagiu à sua presença. Seu pelo estava úmido, seu corpo tremia como uma folha. Ele estendeu a mão com cuidado, roçando os dedos em sua estrutura minúscula. Um calor febril irradiava de sua pele. Daniel franziu a testa, com a mente acelerada. O que um filhote de cachorro estava fazendo aqui, sozinho no meio da floresta? Não havia cabanas próximas, nem sinais de acampamento. Ele já havia visto cães abandonados antes, mas esse filhote era diferente. Suas feições eram excepcionalmente delicadas.

Seu pelo era mais grosso e sedoso do que o da maioria das raças que ele reconhecia, quase como se não tivesse sido feito para a natureza. E então havia seus olhos – um tom de azul pálido, quase não natural, nublado pela exaustão. Algo nele parecia estranho. Um gemido escapou de seus lábios novamente. O filhote estava em péssimas condições e precisava de ajuda imediata.
“Ei, garotinho”, murmurou Daniel, acariciando as costas frágeis do filhote. Seus olhos se abriram, sem brilho e sem foco. Uma batida fraca de sua cauda fez a garganta de Daniel se contrair. Ele pegou sua garrafa de água e colocou algumas gotas em sua boca. O filhote mal lambeu a água antes de ficar quieto novamente.

Daniel examinou a área, com o estômago apertado. Não havia sinal de mãe ou dono. Esse filhote não havia vagado por aqui – parecia ter sido deixado. Ele exalou bruscamente, com a raiva borbulhando em sua pele. Quem abandonaria um animal indefeso aqui, onde ele não sobreviveria? Isso não fazia sentido.
Seus olhos percorreram a pequena clareira em busca de pistas. Então ele a viu – uma mochila, meio enterrada sob uma camada de folhas úmidas. Sua pulsação acelerou, talvez ela pertencesse ao dono. Engolindo com dificuldade, ele se dirigiu a ela, com o corpo tenso.

Daniel hesitou antes de se agachar ao lado da mochila. O tecido estava gasto, com o zíper meio aberto. Ele a puxou, revelando uma pequena lanterna e um mapa dobrado. Seus dedos roçaram na mochila, procurando uma identificação. A bolsa estava úmida e rígida, e algo escuro manchava a alça.
Ele segurou a bolsa mais de perto, seu estômago se revirando. Uma mancha carmesim. Ele não queria nem pensar no que poderia ter causado isso. Sua pulsação batia forte em seus ouvidos. O que havia acontecido aqui? Sua mente se debruçou sobre as possibilidades, nenhuma delas boa. Ele olhou de volta para o filhote fraco e depois para a bolsa abandonada. Alguém havia estado aqui. Mas onde estava agora?

Um calafrio subiu pela espinha de Daniel. Ele pensou em ligar para a polícia e relatar o que havia encontrado, mas a respiração irregular do filhote deixou sua decisão clara. Ele precisava de cuidados médicos – rapidamente. Ele envolveu cuidadosamente o pequeno corpo em seu casaco de flanela, prendendo-o contra o peito.
Daniel se virou de volta para a trilha, forçando-se a afastar o mal-estar. Suas pernas se moviam rapidamente, esmagando galhos e folhas caídos. Ele não tinha ideia do que havia acontecido aqui, mas uma coisa era certa: o filhote estava em péssimas condições e Daniel precisava buscar ajuda antes que fosse tarde demais

Daniel acelerou o passo, com o suor molhando a parte de trás do pescoço. O corpo do filhote estava assustadoramente imóvel, suas respirações superficiais mal podiam ser notadas sob as dobras grossas de sua jaqueta. Ele não se atreveu a parar. Cada segundo contava. As árvores densas finalmente diminuíram, revelando o estacionamento de cascalho onde seu carro estava esperando.
Ele abriu a porta e colocou o cachorro no banco do passageiro. O motor roncou, os pneus levantando poeira enquanto ele entrava na estrada. Depois do que pareceu uma eternidade, a placa brilhante da Clínica Veterinária Monroe apareceu à distância. Ele mal reduziu a velocidade ao entrar no estacionamento, colocando o carro em ponto morto antes de sair correndo pela porta, com o filhote de cachorro bem apertado nos braços.

Daniel quase tropeçou nas portas da clínica, a campainha acima dele tocando alto. “Preciso de ajuda”, ele ofegou, correndo em direção ao balcão. Os olhos da recepcionista se arregalaram ao ver a trouxa em seus braços, antes de se virar e chamar o Dr. Monroe.
Segundos depois, uma mulher na casa dos cinquenta anos, com olhos afiados e perspicazes e cabelos grisalhos presos em um coque, saiu dos fundos. Seu olhar passou por Daniel antes de se fixar no filhote. Sua expressão era ilegível. “Traga-o para dentro”, disse ela, já se movendo em direção à mesa de exame.

Daniel colocou o filhote no chão o mais gentilmente possível e se afastou para deixar a Dra. Monroe trabalhar. Ela o examinou rapidamente, com as sobrancelhas franzidas. Seus dedos se moviam habilmente sobre a barriga inchada e depois até o rosto, abrindo a boca para verificar as gengivas. Quanto mais ela franzia a testa, mais Daniel se sentia tenso.
“Onde você o encontrou?”, ela perguntou, com a voz cortada. Daniel hesitou. “Na floresta. Perto da trilha de caminhada no leito do rio.” Os olhos dela se voltaram para os dele, examinando seu rosto. Ela assentiu com a cabeça, mas algo em sua expressão havia mudado – algo que deixou Daniel nervoso.

A Dra. Monroe trabalhou rapidamente, suas mãos se movendo com precisão enquanto examinava o filhote. Daniel observava ansioso, com o estômago revirando de preocupação. O cãozinho mal reagia ao toque dela, com a respiração superficial.
A Dra. Monroe exalou bruscamente e depois se endireitou. “Preciso que você espere lá fora”, disse ela, com um tom firme, mas não rude. “Farei tudo o que puder, mas preciso de espaço para trabalhar.” Daniel hesitou, relutante em sair, mas assentiu com rigidez e se afastou.

Ao entrar na área de espera, ele ficou parado do lado de fora da porta, incapaz de se afastar completamente. Através do pequeno painel de vidro, ele ainda podia ver o interior, observando enquanto a Dra. Monroe se movia com urgência, pressionando cuidadosamente as costelas do filhote.
Ela pressionou suavemente a barriga do filhote, franzindo ainda mais a testa a cada toque. Então, sem dizer uma palavra, ela se virou e pegou o aparelho de ultrassom. O pulso de Daniel acelerou. Ele já havia acolhido animais de rua suficientes para saber que isso não era rotina.

A sala se encheu com o zumbido suave do aparelho de ultrassom. A Dra. Monroe passou a sonda sobre a barriga do filhote, com os olhos fixos no monitor. Uma sombra se projetou em seu rosto. Seus dedos ficaram tensos. Um momento depois, ela saiu e virou-se bruscamente para a recepção.
Daniel se sentou mais ereto. “O que foi? O que foi?”, ele perguntou, mas ela o ignorou, discando um número no telefone do escritório. Ela baixou a voz, mas ele captou as palavras: “Sim, preciso de policiais aqui imediatamente… Não, ele não parece saber… Sim, se encaixa. Apenas venha aqui rápido”

Os olhos da recepcionista se voltaram para ele, sua expressão era ilegível. A pele de Daniel se arrepiou. Serve? Serve para quê? O comportamento do veterinário não fazia sentido. Ele só havia tentado ajudar um filhote doente, então por que ela estava chamando a polícia?
“Por que está chamando a polícia?” Daniel exigiu, com a voz mais firme do que pretendia. A Dra. Monroe se virou para encará-lo, com os braços cruzados. “Preciso que você fique aqui e espere um pouco, Daniel. Fique quieto.” A imprecisão na voz dela o deixou ainda mais desconfortável. Por que ela não estava lhe dizendo o que estava acontecendo?

A porta se abriu e dois policiais uniformizados entraram. A presença deles mudou toda a atmosfera da clínica – o ar parecia sufocante. O Dr. Monroe os cumprimentou em voz baixa e os conduziu até o cachorro na sala de exames. As expressões dos policiais escureceram.
Da janela da sala de exames, Daniel pôde ver o policial corpulento dando a Daniel um olhar longo e avaliador. Então, em um movimento lento e deliberado, ele colocou a mão em sua arma de fogo. Daniel ficou com a respiração suspensa. O segundo policial – mais alto e mais jovem – mudou sutilmente de peso, com a mão pairando perto das algemas.

Daniel sentiu uma pontada de pavor. Não se tratava mais apenas de um filhote de cachorro. Ele podia ver isso na linguagem corporal deles. A maneira como olhavam para ele. A maneira como o policial mais jovem acenou com a cabeça depois que o Dr. Monroe sussurrou algo para ele. Daniel se esforçou para captar a conversa deles.
Um calafrio percorreu a espinha de Daniel. Sua mente se acelerou. Eles achavam que ele estava envolvido. Talvez acreditassem que ele havia machucado o filhote. Talvez suspeitassem de algo pior. Ele não tinha provas de que era inocente. Nenhuma testemunha. Nenhuma maneira de explicar o que havia acontecido. Ele já estava imaginando o que aconteceria.

Seus pensamentos se voltaram para a mochila manchada. Mesmo que ele os levasse até a clareira para provar sua inocência, ele não tinha ideia de a quem ela pertencia ou o que havia acontecido lá. E se a polícia acreditasse que ela estava ligada a um crime? E se decidissem que ele era o único suspeito?
Ele não tinha ideia de a quem pertencia a mochila e o que havia causado a mancha carmesim. E se a mochila pertencesse a uma pessoa desaparecida? Daniel tinha acabado de ficar com pena de um cachorro machucado, mas não tinha nenhuma evidência para provar isso. Ninguém tinha visto Daniel caminhando sozinho por ali e muito menos encontrando o cachorro naquele estado.

O peito de Daniel se apertou, seus dedos agarraram a borda de seu assento. A tensão no ar era sufocante. Ele podia sentir o peso dos olhares deles, como mãos invisíveis que o pressionavam. Cada olhar, cada palavra sussurrada entre os policiais e o Dr. Monroe lhe causava uma onda de pavor.
Se eles o prendessem agora e encontrassem a mochila sem sua explicação, ele estaria preso. Os policiais não estavam discutindo possibilidades; eles já estavam tirando conclusões. Seu instinto lhe dizia que ele estava a segundos de perder o controle da situação. Ele tinha que agir.

Sua mente se fixou na única opção que tinha. Ele precisava ir embora. Se ficasse, eles o prenderiam e ele perderia qualquer chance de provar sua inocência. Se ele conseguisse chegar à floresta primeiro, talvez ainda tivesse tempo de descobrir a verdade – antes que a verdade o enterrasse.
Ele se levantou da cadeira e se forçou a parecer casual. “Preciso usar o banheiro”, disse ele, remexendo-se no assento. A recepcionista hesitou, claramente observando-o atentamente, depois fez um gesto em direção ao corredor. “No final do corredor, segunda porta.” Daniel assentiu, levantando-se lentamente, tentando não se apressar. Ele precisava ser convincente.

Assim que dobrou a esquina, ele se moveu rapidamente. Em vez de ir para o banheiro, ele procurou outra saída. Uma porta lateral perto da sala de suprimentos estava destrancada. Sua respiração ficou mais rápida. Assim que ele saiu, o ar frio atingiu seu rosto. Ele tinha que se mover rapidamente.
O coração de Daniel batia forte quando ele saiu para o ar frio. Cada segundo parecia estar trabalhando contra ele. Os policiais haviam aparecido com suas perguntas, e o silêncio do Dr. Monroe era um sinal ensurdecedor de que algo não estava certo. Ele não podia ficar aqui, preso em uma sala de espera cheia de incertezas e suspeitas.

Sua mente estava acelerada – a mochila manchada de sangue, o cachorro estranho, a floresta. Havia muitas perguntas sem resposta, e ele não tinha uma explicação clara para nada disso. Se a polícia encontrasse as provas, o que ele diria? Ele não podia simplesmente sentar e esperar que eles decidissem seu destino.
Ele tinha duas opções – ficar ali, indefeso, esperando que alguém decidisse se ele era culpado de algo que ele não entendia, ou voltar para a floresta e descobrir a verdade sozinho. Ele tinha que provar que estava no lugar errado e na hora errada, mas o mais importante é que precisava de respostas, algo que ele acreditava que não conseguiria obter do Dr. Monroe.

No momento em que Daniel voltou para a trilha da floresta, uma onda de inquietação o invadiu. As árvores pareciam mais altas agora, o caminho estava mais escuro do que antes. Ele acelerou o passo, refazendo a rota anterior. Sua respiração se embaçou no ar frio da noite. A floresta parecia mais pesada, quase o observando.
Quando se aproximou da clareira onde havia encontrado o filhote pela primeira vez, ele diminuiu o ritmo. Os arbustos farfalharam, mas era apenas o vento. Ainda assim, o silêncio não parecia natural. Ele respirou fundo e deu um passo à frente. Seu instinto lhe dizia que algo havia mudado desde a última vez em que esteve aqui.

Seus olhos se fixaram no local onde estava a mochila. Seu estômago se contraiu. Ela havia desaparecido. As folhas estavam reviradas, o chão levemente arranhado, mas a mochila em si – junto com qualquer prova do que havia acontecido – havia desaparecido. Um calafrio subiu por sua espinha. Será que foi um animal que levou a mochila?
Seu olhar percorreu a clareira, procurando qualquer sinal de movimento. Então, seus olhos captaram algo que ele não havia notado antes – um pedaço de tecido, rasgado e desgastado, preso em um galho baixo. Seu estômago se contraiu. Não estava lá antes. Alguém havia estado aqui – recentemente. E se haviam levado a mochila, tinham um motivo para querer que ela desaparecesse.

Então ele notou outra coisa. Um conjunto de pegadas que se afastava da clareira, adentrando a floresta. Seu pulso pulsava forte. Ele não estava imaginando isso. Alguém mais havia caminhado por ali, e o fez depois que ele saiu. Seus instintos gritavam para que ele voltasse atrás, mas ele os ignorou em sua busca para provar sua inocência.
Ele se agachou, pressionando os dedos nas reentrâncias da terra macia. As impressões digitais ainda estavam frescas. Ele engoliu, olhando por cima do ombro. A polícia estaria procurando por ele em breve, mas ele não podia ir embora ainda. Se encontrasse algo sólido, poderia apresentá-lo como prova antes que o encontrassem.

Naquele momento, Daniel decidiu seguir as pegadas. As árvores se adensaram ao redor dele, as sombras se alongando à medida que a luz se esvaía. Sua respiração parecia alta na quietude. Ele pisou com cuidado, cada passo deliberado. Quanto mais fundo ele ia, mais antinatural parecia a floresta. Não era apenas silenciosa – era silenciosa demais.
Mas então, as pegadas desapareceram. Em um momento, elas estavam nítidas na sujeira macia, guiando-o para frente, e no momento seguinte, elas simplesmente desapareceram no nada. Daniel parou, seu pulso se acelerou. Ele se virou em círculos lentos, examinando o chão. Como isso era possível? Ele olhou freneticamente ao redor, tentando entender a situação, quando um farfalhar suave o chamou a atenção. Seu corpo ficou rígido. O som veio de algum lugar atrás dele, pouco mais que um sussurro contra as árvores.

Ele não estava sozinho. Ele se virou lentamente, com a respiração superficial, examinando a floresta escura em busca de movimento. A floresta caiu em uma quietude assustadora, do tipo que pressionava os ouvidos de Daniel como um vácuo. O farfalhar havia parado tão repentinamente quanto havia começado, deixando apenas o silêncio. Ele prendeu a respiração, esforçando-se para ouvir além das batidas em seu peito, mas não havia nada.
E então – lá estava ele novamente. Um som fraco, mais profundo na floresta. Um ruído e depois o ronco baixo de um motor. Seu coração bateu contra as costelas. Ele havia chegado até aqui e não podia voltar atrás agora. Se ele queria respostas, tinha que correr o risco. Engolindo com dificuldade, ele ajustou os pés e correu para frente, seguindo o som nas profundezas escuras da floresta.

O terreno irregular dificultava o acompanhamento, mas ele seguiu em frente, com o coração batendo forte. O som era real – ele tinha certeza disso – mas agora a floresta o havia engolido inteiro. Ele se moveu com cautela, os olhos examinando a escuridão entre as árvores, os ouvidos atentos a qualquer indício de movimento. Mas não havia nada.
Daniel diminuiu a velocidade de seus passos, sentindo a frustração aumentar. Será que ele havia imaginado isso? Ele girou em círculos lentos, examinando as árvores intermináveis, tentando localizar algo. Então ele a viu. Uma estrutura, parcialmente encoberta pelas árvores. Sua respiração ficou presa.

Era um velho celeiro, com as tábuas de madeira empenadas pela idade e o telhado caído. Mas alguém tinha estado aqui recentemente – marcas recentes de pneus cortavam a lama na frente dele. Um mau pressentimento se formou em suas entranhas.
Ele se aproximou com cautela, com os passos abafados pela terra úmida. As portas do celeiro estavam ligeiramente entreabertas, revelando apenas a escuridão no interior. O cheiro o atingiu antes de entrar – algo desagradável, uma mistura de madeira úmida, mofo e algo mais. Algo metálico. Sua garganta ficou apertada.

Daniel hesitou, cada nervo gritando para que ele se virasse. Mas ele havia chegado até aqui. Ele se forçou a entrar, e o piso de madeira gemeu sob seu peso. As sombras se estendiam ao longo das paredes, e seus olhos se ajustaram lentamente. Então, ele os viu – fileiras de gaiolas, empilhadas contra as paredes.
Cães. Pelo menos uma dúzia, talvez mais. Alguns se enrolavam em bolas apertadas, magros demais, com as costelas salientes sob o pelo emaranhado. Outros estavam parados, mal respirando. Seu coração se apertou. Esses não eram animais de estimação perdidos. Eles estavam sendo mantidos aqui sabe-se lá por quanto tempo. Ele viu vários diagramas e gráficos na parede falando sobre o cão “perfeito”.

Ele estava tirando fotos de todo o processo quando um barulho do lado de fora o fez congelar. Um ronco baixo, como um motor girando. Sua respiração ficou presa. Alguém estava aqui. Seu olhar se voltou para uma escrivaninha de madeira no canto, cheia de papéis espalhados. Qualquer que fosse a operação, aqueles arquivos tinham as respostas. Mas ele tinha segundos, talvez menos.
O estômago de Daniel se revirou ao ver a cena – as gaiolas, os cães doentes, os diagramas grosseiros de características “ideais” colados nas paredes. Sua respiração ficou acelerada, mas ele se forçou a ficar quieto. Que lugar era esse? Ele pegou o celular, mas antes que pudesse desbloqueá-lo, um barulho profundo e estrondoso ecoou do lado de fora.

Um motor. Alguém estava chegando. A pulsação de Daniel disparou quando ele virou a cabeça para as portas do celeiro. Movendo-se rapidamente, ele se abaixou atrás de uma pilha de caixotes derrubados perto da parede mais distante. Por uma fresta nos caixotes, ele viu duas figuras entrarem, com as botas pesadas contra o piso de madeira.
Um deles carregava um saco de lona preto, pendurado ao lado do corpo. O outro, mais alto e de ombros largos, segurava uma seringa em sua mão enluvada. O coração de Daniel bateu forte. O que diabos eles estavam fazendo? Os homens foram em direção às gaiolas. Sem hesitar, o mais alto se ajoelhou ao lado de um retriever de aparência fraca, segurando sua nuca enquanto enfiava a seringa em seu pescoço.

Daniel cerrou os punhos. Isso não era um tratamento. Era outra coisa – algo pior. Ele mal respirava, com o corpo tenso, querendo ficar invisível. Mas então – um latido agudo. Seu estômago caiu. Um dos filhotes acordou, com o corpo frágil tremendo enquanto latia na direção de Daniel. Ele o havia sentido. Os homens congelaram. Então, lentamente, o mais alto se virou para as caixas.
“O que foi isso?”, murmurou o mais baixo. Eles se moveram em direção às caixas. Daniel mal teve tempo de se segurar antes que mãos ásperas o puxassem para cima. O homem mais baixo fez uma careta. “Você acha que pode simplesmente entrar aqui?” Seu parceiro puxou uma faca. A faca do homem mais alto brilhava sob a luz fraca do celeiro. O peito de Daniel se apertou – era isso.

Ele não tinha saída. Seus músculos ficaram tensos, com medo do que estava por vir. Então, uma súbita explosão de luz vermelha e azul inundou as rachaduras nas paredes do celeiro. Uma voz ecoou do lado de fora. “Aqui é a polícia! Larguem suas armas e saiam com as mãos para cima!” Os dois homens congelaram.
Os homens mal hesitaram antes de empurrar Daniel para o lado e correr para a entrada dos fundos. O pânico deles foi instantâneo, o instinto de fugir sobrepujando qualquer luta que lhes restasse. Daniel tropeçou para trás, ofegante, enquanto eles corriam. Mas eles não foram muito longe. As portas do celeiro se abriram, inundando o espaço com uma luz ofuscante.

Policiais armados invadiram o local, com armas em punho. “Deite-se no chão! Mãos onde possamos vê-las!” O homem mais baixo se deteve, procurando outra saída, mas não havia nenhuma. O mais alto levantou as mãos, fazendo cara feia. O mais baixo tentou fugir – até que um policial o derrubou no chão.
Antes que Daniel pudesse processar o que estava acontecendo, mãos ásperas agarraram seus braços e os puxaram para trás das costas. Sua respiração ficou presa quando o metal frio se chocou contra seus pulsos – algemas. “Espere – não estou com eles!”, protestou, mas os policiais não estavam ouvindo. Ele havia tropeçado em uma cena de crime e, naquele momento, era um suspeito.

Daniel se sentou no chão, imobilizado, enquanto os policiais invadiam o celeiro. Eles vasculharam as gaiolas, os documentos espalhados e os gráficos rudimentares de modificação genética. “Ele estava lá dentro quando chegamos aqui”, murmurou um policial, olhando para ele. “Pode estar envolvido.” O estômago de Daniel se revirou. Ele sabia que isso parecia ruim.
Nas horas seguintes, Daniel respondeu a perguntas incessantes. Como ele encontrou esse lugar? Por que ele estava aqui? Ele conhecia os homens? Seu coração batia forte a cada resposta, temendo que uma única palavra errada pudesse prendê-lo em algo do qual ele não fazia parte. Mas a verdade se manteve.

Finalmente, depois de verificar seus registros e confirmar sua história, os policiais o libertaram. “Parece que você estava no lugar errado, na hora errada”, admitiu o detetive. Daniel exalou bruscamente, seu corpo inteiro tremia. O alívio tomou conta dele – mas também a exaustão. Finalmente tudo havia terminado.
Dias depois, Daniel voltou à clínica do Dr. Monroe, com seu nome limpo. Ele olhou para o filhote em recuperação, sentindo algo que não sentia há muito tempo: certeza. Aquela criaturinha quase morrera sozinha na floresta, mas, de alguma forma, havia sobrevivido. Assim como ele. Ele assinou os papéis de adoção sem hesitar.

“Você merece um nome de verdade”, ele murmurou. “Que tal… Chance?” O filhote abanou a cauda. O Dr. Monroe sorriu quando Daniel colocou Chance em seus braços. Pela primeira vez em dias, o peso em seus ombros diminuiu. A floresta quase engoliu os dois, mas, no final, ela os trouxe até aqui – para um novo começo. Quando Daniel saiu, ele respirou fundo. Eles finalmente estavam livres.