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Arthur percorreu o caminho familiar até a praia, suas botas rangendo levemente sobre o calçadão coberto de areia. Ele esperava gaivotas, ondas, talvez alguns banhistas mais cedo. Em vez disso, o que ele encontrou o fez parar de frio.

A linha d’água estava lotada – não de pessoas, mas de formas. Dezenas delas. Pretas, ovais e escorregadias como pedras encharcadas de óleo. Elas balançavam nas ondas rasas, imóveis a princípio. Então, uma delas estremeceu. Uma ondulação se espalhou. Outra pulsou fracamente, como algo respirando sob uma membrana. De repente, o ar parecia silencioso demais.

Arthur não gritou. Ele não podia. Não quando dúzias dessas coisas se moviam além das ondas – pretas, brilhantes e pulsantes. A praia estava cheia de risadas minutos atrás. Agora, eram gritos, pés se debatendo, brinquedos caídos e pais aterrorizados arrastando seus filhos para longe da água.

Arthur Finch acordou pouco antes do nascer do sol, como sempre fazia. Um brilho fraco estava começando a aparecer no leste, visível através da janela salgada de seu pequeno quarto. Ele podia ouvir o som suave das ondas batendo na praia de cascalho lá fora – constante e familiar.

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Ele se sentou e passou as pernas pela lateral da cama, com os pés pousando no piso frio e desgastado. O chalé ainda cheirava levemente ao fogo da noite anterior e ao ar salgado do mar – ambos os aromas com os quais ele se acostumou ao longo dos anos.

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Na cozinha, ele encheu sua velha chaleira e a colocou no fogão a gás. Enquanto ela esquentava, ele saiu para a varanda. O ar estava fresco e úmido com a umidade do início da manhã. Ele olhou para o mar – algo que fazia todos os dias sem pensar.

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A água estava calma e cristalina, a maré estava subindo. “Boa maré para pescar”, murmurou ele. Ele olhou para a biruta amarrada à grade. Ela mal se movia. De volta para dentro, ele serviu o chá e abriu o pequeno rádio no parapeito da janela.

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Na última semana, uma série de tremores submarinos havia subido a costa, seguidos de avisos sobre marés repentinas. Ele não tinha se atrevido a levar o Sea Spray para fora – não com a conversa sobre “riscos colossais de maré” e bancos de areia em movimento.

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Mas, nesta manhã, a atualização foi clara: nenhuma atividade sísmica foi registrada durante a noite, todos os avisos foram suspensos. Arthur soltou um suspiro que não tinha percebido que estava segurando. Finalmente, as coisas haviam se acalmado. Estava seguro novamente.

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Seu barco, o Sea Spray, era um sólido barco aberto de dezesseis pés pintado de um azul desbotado. Não era sofisticado, mas era confiável. Ele o tinha há vinte anos e o conhecia por dentro e por fora. Ele tirou a cobertura de lona, dobrou-a e a guardou.

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Em seguida, usando rolos e uma técnica experiente, empurrou o barco até a água. O barco atingiu a parte rasa da água com um leve respingo. Ele entrou no barco com suas botas de borracha e prendeu tudo. Uma última verificação – âncora, remos de reserva, colete salva-vidas embaixo do assento.

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O sol já estava alto, subindo constantemente. Sua luz refletia na água, fazendo-o apertar os olhos. Ele notou que a água estava mais silenciosa do que o normal. Normalmente, haveria gaivotas sobre a superfície, mas hoje, apenas alguns pássaros circulavam ao longe. Algo na quietude parecia estranho.

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Ele se lembrou das temporadas anteriores. A pesca havia diminuído. Talvez fosse a pesca excessiva ou talvez os peixes tivessem se mudado para mais longe. Ele também pegou mais plástico hoje em dia – sacolas, embalagens. Isso era desanimador.

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Ele desligou o motor. O silêncio repentino foi quebrado apenas pelo barulho da água batendo suavemente contra o casco. Ele fisgou uma minhoca que se contorcia, sentindo a textura familiar enquanto colocava a isca na linha. Antes de lançar a isca, ele fez uma pausa para apreciar o ar e o silêncio.

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Ele examinou o horizonte mais uma vez – um velho hábito – e se preparou para pescar. Arthur lançou a linha, observando a bobina assentar. Ele exalou lentamente, deixando que o silêncio o envolvesse. Mas então, algo no canto de seu olho desviou sua atenção.

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No horizonte nebuloso, três – não, quatro – formas escuras flutuavam na superfície da água. Todas elas tinham aproximadamente o mesmo tamanho, com espaçamento uniforme entre si. Pareciam ovos enormes, de cor preta fosca, balançando suavemente com a ondulação. Ele piscou e se sentou mais ereto, protegendo os olhos.

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Não eram boias. Muito grandes, muito lisas, muito simétricas. Também não eram baleias – nenhum movimento, nenhuma respiração, nenhum bico. Apenas… quietude. Uma quietude não natural. O mar estava calmo, mas a visão daqueles objetos lhe causou um choque de ansiedade. Arthur enrolou rapidamente a linha, com as mãos trêmulas.

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O carretel fez um barulho alto e sua respiração ficou mais rápida. Ele não conseguia tirar os olhos das coisas. Elas não pertenciam a ele. Algo nelas pressionava uma parte antiga de sua mente – profunda e instintiva – que dizia: Vá embora. Agora.

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Então, uma delas se moveu. Apenas um pouco, mas o suficiente para fazer um pequeno rastro se espalhar. Arthur congelou. Seguiu-se um zumbido baixo e pulsante, fraco e estranho, como algo orgânico e mecânico ao mesmo tempo. Uma vibração úmida, quase mais sentida do que ouvida.

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Sua boca ficou seca. Ele se afastou da borda do barco, com o coração batendo forte. Ele agarrou o leme com dedos rígidos e puxou a corda de arranque. O motor gaguejou e, em seguida, rugiu para a vida. Ele não esperou.

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Girou a proa e disparou de volta para a costa, com os olhos alternando entre o acelerador e as coisas atrás dele. Ao chegar ao porto, ele não se preocupou em amarrar o barco com cuidado. Ele saltou do barco, com os pés batendo na doca, e correu em direção ao posto da Guarda Costeira mais próximo.

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Um jovem oficial estava do lado de fora, entediado e folheando o celular. Arthur se aproximou, ainda sem fôlego. “Há algo lá fora”, disse ele, com a voz aguda e urgente. “Quatro delas – coisas flutuantes. Enormes. Em forma de ovo. Uma delas se moveu. Fez um barulho.”

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O policial finalmente olhou para cima, levantando uma sobrancelha. “Mexeu-se?” Arthur apontou para o mar. “A cerca de um quilômetro de distância. Eu os vi claramente. Não são destroços. Um deles se virou e fez um som que eu nunca tinha ouvido antes.”

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O oficial olhou para a água e depois de volta para Arthur. “Pode ser o sonar de um submarino, talvez de baleias. Às vezes, o som é muito estranho lá fora.” Arthur respondeu: “Não são baleias! Elas eram do tamanho de uma bola de basquete, pretas e lisas, e não se moviam como algo natural.”

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“Pesco aqui há décadas. Nunca vi nada parecido.” O policial ergueu as mãos. “Está bem, está bem. Mas, a menos que estejam causando um perigo, não posso fazer muito sem ordens. Posso enviar pelo rádio, mas não posso deixar meu posto agora.” Arthur o encarou, incrédulo. “Você acha que estou inventando isso?”

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O oficial hesitou, depois deu um pequeno e cansado encolher de ombros. “Acho que talvez você tenha visto algo incomum. Talvez. Mas recebemos muitas ligações. Troncos flutuantes, caiaques perdidos, até mesmo sombras de nuvens estranhas. Vou fazer uma anotação, mas a menos que alguém esteja com problemas…”

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Arthur se afastou, irritado. Sua pulsação ainda estava acelerada em seus ouvidos. Ele precisava de alguém que visse o que ele tinha visto. Ele precisava de alguém que acreditasse que aquilo era real. Ele se dirigiu para a trilha da praia, com as botas chutando a areia seca. Seu coração estava acelerado.

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Os objetos ainda estavam lá fora, ele podia vê-los – apenas uma mancha escura na superfície da água agora. Ele precisava de alguém – qualquer pessoa – para realmente olhar. Para confirmar que não estava enlouquecendo. Um casal estava deitado em uma toalha perto das dunas. Arthur se aproximou, tentando parecer calmo.

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“Desculpe-me. Está vendo aquilo lá fora?”, perguntou ele, apontando. “Algo flutuando – escuro, em formato oval.” A mulher olhou para cima e apertou os olhos. “Você está falando daquele navio grande?”, perguntou o homem, protegendo os olhos.

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“Não, não é o navio-tanque”, disse Arthur. “Mais perto. Muito mais perto. Logo acima da ondulação.” O casal trocou um olhar. “Não estou vendo nada”, disse a mulher com um meio sorriso. O homem deu de ombros. “Talvez sejam apenas algas marinhas ou algo assim.” Eles voltaram a conversar como se ele não estivesse lá.

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Ele tentou novamente, dessa vez com um passeador de cães. Depois, com um homem segurando uma câmera. Depois, com uma família que estava montando um guarda-sol na praia. Todas as vezes, a resposta era a mesma. Ou eles não o viam ou não se importavam. Sua urgência estava começando a parecer absurda – até para ele mesmo.

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“Por que ninguém simplesmente olha?”, ele murmurou. Sua voz ficou um pouco rouca. Então, ele avistou um adolescente encostado em uma duna, folheando o celular enquanto sua família desempacotava as coisas atrás dele. Arthur se aproximou e estendeu o binóculo. “Ei, aqui. Dê uma olhada rápida no mar”

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O garoto piscou os olhos, relutante. “Por quê?”, perguntou ele. “Há algo estranho lá fora. Faça-me a vontade”, disse Arthur. Com um suspiro teatral, o garoto pegou os binóculos e os ajustou. Ele ficou olhando para a distância por alguns instantes, imóvel. Arthur esperou, com as mãos inquietas e o coração batendo no peito.

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O garoto finalmente baixou os binóculos e os devolveu. “Apenas ondas”, disse ele sem rodeios. Depois, voltou ao telefone, sem se impressionar. Arthur ficou congelado, segurando os binóculos com força. Lentamente, ele os aproximou de seus olhos e examinou a água novamente, com a mandíbula apertada.

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As formas haviam desaparecido. Ou submergiram. Ou se afastaram ainda mais. A superfície estava vazia agora. Nada fora do comum. Ele ficou olhando para ela de qualquer maneira, com a respiração fraca e os olhos procurando. Mas não havia nada. Apenas a ondulação da maré e o brilho branco da luz do sol.

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Ele baixou o binóculo, com os braços pesados. Sua boca estava seca. Será que ele havia imaginado isso? Não. Não, tinha sido sólido demais. Muito real. Ele ainda podia sentir a inquietação que aquilo provocava em suas entranhas. Havia algo lá fora. Algo que ninguém mais queria reconhecer.

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Ele ficou ali por mais um momento, a praia quente zumbindo atrás dele com risadas, cães latindo e conversas ao vento. Ele se sentiu completamente desconectado de tudo. Era como se o oceano tivesse sussurrado algo que só ele tinha ouvido. Só ele tinha visto.

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Então, ele se virou e começou a caminhar – rapidamente – de volta ao seu chalé. Se ninguém mais olhasse, ele o faria. Se ninguém acreditasse nele, ele conseguiria provas. Ele a encontraria novamente. O que quer que fosse, não havia desaparecido. Na verdade, não. Ele conhecia o mar muito bem para isso.

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Ele foi em direção à área onde tinha visto a forma pela última vez. O sol estava mais alto agora, brilhando na água, dificultando a visão. Ele circulou por quase uma hora, sua frustração anterior dando lugar a uma persistência obstinada.

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Então ele o viu. Apenas uma lasca de escuridão rompendo a superfície. Os ovos estavam quase totalmente submersos, com exceção de um. Era por isso que os outros não conseguiam vê-lo da praia e por isso ele o havia perdido. Ele estava mais baixo na água agora.

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Ele desligou o motor e se aproximou. Era definitivamente em forma de ovo, de um preto fosco e sem brilho, mais ou menos do tamanho de uma bola de basquete. A superfície era estranhamente lisa, quase como couro ao seu toque imaginário. Não havia marcas, nem costuras.

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Com um esforço considerável, usando um gancho de barco e toda a sua força, ele conseguiu empurrar e puxar uma das extremidades em direção à lateral de seu pequeno barco. Ele queria ver se conseguia enrolá-la para dar uma olhada melhor.

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Quando ele se levantou, ouviu um som suave e úmido de estalo. O objeto se esvaziou um pouco com o esforço e um fluido espesso, preto-avermelhado, saiu, espirrando em suas mãos e antebraços. O líquido respingou no convés, escorrendo pela lateral do barco em faixas viscosas.

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Arthur recuou, soltando um suspiro estrangulado. O líquido era espesso como óleo de motor usado, mas com um brilho acobreado e um cheiro levemente metálico e salgado. Ele se agarrava à sua pele em gotas pesadas, recusando-se a escorrer com a maresia. Ele olhou para as mãos, com o coração batendo forte.

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Ele se afastou da coisa, tropeçando um pouco enquanto procurava o cabo do motor. Ele o puxou com força. O motor tossiu, gaguejou e depois ganhou vida. Ele não olhou para trás. O que quer que fosse aquela coisa, ele não queria ter mais nada a ver com ela.

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De volta ao cais, ele saltou antes mesmo de o barco se chocar contra a amarração. Subiu correndo a colina até o chalé, com as botas batendo no chão, os braços estendidos ao lado do corpo como se estivessem pegando fogo.

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No banheiro, ele se esfregou com sabão e água fumegante até que seus braços ficassem crus. A mancha preto-avermelhada escorreu para a pia, mas não desapareceu completamente. Mesmo depois da terceira esfregação, sombras tênues do fluido se agarravam à sua pele. Como se tivesse se impregnado nele.

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Ele se inclinou contra a pia, respirando pesadamente, olhando para os antebraços manchados. Não havia dor. Não havia queimação. Mas ele não conseguia afastar a sensação de que algo havia entrado. Algo estranho. Algo que não foi feito para a superfície.

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Ele enrolou uma toalha nos ombros e saiu para fora, precisando de ar. O sol estava mais alto agora. A praia visível de sua varanda estava mais movimentada. Mas algo o atormentava. Seus braços pareciam apertados. Ou com coceira. Ou estranhos. Ele olhou para baixo. Ainda não havia vermelhidão. Nenhuma erupção cutânea. Apenas… uma sensação.

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Placebo, ele disse a si mesmo. Você está se assustando. Mas ele não conseguia parar de tocar sua pele. Ela estava quente. Ou talvez fosse o sol. Ou o pânico. Ele caminhou, precisando ver a praia – precisando de uma distração ou de um sinal de que o mundo ainda estava normal.

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Ele estava na metade do calçadão quando o primeiro grito soou. Depois veio outro. As pessoas estavam apontando para o mar, afastando-se da beira da água. Arthur se virou instintivamente e congelou. Havia mais deles agora.

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Dezenas de formas escuras e ovais flutuavam na ondulação, muito mais perto da costa do que antes. Algumas balançavam suavemente. Outras se inclinavam em ângulos estranhos. Algumas tinham costuras ou fendas visíveis, como bocas ou rachaduras esperando para se abrir. Um zumbido baixo, quase subsônico, encheu o ar.

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Os suspiros se transformaram em gritos. Os gritos se transformaram em pânico. As famílias agarraram seus filhos. Os cães latiam e puxavam as coleiras. Os refrigeradores foram deixados para trás enquanto as pessoas corriam. A tarde calma se transformou em um caos.

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Arthur ficou imóvel no início, olhando para a visão impossível, uma mistura surreal de horror e validação o inundando. Então, quando um dos ovos perto da costa se sacudiu de forma não natural – apenas um estremecimento, um solavanco – ele se pôs em movimento. Ele se virou e correu com os outros.

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Arthur correu pelo caminho das dunas, com o coração batendo forte e a respiração ofegante. Ele não parou até chegar à sua caminhonete, abrindo a porta com as mãos trêmulas. Ele a fechou atrás de si e girou a chave. O motor ganhou vida e o rádio foi ligado.

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Ele girou o botão, passando pela estática e pelo rock suave até chegar a uma estação de notícias local. Tempo. Trânsito. Um segmento sobre uma venda de bolos. Nada. Nenhuma menção ao caos que ele acabara de testemunhar – nenhum relato sobre as estranhas formas negras ou as pessoas fugindo da praia aterrorizadas.

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Ele se recostou no assento, com o suor esfriando em sua pele. Que diabos está acontecendo? Ele olhou para a mão que segurava o volante. O pigmento preto-avermelhado ainda estava lá, fraco, mas inegável. Ele esfregou a mão com o polegar. Ainda não havia dor. Ainda não havia erupção cutânea. Mas não havia desaparecido.

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Por um tempo, ele ficou sentado ali – observando a estrada vazia pelo para-brisa, com o rádio murmurando ao fundo. Sua mão estava formigando agora. Ou talvez ele estivesse imaginando isso. De qualquer forma, o silêncio do mundo lá fora só piorava a situação. Como era possível que ninguém estivesse dizendo nada?

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Depois de quase uma hora de espera, de dúvidas, de olhar para sua pele até que a cor começasse a embaçar em sua visão, Arthur não aguentou mais. Ele girou a chave novamente e colocou a caminhonete de volta na estrada, indo em direção à praia. Mas a praia não estava mais aberta.

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A estrada de acesso principal estava bloqueada por uma fila de vans brancas sem identificação e SUVs escuros. A fita amarela tremulava fracamente com a brisa do mar. Homens de blusão preto estavam parados em intervalos, com os olhos escondidos atrás de óculos escuros espelhados.

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Arthur estacionou mais adiante na pista e se aproximou a pé. Ao se aproximar, um homem de terno escuro entrou em seu caminho. “A praia está fechada no momento, senhor”, disse o homem com clareza. “Limpeza ambiental. Rotina.” Seu tom era educado, mas absoluto.

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Arthur olhou para além dele, tentando vislumbrar o que estava acontecendo atrás das vans. “O que você quer dizer com isso?”, ele perguntou. “E quanto a todas essas coisas na água, os ovos?” A expressão do homem não mudou. “Não tenho certeza a que está se referindo, senhor. Por favor, retorne ao seu veículo”

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Os ombros de Arthur caíram. Ele se virou ligeiramente, prestes a desistir – quando algo o fez falar novamente. “Eu toquei em um deles.” A postura do homem mudou instantaneamente. “Tocou?” Arthur assentiu lentamente com a cabeça.

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“Ela se abriu. Alguma coisa saiu. O que quer que fosse, se espalhou por mim. Em meus braços. Eu esfreguei, mas a mancha ainda está lá.” O homem levou o pulso à boca. “Senhora, temos aqui uma pessoa que alega ter tido uma possível exposição. Iniciando o protocolo secundário.”

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Em seguida, ele se voltou para Arthur. “Você precisa vir comigo.” Arthur não resistiu. Ele estava muito cansado, muito sobrecarregado. O homem o conduziu para além dos veículos e por um portão vigiado no perímetro.

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Uma grande tenda havia sido erguida além das dunas, branca e com geradores. Lá dentro, estava mais frio. Estéril. Uma fileira de cadeiras dobráveis estava alinhada em uma parede. Alguns funcionários com jalecos e roupas limpas se movimentavam entre mesas e contêineres lacrados.

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E em uma plataforma elevada, sob uma luz azul suave, estava um dos ovos intactos. Perto dali, uma mulher de jaleco branco ajustava um monitor e depois se voltava para Arthur. “Você é o pescador?”, ela perguntou. “Aquele que tocou o ovo?”

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Arthur assentiu lentamente com a cabeça. Seus olhos estavam fixos no ovo. Ele pulsava levemente sob sua superfície emborrachada. Vivo. Inegavelmente vivo. A mulher pegou um tablet. “Então temos muito o que conversar”

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Arthur engoliu. Sua voz saiu rouca. “Tudo começou esta manhã. Eu só vi três ou quatro deles no começo. Depois do recife, apenas flutuando. Pensei que talvez meus olhos estivessem me pregando uma peça.” A mulher olhou para cima, mas não disse nada. Ela continuou digitando.

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“Tentei cutucar um deles com um anzol. Ele estourou, mais ou menos. Escorreu um material grosso e avermelhado por todos os meus braços. Não cheirava mal, só estava… errado. Quando cheguei à praia, havia dezenas delas. Juro – dezenas. Perto o suficiente para as crianças caminharem até eles.”

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Nesse momento, um dos homens de terno que estava por perto trocou um olhar com outro. A mulher finalmente olhou para ele. “Estamos cientes do incidente na praia”, disse ela calmamente. “Você não foi o único que os viu.”

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“Mas você foi o único que chegou tão perto”, disse outra voz vinda de trás – um cientista que trazia uma bandeja de frascos. “Preciso saber o que está em mim”, disse Arthur, com a voz afiada. “Está em minha pele. Já esfreguei e esfreguei. Não sai. Dá coceira, ou talvez eu ache que dá coceira – nem sei mais.”

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“Vamos examiná-lo. Mas primeiro…” A mulher acenou com a cabeça para dois funcionários perto da aba da tenda. “Protocolo de quarentena, por favor.” Arthur se enrijeceu. “Vocês vão me trancar aqui?” “Apenas por precaução”, disse ela. “Não estamos tratando você como um perigo. Estamos tratando-o como um dado.”

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Eles o conduziram a um canto separado, dividido com uma grossa cobertura de plástico. Uma cadeira. Um berço. Algumas garrafas de água. Nenhum relógio. Nenhuma resposta. Apenas o zumbido do ar filtrado e o ocasional murmúrio abafado do outro lado. Ele se sentou. Esperou. As horas se passaram.

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De onde estava sentado, ele podia ver os outros cientistas andando, fazendo anotações, apontando para tablets, ocasionalmente se reunindo em torno do estranho ovo. Eles trouxeram luzes especializadas, instalaram equipamentos de escaneamento, coletaram amostras em tubos selados.

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Arthur limpou a garganta e gritou. “Ei, alguém pode pelo menos dar uma olhada nisso?” Ele levantou o braço contra a parede transparente. A pigmentação ainda estava lá – fraca, mas visível, como um hematoma que não desaparecia.

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Ninguém respondeu. Nem mesmo um olhar. Ele percebeu que não estavam ignorando-o para serem cruéis. Estavam apenas absorvidos demais pela coisa no centro da tenda. Então, houve uma mudança na energia. Um dos cientistas mais jovens, um homem com um jaleco amassado e óculos embaçados, chamou os outros. “Dr. Elsom! O senhor precisa ver isso!”

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A mulher que havia falado primeiro com Arthur se aproximou rapidamente. Os outros o seguiram. Um pequeno monitor foi virado para o grupo. Murmúrios animados encheram a tenda. Alguém bateu palmas. Arthur se inclinou para a frente, tentando captar alguma coisa do burburinho.

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Momentos depois, a Dra. Elsom voltou. Sua expressão estava diferente agora – alerta, brilhante, com uma estranha mistura de admiração e urgência. Ela entrou na área de quarentena de Arthur, desta vez com um olhar mais gentil.

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“Sabemos o que eles são”, disse ela. Arthur se levantou. “Diga-me.” “São ovos”, ela disse claramente. “Mas não são frescos. Eles são fossilizados. Alguns têm dezenas de milhares de anos, preservados sob imensa pressão em camadas de sedimentos a quilômetros abaixo do fundo do oceano.”

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Sua sobrancelha se franziu. “Então eles estão… mortos?” “Dormentes”, ela corrigiu. “Ou, mais precisamente, estavam em uma espécie de estase. Congelados no tempo.” “Os tremores da semana passada não foram sentidos apenas aqui. Eles perturbaram as profundezas do oceano.”

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“Algumas camadas se abriram. Esses ovos -” ela gesticulou em direção à mesa – “provavelmente estavam enterrados em uma fossa marinha profunda. A atividade sísmica os deslocou, e uma rara combinação de correntes os levou para cima.” Arthur ficou quieto, absorvendo o peso da mensagem.

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“Acreditamos que elas pertenciam a uma espécie de lula gigante”, continuou Elsom. “Não como as que conhecemos hoje. Elas eram… antigas. Inteligentes. Possivelmente os maiores predadores de sua época. Sua biologia sugere uma adaptação às profundezas esmagadoras…”

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Arthur olhou para seus braços. “E a mancha?” Elsom sorriu levemente. “A pigmentação incorporada em sua pele é um tipo único de resíduo. Esse tom avermelhado? É o mesmo composto que provavelmente deu a essas lulas sua cor profunda – um composto que as ajudou a absorver a luz bioluminescente e a permanecer invisíveis para predadores e presas.”

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“Então… não é perigoso?” Ela hesitou. “Não acreditamos que seja. Você é o primeiro ser humano a entrar em contato direto com o fluido. Mas continuaremos monitorando. Você pode estar carregando o primeiro vestígio registrado da biologia dessa criatura em terra. Isso é… inestimável para nós”

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Arthur deu uma risada seca. “E agora? Vou para casa com uma lembrança de um monstro?” “Não é um monstro”, disse ela calmamente. “Uma mensagem do passado da Terra. Um lembrete do que não sabemos. O que ainda dorme lá embaixo.”

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Ele olhou para o ovo pulsante atrás dela. Seu ritmo combinava com algo nele agora. Um pulso nas profundezas. “E você”, disse ela, “viu o que ninguém mais viu. Esse… é um segredo que poucos têm o privilégio de entender.

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E você ajudou a dar contexto a ele” Arthur assentiu lentamente com a cabeça. Pela primeira vez em horas, ele exalou. O medo ainda estava lá – mas agora ele se misturava a outra coisa. Maravilha. Arthur olhou para além dela, para a borda da tenda, onde uma aba tremulava com o vento da costa.

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Além disso, havia novamente o oceano. Ainda ondulante, ainda amplo, ainda desconhecido. Ele pensou no fundo do mar. Em criaturas que nunca viram a luz. Nas montanhas subaquáticas mais altas que o Everest e nas trincheiras mais profundas que o medo.

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Ele pensou no quanto ainda não havia sido explorado. E, pela primeira vez em seus setenta e um anos, Arthur Finch não se contentou apenas em observar a maré. Ele queria saber o que mais poderia surgir das profundezas.

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