Pedro diminuiu a velocidade perto da base, examinando o chão, os arbustos próximos, qualquer coisa que pudesse conter um rastro dela. “Lola”, ele sussurrou no início, se aproximando. Nada. A noite respondeu apenas com o vento e o farfalhar dos galhos. Seu coração afundou. “Lola!”, ele chamou novamente, mais alto dessa vez. Ainda nada.
Mas então, um latido. Fraco. Distante. A esperança o invadiu como uma onda. “Lola!”, gritou ele, girando em direção ao som. Outro latido, mais claro dessa vez, atravessou os arbustos. Ele correu, tropeçando na grama irregular, chamando o nome dela repetidas vezes, seguindo a voz como se fosse uma tábua de salvação.
O som ficou mais forte até que ele parou em um espesso emaranhado de arbustos perto da extremidade do gramado. Com cuidado, ele separou os galhos – lá estava ela. Mas no momento em que Pedro a viu, ele se esqueceu de como respirar….
Pedro destrancou sua loja, e o leve barulho da porta ecoou pela rua tranquila. Enquanto se preparava para o dia seguinte, seus pensamentos estavam concentrados nas horas de trabalho que tinha pela frente. O campus, no entanto, estava acordando – e sua loja também.

Pedro havia começado seu carrinho de comida com apenas dezenove anos, uma pequena barraca de cachorro-quente do lado de fora dos portões da faculdade. Com o passar dos anos, seu negócio cresceu, tornando-se um ponto de encontro de estudantes. A comida simples, mas saborosa, juntamente com a natureza acolhedora de Pedro, transformou seu carrinho em um pequeno império bem no coração do campus.
A loja era pequena – quatro mesas e algumas cadeiras de plástico – mas estava sempre movimentada. Os alunos vinham não apenas pela comida, mas pela atmosfera que Pedro havia criado ao longo dos anos. Era mais do que uma refeição rápida – era um refúgio, um lugar onde eles podiam ser eles mesmos e se sentirem vistos.

Pedro trabalhava incansavelmente atrás do balcão, sempre pronto com um sorriso, uma piada rápida e um ouvido para os alunos. Ele mesmo nunca tinha frequentado a faculdade, mas isso não o impedia de ser um mentor. Eles o procuravam não apenas para comer cachorro-quente, mas para receber conselhos que somente alguém como ele poderia oferecer.
Embora Pedro nunca tivesse frequentado a faculdade, ele tinha muita sabedoria. Ele ouvia os problemas dos alunos – fossem exames, relacionamentos ou futuros incertos – e oferecia o melhor conselho que podia. Sua comida era sempre o conforto, mas sua empatia era o motivo pelo qual eles voltavam sempre.

Pedro tinha um jeito de identificar os alunos que precisavam de um pouco mais de ajuda – aqueles com dificuldades financeiras ou emocionais. Sem pensar duas vezes, ele oferecia uma refeição gratuita ou lhes dava um desconto, garantindo que ninguém saísse de seu carrinho com fome. Ele se tornou mais do que um dono de loja; ele se tornou o irmão do campus.
Era mais uma manhã movimentada na loja de Pedro. Ele estava anotando o pedido de um aluno quando notou Lola caminhando em sua direção, com a folha de sempre na boca. Ela parou fora da fila, com o rabo abanando, e esperou, como um cliente comum.

Pedro riu baixinho, seus olhos encontraram os de Lola. Ela esperou pacientemente, com os olhos fixos nele e a folha ainda na boca. À medida que a fila avançava, Lola se aproximava, sem pressa, como se soubesse que tinha de esperar sua vez. Pedro terminou com a aluna à sua frente e sorriu para Lola.
“Aqui está, garota”, disse ele, tirando gentilmente a folha da boca dela. Lola respondeu com um suave abanar de cauda, esperando ansiosamente. Pedro pegou uma salsicha e a colocou cuidadosamente na boca dela. Sem fazer barulho, Lola trotou até a grande árvore ao lado da loja, satisfeita com seu prêmio.

Os alunos ao redor dele olhavam para a cena com uma mistura de diversão e curiosidade. Pedro observou Lola saboreando sua salsicha sem se importar com nada e riu para si mesmo quando ouviu oooh e aahs vindos da multidão e alguns alunos gravando os vídeos de Lola.
Há um ano, Lola não passava de uma tímida cachorrinha de rua com pelo macio, orelhas grandes e olhar cauteloso. Ela perambulava pelo campus, uma figura minúscula que se movia entre bancos e arbustos, sempre alerta, sempre sozinha. A maioria dos alunos achava que ela pertencia a alguém – até perceberem que não pertencia.

Lola era a caçula de sua ninhada, deixada para trás quando sua mãe se mudou com os outros. Sem coleira, sem lar e sem proteção, ela sobrevivia à base de sorte e migalhas que sobravam. À tarde, ela se acomodava sob o mesmo banco desgastado perto do bloco de engenharia, encolhendo-se em si mesma, esperando o anoitecer.
Pedro já tinha visto sua cota de cães vadios na região. Alguns latiam, outros imploravam e outros simplesmente passavam. Mas esse cachorrinho – quieto, observador – continuava aparecendo debaixo da árvore perto de sua loja, sem nunca causar problemas. Apenas sentado, com os olhos semicerrados e as orelhas se contraindo a cada som.

No início, Pedro não lhe deu muita atenção. Ele estava ocupado – os alunos faziam fila de manhã até tarde da noite, os pedidos voavam, as garrafas de ketchup esguichavam, as piadas eram trocadas. Mas Lola ficou. Dia após dia, ela se deitava embaixo da árvore, ocasionalmente olhando para ele, com as costelas ligeiramente visíveis sob o casaco leve.
Ela contava com os alunos – aqueles que se comoviam com suas orelhas caídas ou seus olhos grandes – para lhe dar um biscoito ou uma crosta. De vez em quando, alguém lhe dava parte de um sanduíche. Aos poucos, ela se tornou parte do cenário: uma criaturinha silenciosa enrolada perto da loja movimentada, educada demais para pedir esmola.

Então, em um final de tarde de outono, algo mudou. Pedro ergueu os olhos da frigideira e viu Lola – não mais apenas descansando por perto – na fila com o resto dos alunos. Ela segurava uma folha verde gentilmente na boca, esperando atrás de um garoto alto com uma mochila.
Ele quase riu da cena engraçada, mas se conteve. Ela não estava latindo, não estava inquieta – apenas estava na fila como se fosse a coisa mais natural do mundo. Pedro voltou ao seu trabalho, um pouco divertido, até que a fila se moveu e Lola deu um passo à frente com um pequeno trote confiante e colocou sua folha no balcão.

Pedro piscou os olhos, sem saber o que pensar daquilo. Por que ela estava lhe dando uma folha? Ela olhou para ele, com a cabeça levemente inclinada para a direita, os olhos expectantes. Por um momento, ele hesitou. Então, ela deu um latido curto e empurrou a folha para frente com o focinho, como se insistisse em sua vez.
Ele olhou em volta, esperando que alguém pudesse explicar o que estava acontecendo, mas os alunos na fila pareciam igualmente perplexos. Ela estava doente? Será que ela queria brincar? Ele procurou pistas no rosto dela, mas ela apenas ficou olhando – calma, confiante, como se isso fosse completamente normal. Pedro coçou a cabeça, confuso.

Foi então que um aluno riu. “Ela está tentando pagar com aquela folha!”, disse ele, sacando o celular. Pedro se deu conta de que Lola tinha visto pessoas pagando com uma nota de dólar. Em seu cérebro de cachorro, a nota de dólar deve ter se assemelhado a uma folha verde. Pedro deu uma risada suave. Sem dizer uma palavra, ele pegou a folha como se fosse uma nota de cem dólares e ofereceu a ela uma salsicha. Lola a pegou gentilmente, com o rabo abanando.
Aquele momento marcou o início de algo especial. Desde então, todas as manhãs, exatamente às 11 horas, Lola aparecia com uma folha fresca na boca. Ela esperava na fila, com a folha agarrada como moeda, e a trocava por uma salsicha antes de voltar para a árvore para comer e cochilar.

Isso se tornou um ritual. Os alunos começaram a cronometrar o horário de almoço só para ver isso. Alguns até traziam folhas extras, para o caso de ela se esquecer. Mas Lola nunca esquecia. Seus passos eram firmes, sua rotina precisa. Pedro sorria todas as vezes, aceitando a folha como um símbolo sagrado, honrando o pacto não dito por eles.
Não demorou muito para que a encantadora rotina de Lola se tornasse um espetáculo no campus. Os alunos, que antes passavam apressados pela loja de Pedro, agora se demoravam, ansiosos para ver “o cachorro que pagava com uma folha” Os telefones começaram a tocar assim que Lola entrou na fila, seu pequeno ritual provocando risos, admiração e inúmeras fotos.

O que começou como um momento emocionante tornou-se um ímã para os negócios. Os alunos trouxeram seus amigos para assistir ao evento, e mais pessoas vieram comprar comida depois de ver a performance de Lola na Internet. Pedro, acostumado a administrar a loja sozinho, viu-se atolado de pedidos. Ele acabou contratando um assistente para ajudar.
À medida que as filas aumentavam, Pedro percebeu o quanto Lola havia se entrelaçado em sua vida. Ela não era mais apenas um animal perdido – era sua alegria diária, sua companheira matinal e, sem saber, sua estratégia de marketing mais eficaz. Cada folha que ela oferecia era mais do que um gesto, era um presente.

Lola se tornou o rosto do negócio de Pedro – literalmente. Um aluno desenhou um desenho animado dela segurando uma folha, que Pedro imprimiu em camisetas, sacolas para viagem e até mesmo em um pequeno banner acima de sua loja. As pessoas vinham pela comida, mas ficavam pela história – a história de Lola. E Pedro era grato todos os dias.
Ele sempre pensava em adotá-la adequadamente, dando-lhe um lar de verdade e uma cama quente. Mas sua esposa tinha alergia grave a peles de animais, e levar Lola para casa simplesmente não era uma opção. Isso doeu, mas Pedro não deixou que isso o impedisse de cuidar dela da melhor maneira possível.

Ele comprou uma cama de cachorro macia para ela e a colocou embaixo da árvore, junto com alguns brinquedos que faziam barulho e um cobertor para os dias frios. Lola aceitou tudo com uma gratidão silenciosa, enrolando-se todas as tardes após a troca de folhas e salsichas, cochilando sob os galhos enquanto os alunos passavam com sorrisos carinhosos.
Seus dias começaram a seguir um ritmo silencioso. Pedro não olhava mais o relógio. Ele simplesmente esperava o suave bater das patas e o brilho verde na boca de Lola. Como um relógio, ela chegava todos os dias às 11 horas da manhã – nem um minuto adiantada, nem um minuto atrasada. Até que, um dia, ela não chegou.

Tinha sido uma manhã particularmente movimentada. Os pedidos chegavam rapidamente e Pedro trabalhava sem pausa, enxugando o suor da testa enquanto a multidão aumentava. Foi só quando distribuiu o último prato e se encostou no carrinho para respirar que ele verificou o celular. 11:36 a.m. Nada de Lola.
Uma pontada de preocupação surgiu. Pedro ficou mais ereto, com os olhos examinando a rua e depois a árvore. Nada. Ele não podia deixar o carrinho, não durante a correria do almoço e, além disso, Lola era uma perdida – ela poderia ter se perdido em qualquer lugar. Ainda assim, algo na ausência dela parecia errado, e Pedro não conseguia deixar de se preocupar com o fato de que algo estava errado.

Esse pensamento pesou sobre ele durante toda a tarde. Quando finalmente chegou a hora de fechar, Pedro se arrumou rapidamente e saiu pelo campus, olhando entre as árvores e os bancos, chamando o nome dela sob sua respiração. Talvez ela estivesse doente. Ou machucada. Talvez estivesse deitada em algum lugar, esperando para ser encontrada.
Ele caminhou por mais de uma hora, passando por pátios de dormitórios e salas de aula silenciosas, verificando os locais habituais de cochilo dela. Mas não havia sinal dela – nem mesmo um farfalhar nos arbustos ou um brilho de pelo na grama. Por fim, ele desistiu, com o coração pesado, e voltou para casa em silêncio.

Na manhã seguinte, Pedro abriu a loja com um aperto incomum no peito. Mesmo enquanto cortava cebolas e virava salsichas, seus olhos passavam pelo celular a cada poucos minutos. Quando faltavam cinco minutos para as onze horas, ele saiu, examinando a rua, esperando que Lola aparecesse com sua folha.
Ele esperou por dez longos minutos, com o olhar fixo na rua, onde ela sempre vinha trotando com aquele pequeno salto confiante. Nada. Apenas estudantes passando e um ciclista ocasional. Uma dor surda surgiu atrás de suas costelas. Algo não estava certo. Ela nunca faltava dois dias seguidos. Nunca.

Alguns alunos notaram que Pedro estava do lado de fora. Um deles, uma garota segurando um sanduíche, perguntou gentilmente: “A Lola não veio hoje?” Pedro balançou a cabeça, suspirando. “Ela também não veio ontem. Não sei para onde ela foi. Estou ficando preocupado.” A preocupação em seus rostos espelhava o que ele sentia por dentro.
Joseph, um magro estudante de design e um dos primeiros clientes de Pedro, saiu do final da fila. “Deixe-me ajudar”, ele ofereceu. “Vamos fazer um pôster de desaparecimento para ela. Posso desenhar algo rapidamente” As sobrancelhas de Pedro se ergueram, comovidas. “Você realmente faria isso?” Joseph assentiu com a cabeça. “Ela faz parte deste lugar.”

Em vinte minutos, Joseph havia esboçado um pôster limpo e marcante – Lola a meio caminho, folha na boca, seu nome em negrito acima de uma breve descrição. Outro aluno se ofereceu para cuidar da impressão. Pedro colocou algumas notas em sua mão e, no meio da tarde, eles tinham uma pilha de mais de cem pôsteres perdidos prontos para serem usados.
Pedro presumiu que iria colá-los sozinho depois do fechamento, mas antes mesmo de começar, um pequeno grupo de alunos – regulares que ele reconhecia pelo rosto, mas nem sempre pelo nome – apareceu e se ofereceu para ajudar. “Nós cobriremos os dormitórios”, disse um deles. “Vou trabalhar na livraria e naquela cafeteria”, acrescentou outro.

Ao pôr do sol, os cartazes estavam espalhados pelos postes de iluminação, quadros de avisos e entradas dos dormitórios. A árvore perto da loja de Pedro também tinha um, bem acima da cama do cachorro de Lola. Pedro ficou ali observando-os trabalhar, humilde. Essas crianças não eram apenas clientes – elas se importavam. Não apenas por ele, mas por ela. Uma cadelinha abandonada.
Agora, tudo o que eles podiam fazer era esperar. Pedro mantinha seu telefone sempre por perto, pulando sempre que ele tocava. Mas, todas as vezes, era apenas um fornecedor, uma notificação de entrega ou sua esposa dando notícias. Ninguém tinha visto Lola. Ninguém havia telefonado. O silêncio estava começando a atormentá-lo.

Naquela noite, depois de fechar a loja, Pedro entrou em seu carro velho e começou a dirigir lentamente pelos arredores do campus. Ele manteve a janela abaixada, chamando o nome dela suavemente. Uma ou duas vezes, ele avistou um lampejo de pelo preto e branco e seu coração deu um salto, mas caiu novamente.
A cada vez, ele encostava o carro, saía e verificava. Uma vez, era um terrier briguento. Em outra ocasião, era apenas uma sombra perto dos contêineres. Ele verificou os becos e espiou por trás das lixeiras, procurando o brilho de uma coleira roxa – uma que sua esposa havia costurado à mão com carinho. Mas não havia nada. Nada de Lola.

Desanimado, ele voltou para casa tarde, mal conseguindo falar. Antes de dormir, ele pressionou as palmas das mãos uma contra a outra, sussurrando uma oração silenciosa. Ele esperava que ela estivesse aquecida, em algum lugar seguro, não machucada ou sozinha. Acima de tudo, ele desejava olhar para cima amanhã às 11 horas e vê-la trotando pela estrada, com uma folha na boca.
Três dias se passaram e, ainda assim, não havia sinal de Lola. Nenhuma mensagem de texto, nenhuma dica, nenhum avistamento que fosse significativo. Pedro tentou se manter esperançoso, mas cada dia que passava sem a chegada de sua pequena folha na boca parecia mais pesado do que o anterior. O silêncio estava se tornando insuportável.

Na manhã seguinte, Pedro saiu de casa mais cedo do que o normal. Com um pôster enrolado na mão, ele visitou todas as lojas próximas ao campus – cafés, papelarias, lojas de conveniência – fazendo a mesma pergunta: “Você viu esse cachorro?” Cada resposta era um balançar de cabeça, um sorriso apologético, um suave “desculpe, não”.
No meio da manhã, a preocupação o envolveu com força no peito. Pensamentos ruins, do tipo que ele se esforçava para afastar, continuavam surgindo – E se ela estivesse machucada? E se ela tivesse ido embora? Suas mãos se moviam no piloto automático na loja, mas sua mente estava longe, girando cenários que ele não conseguia suportar.

Seu telefone tocava constantemente, mas nenhuma das mensagens trazia alívio. Alunos, amigos e até mesmo alguns professores enviaram mensagens reconfortantes: “Ela vai aparecer”, “Os cães são resistentes”, “Não desista” Pedro agradeceu a gentileza, mas nada disso aliviou a dor de não saber. Às onze horas, ele olhou novamente para a estrada. Nada.
O resto do dia passou arrastando-se. Pedro sorria quando os clientes se aproximavam, mas isso não chegava a seus olhos. Seus movimentos atrás do carrinho eram precisos como sempre, mas mais lentos, mais moderados. Sem perceber, suas piadas e brincadeiras habituais haviam desaparecido. Até mesmo seu assistente falava mais baixo do que o normal.

Alguns alunos haviam parado de vir – aqueles que antes faziam desvios só para ver Lola, que ficava embaixo da árvore com ela enquanto comiam. Sua ausência deixou uma lacuna não apenas na vida de Pedro, mas na alma da própria loja. O burburinho havia diminuído, substituído por uma saudade silenciosa.
Já havia se passado uma semana desde a última vez que Lola foi vista. Pedro se pegava olhando para a esquina da rua em intervalos estranhos, esperando que ela aparecesse. Até mesmo o som distante de um cachorro latindo podia despertar sua esperança – e depois esmagá-la novamente quando não era ela.

Alguns dos alunos tentaram animar Pedro – oferecendo teorias de que ela poderia ter seguido um novo aluno para casa ou que alguém amoroso a havia adotado. “Talvez ela esteja vivendo no luxo agora”, disse um deles com um sorriso. Pedro sorriu educadamente, mas, no fundo, ele não acreditava nisso. Lola não o deixaria assim.
Quando a luz da noite se dissipou e Pedro limpou as últimas mesas, ele verificou seu telefone novamente. Uma nova mensagem. Um número que ele não reconheceu. Ele abriu a mensagem, com o coração batendo forte. A mensagem era curta e chocante. Alguém tinha visto um cachorro preto e branco ser atropelado por um carro – uma semana atrás.

O remetente explicou que morava a apenas alguns quilômetros da faculdade. Na época, eles relataram o acidente à polícia e depois tentaram esquecer o assunto – até que viram o pôster desaparecido hoje. “Achei que você deveria saber”, dizia a mensagem. Pedro olhou para a tela e seu coração despencou.
Pedro sentiu o chão escorregar sob ele enquanto lia a mensagem. Suas mãos tremiam enquanto ele digitava uma resposta, pedindo o nome da delegacia de polícia onde o relatório havia sido registrado. Em poucos minutos, ele tinha o endereço. Pegando as chaves, ele trancou o carrinho e saiu correndo.

A viagem parecia interminável. Sua mente girava em torno de todos os resultados possíveis – ela estava viva, mas ferida? Teria ido embora para sempre? Ele agarrou o volante, sussurrando orações sob sua respiração. Por favor, que ela ficasse bem. Por favor, que não seja ela. O silêncio da estrada era alto com o pavor.
Quando chegou à estação, Pedro mal parou para fechar a porta do carro. Ele entrou correndo, com a respiração irregular, e se aproximou da recepção. “O cachorro”, disse ele, com a voz trêmula. “O que foi atropelado pelo carro há uma semana. Preto e branco. Por favor, você sabe o que aconteceu com ela?”

O policial olhou para cima, com o rosto neutro no início e depois mudando lentamente à medida que se lembrava do caso. “Sim, recebemos um relatório. A cadela não sobreviveu. Ela faleceu pouco tempo depois. Nós a cremamos dois dias depois.” Pedro ficou ali parado, congelado, antes de seu rosto se enrugar e as lágrimas começarem a cair.
O tom do policial se suavizou. “Ela era sua?” Pedro assentiu com a cabeça, incapaz de falar. “Sim”, ele sussurrou depois de um tempo. “Ela era a minha Lola.” O policial hesitou, franzindo ligeiramente as sobrancelhas. “Estranho. A etiqueta em sua coleira dizia Rusty. Tem certeza de que a cadela era sua?” A respiração de Pedro ficou presa no meio do soluço, com um lampejo de esperança se acendendo.

Ele enxugou os olhos, com o coração batendo forte agora por um motivo diferente. “Rusty?”, ele repetiu. “Você poderia me mostrar uma foto?” O policial assentiu, virando-se para uma gaveta de arquivos atrás da mesa. “Sim, tiramos algumas para o registro. Espere um pouco.” Pedro prendeu a respiração enquanto o homem procurava.
O policial retornou com seu telefone, rolando a tela por alguns segundos antes de entregá-lo. Os olhos de Pedro pousaram na imagem – e ele exalou bruscamente. O cachorro na foto era preto e branco, sim, mas era um Boston Terrier. Não era a Lola.

Seu coração se partiu novamente com o destino do pobre animal, mas sob essa dor, uma sensação de alívio floresceu. Não tinha sido ela. Lola ainda poderia estar por aí. Em algum lugar. Machucada, perdida, assustada – mas viva. Pedro segurou o telefone por um momento, sussurrando um agradecimento trêmulo antes de devolvê-lo.
Do lado de fora da estação, Pedro ficou parado por um longo momento. Ele não conseguia se mexer. Suas emoções – tristeza, esperança, exaustão – formaram um nó em seu peito. Não era Lola, mas isso não significava que ela estava a salvo. Ele ainda não tinha ideia de onde ela estava. Ou se ela voltaria.

O encontro o deixou tão abalado que ele não queria ir para casa. Em vez disso, ele dirigiu de volta para a loja. A rua estava vazia, as persianas das lojas próximas estavam fechadas para a noite. Ele destrancou a porta, deixou as luzes apagadas, exceto uma lâmpada, e se sentou lá dentro – sozinho.
Seus olhos se voltaram para o canto sob a árvore. Ele imaginou Lola – confiante e pequena – esperando pacientemente na fila com sua folha. Ela deve ter visto os alunos entregando notas verdes, aquelas folhas de papel esvoaçantes, e pensou: é isso que os humanos fazem. Então ela encontrou sua versão. Sua própria moeda verde.

O pensamento quase o desanimou – mas então, ele se deu conta. A folha. Sempre do mesmo tipo. Do mesmo tamanho. A mesma cor. Lola não estava simplesmente pegando qualquer folha do chão. Ela tinha uma fonte. Pela primeira vez em dias, Pedro se sentou mais ereto. Se ele conseguisse encontrar a árvore, talvez a encontrasse.
Ele se moveu rapidamente, com os olhos varrendo as gavetas e prateleiras até avistá-la: uma folha seca e levemente enrolada ao lado do balcão do caixa. Com cuidado, ele a colocou na horizontal e tirou uma foto. No Google Images, ele fez o upload da foto. O resultado apareceu na tela: Folha de faia americana.

Pedro leu a descrição com bastante atenção. Com bordas suaves. Com veios. Levemente serrilhada. Seu fruto era uma casca marrom pontiaguda. Não era uma árvore que se encontrava nas calçadas. Ela precisava de espaço aberto. E muito. E então ele se deu conta – não em um lampejo, mas com uma lenta certeza. Ele sabia exatamente onde procurar.
Pedro se levantou, com a percepção pulsando dentro dele. Ele não se preocupou em apagar a luz ou endireitar uma única cadeira. Em um piscar de olhos, ele pegou as chaves, trancou a loja e saiu em direção à ala oeste do campus – sua respiração acelerava a cada passo na calçada.

Havia apenas um lugar no campus que poderia ter uma árvore como aquela – o gramado tranquilo atrás da antiga biblioteca de ciências humanas. Aquela parte da universidade existia há gerações, com amplas áreas gramadas e árvores maduras às quais ninguém mais dava muita atenção.
Ele chegou à beira do gramado, ofegante, com o peito apertado. Sob o brilho amarelo de um poste de luz, ele a avistou: uma árvore enorme erguida sozinha no meio da grama aberta, com galhos arqueados como um guarda-chuva. As folhas brilhavam levemente à luz. Tinha que ser aquela.

Ele diminuiu a velocidade perto da base, examinando o chão, os arbustos próximos, qualquer coisa que pudesse conter um rastro dela. “Lola”, ele sussurrou no início, aproximando-se mais. Nada. A noite respondeu apenas com o vento e o farfalhar dos galhos. Seu coração afundou. “Lola!”, ele chamou novamente, mais alto dessa vez. Ainda nada.
Mas então, um latido. Fraco. Distante. A esperança o invadiu como uma onda. “Lola!”, gritou ele, girando em direção ao som. Outro latido, mais claro dessa vez, atravessou os arbustos. Ele correu, tropeçando na grama irregular, chamando o nome dela repetidas vezes, seguindo a voz como se fosse uma tábua de salvação.

O som ficou mais forte até que ele parou em um espesso emaranhado de arbustos perto da extremidade do gramado. Com cuidado, ele separou os galhos – e lá estava ela. Atrás da cobertura, enrolada nas folhas secas, estava Lola – cansada, mas alerta, e ladeada por dois filhotes minúsculos que amamentavam tranquilamente ao seu lado.
Pedro ficou olhando, atônito. Seu peito se apertou quando se deu conta de que era por isso que ela não tinha vindo. Ele se ajoelhou, arrasado. Ele a pegou com muito cuidado, envolvendo seu corpo frágil com um braço. Um a um, ele levantou os filhotes minúsculos e os colocou no bolso interno de sua jaqueta, onde se aninharam no calor. Ele se virou e correu de volta para a pista, indo direto para o veterinário mais próximo.

A veterinária os recebeu imediatamente. Depois de um exame completo, ela sorriu e disse: “Ela está apenas fraca e desnutrida. Os filhotes também estão saudáveis” O alívio atingiu Pedro como uma inundação suave. Ele a agradeceu várias vezes, com os olhos embaçados e o coração batendo forte. Todos eles estavam bem. Isso era tudo o que importava.
Em poucos dias, Lola começou a recuperar suas forças. Pedro construiu uma casinha de cachorro aconchegante do lado de fora de sua casa, forrada com cobertores velhos e um teto para mantê-los secos. Ele a adotou totalmente para sempre – com muito medo de deixá-la ir embora novamente. Ela e os filhotes finalmente estavam em casa.

Hoje em dia, Lola ainda vai para o trabalho com Pedro no banco da frente de sua caminhonete, com a cabeça para fora da janela e as orelhas abanando ao vento. Ela ainda era a estrela da loja – a atração principal. Só que agora, ela não precisava trazer uma folha para ganhar uma refeição.