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Lisa colocou sua xícara de café gentilmente sobre a mesa do jardim e respirou fundo o ar fresco da manhã. No gramado, Coco, sua cachorrinha brincalhona, corria alegremente entre as margaridas, perseguindo borboletas com um entusiasmo sem fim. Sorrindo, Lisa tomou seu café, absorvendo a manhã tranquila e dourada.

Era o tipo de dia que parecia intocado – céu limpo, uma brisa suave, pássaros cantando no ritmo das árvores. Lisa folheava distraidamente suas mensagens quando um grito repentino e áspero atravessou a calma. Sua cabeça se ergueu. Acima, uma enorme águia girava silenciosamente no céu.

O som ecoou pela vizinhança. As portas se abriram com um rangido. As pessoas saíram, protegendo os olhos, examinando o céu. Lisa não se mexeu. Uma pesada sensação de pavor tomou conta de seu peito. Ela ainda não havia percebido, mas a paz daquela manhã já estava se esvaindo.

Era uma tranquila manhã de sábado no subúrbio. Lisa estava descalça na cozinha, com os dedos enrolados em uma caneca de café quente. Pela porta de correr aberta, a luz do sol se espalhava pelo jardim, iluminando as margaridas que balançavam suavemente com a brisa. A cena parecia perfeita demais.

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Coco, sua pequena cachorrinha branca, deu um puxão brincalhão na borda da cortina com borlas e saiu correndo com um latido alegre. Lisa a seguiu com os olhos, com um leve sorriso no rosto. Depois de tudo o que ela havia passado, momentos como esse pareciam preciosos – frágeis, até.

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Lisa tinha trinta e oito anos, era uma ex-advogada corporativa que já havia navegado por arranha-céus e dramas de tribunais em Manhattan. Ela construiu um nome, ganhou dinheiro, viveu a vida – até que seu casamento se desfez em questão de meses. O que se seguiu a abalou profundamente.

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A cidade que antes adorava de repente se tornou insuportável. As buzinas, as multidões, a intensidade – tudo parecia uma pressão sobre um machucado. Lisa precisava de espaço. Não apenas espaço físico, mas oxigênio emocional. Um lugar onde pudesse expirar sem julgamentos ou lembranças grudadas em sua pele.

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Ela foi parar em uma cidade pacata da qual nunca tinha ouvido falar antes. Seu carro estava carregado de caixas empacotadas às pressas, uma luminária de chão torta e um colchão amarrado com barbante. A casa de dois andares que ela comprou tinha venezianas lascadas e um alpendre caído, mas falava de paz.

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No dia da mudança, Lisa tropeçou ao subir as escadas do sótão com uma caixa pesada de utensílios de cozinha. Seu pé bateu na borda de outra caixa que já estava lá, esquecida e empoeirada. Algo dentro dela se deslocou, fazendo-a congelar. Em seguida, ouviu um som fraco – um gemido.

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Com cuidado, ela levantou a tampa. Dentro havia um pacote amassado de lã e pelo. Um minúsculo filhote de cachorro branco, não maior do que a palma de sua mão, olhava para ela com olhos castanhos assustados. Ele não tinha coleira, nem mãe à vista. Apenas ossos trêmulos e um choro fraco.

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Algo em Lisa se abriu. Talvez tenha sido o momento, ou talvez tenha sido o desamparo do filhote que refletia o seu próprio desamparo. Ela pegou a criatura em seus braços sem pensar, apertando-a contra o peito. Naquela noite, ela lhe deu o nome de Coco – macio, quente e familiar.

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Coco se tornou sua corda. Naqueles primeiros dias, quando a solidão se arrastava como neblina, Coco sentou-se ao seu lado. Quando as noites se estendiam demais, a pequena respiração de Coco embalava Lisa até o sono. Ela não era apenas um animal de estimação – era um bálsamo, uma presença silenciosa que a mantinha inteira.

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Dois anos depois, Coco havia se tornado uma cadelinha alegre, cheia de energia e curiosidade. Ela dominava a casa com travessuras alegres, reivindicava cada ponto de sol no quintal e seguia Lisa de cômodo em cômodo como uma sombra felpuda. Lisa costumava chamá-la de “meu coração em quatro patas”

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Naquela manhã, Lisa tomava seu café no pátio enquanto Coco perseguia borboletas pela grama alta. A brisa trazia o canto dos pássaros e, pela primeira vez em muito tempo, Lisa se sentiu presente – sem ser assombrada pelo passado ou preocupada com o futuro. Apenas… satisfeita.

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Mas essa paz se desfez com um único som. Um grito agudo e penetrante cortou o ar como uma faca. O corpo de Lisa se sacudiu. O café respingou em seu pulso, mas ela mal sentiu a queimadura. Ela virou a cabeça na direção do som, com uma sensação de pavor já se formando.

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Os vizinhos abriram suas portas. Alguns foram para as varandas. Todos os olhos buscavam o céu. Lisa protegeu os seus com uma mão trêmula. E então ela a viu – uma enorme águia voando acima dos telhados, com as asas bem abertas, lançando sombras que ondulavam pelos quintais e jardins.

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Tudo aconteceu rapidamente – mais rápido do que seu cérebro conseguia processar. A águia deu uma volta e depois caiu. Suas garras se esticaram, cortando o ar. Lisa se levantou da cadeira, com a boca aberta, mas não ouviu nenhum som a tempo. Coco, no meio do salto na grama, desapareceu em um borrão de asas e pelos.

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Lisa gritou. Um som cru e gutural que assustou até mesmo os pássaros das árvores. Mas já era tarde demais. A águia subiu novamente, voando alto, com Coco agarrada em suas garras mortais. Os membros de seu filhote se agitavam, seus gritos ficavam cada vez mais fracos à medida que desapareciam no céu.

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Os vizinhos ficaram parados, atônitos. Alguém deixou cair o celular. Uma mulher ofegou. Ninguém se mexeu – não em um primeiro momento. Era como se o tempo tivesse parado. O horror surreal de tudo aquilo os deixou atordoados e em silêncio. Lisa sentiu como se seus pulmões tivessem entrado em colapso. Seus joelhos quase cederam.

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Ela deu um passo trêmulo para trás, com a mão pressionada contra o peito, como se estivesse tentando manter o coração no lugar. Há apenas alguns segundos, Coco estava caindo no meio das margaridas. Agora, ela havia desaparecido – sem mais nem menos – erguida aos céus como um sonho terrível.

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“O que acabou de acontecer?”, alguém murmurou. Outro vizinho ficou olhando, com o rosto pálido, balançando a cabeça. Não fazia sentido. As águias caçavam esquilos ou coelhos – nunca cachorros. Nunca algo amado. Nunca no quintal de alguém, com pessoas assistindo impotentes.

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A rua fervilhava de descrença. Os sussurros se espalharam como fogo. Lisa mal registrava o barulho ao seu redor. Seus pensamentos entraram em uma espiral de pânico. Seus olhos voltavam sempre para o céu, como se Coco pudesse, de alguma forma, cair suavemente de volta à terra. Mas agora só havia silêncio lá em cima.

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Lágrimas escorriam pelo rosto de Lisa enquanto ela subia cambaleando os degraus da varanda. Suas mãos tremiam tanto que ela deixou cair a caneca. Ela se quebrou, sem ser notada. Sua voz se embargou quando ela sussurrou, repetidamente: “Ela estava aqui… aqui…” A descrença foi mais forte do que a dor.

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Um vizinho colocou a mão em seu ombro. Outro ofereceu um telefone para ligar para alguém – qualquer pessoa. Mas a mente de Lisa estava girando. Ela não queria conforto. Ela queria Coco. Ela queria voltar a manhã e alcançá-la a tempo. Mas o tempo só andava para frente.

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As teorias surgiram rapidamente. Talvez a águia fizesse parte de alguma operação ilegal de vida selvagem. Talvez ela tivesse confundido Coco com uma presa. Outros culparam as mudanças climáticas, alegando que os animais estavam se comportando de forma mais errática. Mas nada disso importava. Coco havia desaparecido e Lisa mal conseguia ficar de pé.

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Ainda em choque, Lisa cambaleou para dentro de casa e encontrou seu celular. Com os dedos trêmulos, ela abriu o Facebook e começou a digitar. Parecia uma tolice. Desesperada. Mas ela não tinha mais nada. “Meu cachorro foi levado por uma águia gigante em plena luz do dia. Por favor, ajudem. Qualquer informação – qualquer coisa.”

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A postagem se espalhou como um incêndio. Em uma hora, sua caixa de entrada foi inundada. Alguns enviaram mensagens de solidariedade, outros com histórias de aves locais. Alguns anexaram fotos – fotos borradas e ampliadas de aves de rapina que tinham visto em campos ou perto da rodovia. Nada sólido. Apenas fragmentos digitais de esperança.

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Lisa rolava a tela obsessivamente, com o polegar dormente e os olhos doendo. Cada mensagem oferecia um vislumbre de promessa, seguido rapidamente de decepção. Alguém jurou ter visto a águia voar em direção às colinas. Outro afirmou que ela havia deixado cair algo perto da margem do rio. Tudo vago. Tudo impossível de verificar.

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Ela não conseguia se sentar. Não conseguia respirar. Os minutos pareciam areia movediça. Quanto mais ela esperava, mais Coco parecia se afastar. A culpa era sufocante. Por que ela não estava mais perto? Por que não havia notado a sombra antes? Por que a havia deixado sair sozinha?

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Lisa se levantou abruptamente. Suas mãos se fecharam. Esperar não era suficiente. Ela precisava agir – mais do que apenas postar ou ler comentários sem sentido. Enquanto olhava para o celular, um único pensamento se repetia em sua mente: Preciso de ajuda. Ajuda de verdade. Alguém que saiba como os animais se comportam.

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Foi então que ela se lembrou de David Setter. Ele não era apenas o veterinário de Coco, era um amigo de infância. Eles construíram casas na árvore juntos, desenterraram sapos depois de tempestades. Ele sempre entendeu os animais de uma forma que a maioria das pessoas não entendia. Se alguém pudesse ajudá-la a rastrear o caminho de uma águia, esse alguém seria David.

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Ela pegou o número dele. Por um breve momento, ela hesitou, sem saber o que dizer. Então, seu polegar pressionou Ligar. Ele atendeu no segundo toque. “Lisa?” Sua voz era calma e familiar, mas alerta. Ela se adiantou.

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“David, é a Coco. Você vai achar que eu perdi a cabeça, mas juro que uma águia a levou. Diretamente do meu quintal. Eu a vi com meus próprios olhos. Ela simplesmente… a levantou e saiu voando” David ficou em silêncio por um instante.

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Lisa prendeu a respiração. “Acredito em você”, disse ele. “É raro, mas acontece. Para onde ela foi? Você viu em que direção?” “Sobre a vizinhança, talvez em direção à floresta. Estou organizando um grupo de busca agora, mas preciso de alguém que saiba onde devemos procurar.”

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Depois de um momento de pausa, David falou: “Já estou amarrando minhas botas, vou encontrá-lo em sua casa. Não fique esperando que eu comece. Eu a alcançarei” O alívio dobrou os joelhos de Lisa. “Obrigada”, ela sussurrou.

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Ela encerrou a ligação e postou no Facebook: “Organizando uma equipe de busca. Encontro em minha casa. Se você puder ajudar, por favor, venha” Ela se sentiu ridícula, como se estivesse gritando em meio a uma tempestade. Mas, em poucos minutos, as respostas chegaram.

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Estranhos. Vizinhos. Velhos rostos com quem ela não falava há anos. Eles chegaram um a um – alguns com lanternas, outros com jaquetas e botas, todos prontos para ajudar. Eles se reuniram em seu jardim da frente enquanto o crepúsculo se aproximava, murmurando ideias e possibilidades.

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Um adolescente afirmou ter visto uma águia voando para o leste naquela manhã, em direção ao cume arborizado. Outro mencionou um penhasco rochoso onde os falcões faziam seus ninhos na primavera. As teorias giravam, frágeis, mas esperançosas. Lisa guardou uma foto de Coco em seu bolso.

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Ela não a largou desde o momento em que a águia desapareceu sobre as árvores. Enquanto o grupo discutia os próximos passos, ela olhou para a rua – bem a tempo de ver a caminhonete de David parar. Ele desceu, com a mochila pendurada em um dos ombros, vestido em tons de terra e com equipamento de caminhada.

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Seus olhos examinaram o grupo até pousarem nos dela. Lisa o encontrou no meio do caminho, puxando-o para um abraço rápido e forte. “Estou muito feliz por você estar aqui”, disse ela, mal conseguindo pronunciar as palavras. Ele se afastou apenas o suficiente para olhar para ela. “Nós a encontraremos”, disse ele.

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“Não estamos vagando. Estamos rastreando. As águias fazem ninhos em penhascos altos, árvores antigas. Vamos nos concentrar lá.” O grupo se apertou em torno dele enquanto ele dava instruções claras e calmas. Lisa se sentiu mais estável só de ouvir a voz dele. Com David os guiando, não se tratava mais de adivinhação. Era uma missão.

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Eles partiram juntos pelos campos tranquilos atrás do bairro. Lanternas balançavam enquanto o céu escurecia. O vento assobiava pela grama, frio e urgente, como se os incitasse a seguir em frente. Cada rajada parecia sussurrar um nome repetidamente: Coco.

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Quando se aproximaram das árvores, um silêncio se abateu sobre eles. A floresta se erguia como uma parede, escura e densa. Lisa hesitou na borda, com a respiração curta. Em algum lugar além dos pinheiros e dos arbustos emaranhados, Coco poderia estar viva. Ou desaparecido. Mas ela não saberia a menos que entrasse.

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A floresta os engoliu rapidamente. Sob os pés, as raízes se torciam como cordas com nós. Os galhos se arqueavam no alto, lançando tudo em uma sombra esverdeada. Lanternas se acenderam. Lisa pisou com cuidado, com a respiração presa. Cada galho que estalava parecia um sinal. Cada sombra, uma pergunta. Será que Coco poderia estar em algum lugar desse vasto e emaranhado lugar?

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O grupo se espalhou, passando por entre as árvores e se abaixando sob os galhos mais baixos. Alguns gritavam baixinho: “Coco!” Outros se enfiaram na vegetação rasteira com gravetos. Lisa examinou o chão e a copa das árvores, desesperada por qualquer coisa – pegadas de patas, pelos, até mesmo uma coleira caída. Mas a floresta não lhes dava nada além de silêncio.

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O tempo passou em fragmentos. Quinze minutos. Trinta. Uma hora. A esperança começou a se esvair. Alguém murmurou que a luz estava se apagando. Outro tropeçou e praguejou sob sua respiração. Quanto mais se aprofundavam, mais a tensão aumentava. Lisa a sentia como uma pressão em seu peito.

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À medida que o sol se punha mais baixo, as sombras se aprofundavam. Lisa enxugou o suor da testa. Seus joelhos doíam. Seu coração batia em um ritmo frenético em sua garganta. Ela se recusava a chorar – não ainda. Não na frente dessas pessoas. Mas o peso de não saber era insuportável.

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Um homem perto do fundo falou. “Estamos perdendo a luz do dia. Vamos quebrar um tornozelo aqui fora.” Sua voz era cansada, mas não cruel. Alguns outros murmuraram concordando. Lisa se virou, pronta para implorar, mas os olhos deles diziam tudo. Eles estavam cansados. Ela não podia culpá-los.

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Lentamente, com relutância, eles começaram a voltar. Alguns se desculparam discretamente. Uma mulher apertou o ombro de Lisa, com os olhos úmidos. “Espero que você a encontre”, disse ela. Lisa acenou com a cabeça, sem conseguir responder. Ela não tinha palavras. Só lhe restava um objetivo: continuar andando.

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Apenas um punhado de pessoas permaneceu enquanto a escuridão caía. Lanternas balançavam como vaga-lumes na escuridão. A garganta de Lisa ardia de tanto chamar. Suas pernas tremiam por causa do chão irregular. Mesmo assim, ela seguiu em frente. Se Coco estivesse machucada, assustada, sozinha – então Lisa não poderia parar. Ela não pararia.

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Então, algo chamou sua atenção. Uma mancha branca perto da base de uma árvore. Lisa ficou sem fôlego. Ela se ajoelhou, arrastando-se entre os arbustos. Seus dedos roçaram o pelo emaranhado. Ela gritou para os outros. Seu peito pesava. Mas, quando a forma ficou em foco, a esperança se desfez.

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O corpo estava mole. Lisa se afastou, com as mãos trêmulas e soluços que escapavam de seus lábios em estertores irregulares. Ela se agachou contra uma árvore, segurando a cabeça. Não conseguia mais conter o choro. David se ajoelhou calmamente e colocou uma mão firme em seu ombro.

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“Fique aqui”, disse ele. “Deixe-me checar.” Lisa não conseguia falar. Não conseguia se mexer. Ela acenou com a cabeça uma vez. David voltou rapidamente. “Não é ela”, disse ele gentilmente. “É apenas um coelho.” Lisa exalou um som que estava em algum lugar entre um soluço e uma risada.

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Seu corpo inteiro caiu. Ela não havia percebido o quanto de si mesma estava envolvida naquele terrível momento de esperança. Ela se sentou na terra, exausta demais para ficar de pé. Seu coração doía em lugares que ela não sabia que existiam. Seus pensamentos giravam em espiral.

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E se a águia tivesse deixado Coco cair? E se ela já tivesse ido embora? Lisa enterrou o rosto nas mãos, com as lágrimas escorrendo livremente. David se agachou ao lado dela. “Você chegou até aqui”, disse ele. “Não pode parar agora.

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Nunca vai se perdoar se desistir antes de saber” Sua voz era baixa, mas firme. Lisa não queria ouvi-la. Mas ela queria. Ela se forçou a ficar de pé. Virando-se para os poucos que ainda restavam, ela falou.

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“Vou continuar procurando. Entendo se vocês precisarem ir embora. Eu realmente entendo. Mas tenho que encontrá-la. Não posso parar” Ninguém respondeu de imediato. Então, um homem acenou com a cabeça. Outro ajustou sua lanterna.

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Enquanto eles se reagrupavam, o celular de Lisa tocou em seu bolso. Ela o puxou com pouca expectativa. Uma notificação piscou – um comentário em sua postagem original. Alguém havia encontrado um conjunto de penas de águia perto do pomar abandonado no outro lado da cidade.

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Ela abriu a foto anexada. Sua respiração ficou presa. As penas eram inconfundíveis – largas, marrons e brancas, dispostas em um círculo como se algo tivesse caído pesadamente. Os dedos de Lisa voaram. Ela mostrou a imagem a David. “É ela”, ela sussurrou. “Ela pode estar lá.”

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David assentiu com a cabeça. “Vamos lá.” Ele não hesitou. Nem os outros. Eles mudaram de direção, atravessando a floresta em direção ao pomar. Lisa se movia com energia renovada, alimentada pela adrenalina e pela frágil esperança. A névoa que se erguia do chão parecia se acalmar ao redor deles.

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O pomar emergiu lentamente da escuridão. Antes próspero, agora era em sua maior parte uma fileira de árvores tortas com galhos nus e troncos em ruínas. Um muro baixo de pedra marcava sua fronteira. Lisa não diminuiu a velocidade. Ela escalou o muro e aterrissou do outro lado, com os joelhos dobrados.

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Eles se espalharam pelo pomar. As lanternas varriam as raízes retorcidas e as folhas mortas. Lisa passou por moitas e virou galhos caídos. Cada segundo parecia esticado e agudo. Então, ela o viu – no topo do velho galpão do pomar: um ninho enorme, equilibrado como uma coroa.

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“Ali!” Lisa gritou, apontando para cima. Todos se viraram. O ninho estava no alto do velho galpão do pomar – extenso, emaranhado e impossivelmente grande. Algo branco se movia no topo. O coração de Lisa martelou contra suas costelas. “Se ela estiver lá dentro…”, sussurrou ela, com as palavras se prendendo. O ar se encheu de expectativa.

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Eles correram em direção ao galpão, com os pés rangendo sobre as folhas mortas. David examinou a área, dando a volta no galpão rapidamente. “Não há escada”, ele murmurou. “Nada estável para subir. E aquele telhado não vai aguentar de jeito nenhum.” Os olhos de Lisa percorreram a clareira. Seu pânico aumentou. “Tem que haver alguma coisa. Qualquer coisa.”

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David se ajoelhou, tirando uma longa corda de sua mochila. “Vamos escalar”, disse ele, desenrolando-a. “Eu vou subir. Eu ancoro aqui e você mantém a tensão. Isso me ajudará a subir.” Lisa o encarou. “Você está subindo nessa árvore?” Os galhos pareciam irregulares e altos acima deles.

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Ele assentiu com a cabeça. “Não temos escolha.” Ele enrolou a corda em sua cintura, testou a tensão e depois entregou o resto para Lisa e dois outros. “Segurem-na com força. Não soltem.” Seu tom era calmo, mas seus olhos eram afiados. Lisa segurou a corda, com as palmas das mãos já suando.

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David começou a subir. A casca da árvore descascava sob suas botas enquanto ele procurava por pontos de apoio sólidos. Ele se moveu lenta e metodicamente, enrolando a corda em nós na superfície da árvore. Abaixo, Lisa e os outros mantinham a corda esticada, firmando-o a cada mudança de peso. Ninguém falava.

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Ele subiu cada vez mais alto. A árvore rangia, com as folhas farfalhando a cada movimento. As mãos de Lisa ardiam por causa da corda, mas ela não afrouxou o aperto. Não podia. Ela acompanhava cada movimento dele, cada centímetro à frente era uma pequena vitória. O ninho se aproximava. Assim como o limite do medo.

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David finalmente alcançou o galho que se estendia sobre o galpão. O galho gemeu sob seu peso, mas ele avançou até conseguir olhar para o ninho. Ele se aquietou. De baixo, Lisa o viu parar completamente. “Ela está aí?”, perguntou ela, com a voz embargada. A resposta de David veio suavemente. “Sim. Ela está aqui.”

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Os joelhos de Lisa quase se dobraram. “Ela está bem?” David se inclinou mais. “Parece assustada. Mas está viva.” Antes que alguém pudesse responder, um grito agudo cortou o céu. Todos congelaram. Lisa se virou. Acima das copas das árvores, asas enormes cortavam o ar. A águia havia retornado – e não estava sozinha dessa vez.

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Ela gritou novamente, mais alto e com mais raiva. O som ecoou pelo pomar. A ave se abaixou, com as asas batendo como um trovão. “David, abaixe-se!”, alguém gritou. Ele se curvou sobre o ninho de forma protetora. “Ela acha que sou uma ameaça”, ele gritou de volta. “Ela está defendendo o ninho. Se eu me mexer errado, ela vai atacar.”

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A águia bateu as asas furiosamente, circundando a árvore com rapidez agressiva. Coco choramingou no ninho. David ficou quieto, tentando permanecer pequeno, mas não estava funcionando. “Precisamos fazer alguma coisa”, disse Lisa. “Ela está se aproximando.” A águia caiu novamente, com as garras bem abertas, gritando sobre a cabeça de David.

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O pânico se espalhou pelo grupo. “Joguem alguma coisa!”, alguém sugeriu. “Não! Você vai provocá-la!”, disse outro. Os olhos de Lisa se movimentaram entre a árvore, o ninho, o borrão furioso de penas – e, de repente, ela se lembrou. Sua mão voou para o bolso do casaco. O rato de brinquedo. O favorito de Coco.

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Ela o tirou do bolso. O ratinho de tecido estava desbotado e esfarrapado, mas era reconhecível. Coco nunca ia a lugar nenhum sem ele – nem Lisa. “Ela costumava correr atrás dele como se estivesse vivo”, murmurou. Sem dizer mais nada, Lisa enrolou o braço para trás e o arremessou o mais longe que pôde.

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O brinquedo girou no ar e aterrissou bem à esquerda, perto de um pedaço de grama alta. A cabeça da águia se virou. Ela pairou no ar, confusa por meio segundo, depois girou repentinamente e saiu correndo atrás do movimento, com as asas cortando o vento. Lisa mal conseguia respirar.

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David viu sua chance. Ele se inclinou para dentro do ninho, com os braços estendidos gentilmente para Coco. “Está tudo bem”, ele sussurrou. “Eu tenho você agora.” A cachorrinha choramingou, mas não resistiu. Ele a pegou em sua jaqueta, segurando-a firmemente em seu peito. “Peguei ela!”, ele gritou, com a voz tensa.

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Os aplausos soaram lá embaixo. A visão de Lisa ficou embaçada pelas lágrimas. Mas David ainda não havia descido. Ele ajustou Coco em um braço e começou a descer com o outro, testando lentamente cada ponto de apoio. A corda se manteve firme, mas a árvore tremia a cada passo. Lisa se agarrou com mais força. “Está quase lá”, ela sussurrou.

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Ele alcançou os galhos mais baixos, com as botas raspando a casca da árvore. Coco espiou para fora, com os olhos arregalados e o nariz se contorcendo. “Só mais um pouco”, murmurou David. Lisa mal conseguia ouvir por causa do barulho em seu peito. Seus olhos se fixaram nas botas dele, pedindo silenciosamente que elas tocassem o chão.

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Finalmente, seus pés tocaram a terra. Lisa correu para a frente. Ele gentilmente lhe entregou o filhote trêmulo. Lisa caiu de joelhos, segurando Coco contra o peito. Coco lambeu seu rosto, choramingando baixinho, enroscando-se nos braços de Lisa como uma criança perdida há muito tempo. Lisa soluçou em seu pelo, incapaz de falar.

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David caiu ao lado delas, com o rosto encharcado de suor e sujeira. “Ela está bem”, disse ele, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa. “Ela está bem.” Lisa olhou para ele. “Você conseguiu”, ela sussurrou. “Nós conseguimos”, corrigiu ele. “Você distraiu uma águia gigante com um brinquedo de rato”

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Lisa riu em meio às lágrimas. “Esse brinquedo é mágico.” Ao redor deles, os outros exalaram em uníssono. Alguns bateram palmas. Outros simplesmente ficaram admirados. Um adolescente sussurrou: “Essa foi a coisa mais louca que eu já vi” Lisa beijou a cabeça de Coco. “Sim”, disse ela. “Mas ela está em casa agora. Isso é tudo o que importa.”

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Mais tarde, David explicou. “Às vezes, se uma águia no ninho perde sua companheira, ela pode adotar algo pequeno e indefeso – o instinto falha. Isso é raro, mas não é inédito” Lisa mal o ouviu. Ela só sabia de uma coisa: Coco estava em casa.

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De volta à cidade, a história se espalhou. O noticiário local a registrou. “Filhote de cachorro levado por águia – encontrado vivo no ninho.” As pessoas a chamavam de corajosa. Lisa não se sentiu corajosa. Ela se sentiu sortuda. Sentiu-se completa novamente. Uma semana depois, Lisa emoldurou o recorte de jornal e o pendurou na porta da frente.

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Coco estava enrolada no parapeito da janela, roncando baixinho. Lisa passou por ela e sorriu. Ela não precisou olhar o artigo para se lembrar. Ela nunca se esqueceria da vez em que seu cachorrinho voou e fez um amigo.

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