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O dia tinha sido perfeito, até que não foi mais. Claire estava na metade de um capítulo, o silêncio suave da maré em sincronia com sua respiração, quando um jato repentino e frio atingiu suas pernas e seu tronco nus. Ela ofegou, erguendo-se quando as gotas escorreram por sua pele, escurecendo o tecido de sua capa.

Seu olhar se voltou para a fonte. O garoto já estava correndo, com o balde de plástico balançando loucamente, sua risada seguindo atrás como a cauda de uma pipa. Claire escovou as manchas molhadas em suas roupas com cuidado deliberado, mas a serenidade pela qual havia lutado durante toda a semana já estava começando a se desfazer.

Por um momento, ela pensou em deixar para lá. Um respingo descuidado não precisava estragar o dia. Mas então, ao longe, ela o viu enchendo o balde novamente – a água escorria pela borda enquanto ele cambaleava em direção a ela com um sorriso que prometia mais problemas. Sua mandíbula se contraiu. A calma de Claire estava prestes a ser testada.

Claire havia saído de seu apartamento naquela manhã com uma dor de cabeça latejante e um telefone cheio de e-mails não respondidos. Como secretária de longa data da Bellingham & Co., ela já havia lidado com a agenda cuidadosamente organizada de seu chefe aposentado, o Sr. Bellingham; um homem que, apesar de ser exigente, pelo menos valorizava sua diligência.

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Mas o filho dele, que havia assumido o cargo desde que o pai deixara o cargo, era uma questão completamente diferente. Ethan Bellingham Jr. era um herdeiro mimado com mais ego do que experiência. Ele dava ordens como se fossem favores e tratava cada pequeno inconveniente como uma afronta pessoal.

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O trabalho de Claire havia passado de estressante, mas administrável, para sufocante sob suas constantes picuinhas, exigências impulsivas e intermináveis e-mails “urgentes” que raramente tinham alguma urgência real. Aquela semana tinha sido uma das piores até então.

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Três reuniões consecutivas duraram mais do que deveriam, cada uma delas dominada pelos comentários condescendentes de Ethan Jr. e pelas mudanças de última hora. Quando a última chamada terminou, Claire se sentiu esgotada, presa entre sua lealdade à empresa e a certeza crescente de que seu chefe era pouco mais do que uma criança birrenta vestida de terno.

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Mas a última semana tinha sido completamente diferente. Três reuniões matinais consecutivas testaram sua paciência até o limite, cada uma delas um ciclo interminável de desculpas vagas, demandas conflitantes e novos problemas despejados em seu prato.

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Quando a última chamada terminou, ela se sentia esgotada como uma toalha úmida. Ela sabia que, se ficasse em sua mesa, seria puxada para mais incêndios para apagar, então fechou o laptop, ignorou as chamadas recebidas e decidiu fugir.

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A praia sempre foi seu santuário; um dos poucos lugares em que ela podia colocar o telefone no modo silencioso sem se sentir culpada. Fazer as malas para a viagem parecia quase uma cerimônia. Colocou o seu livro de bolso desgastado na bolsa, aquele que estava guardando há semanas, mas que nunca tinha tido calma para começar.

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Colocou uma garrafa térmica de chá gelado, colocou um pequeno lanche e acrescentou seu chapéu de sol enorme; uma coisa de palha frouxa que ela reservava para os dias em que queria se misturar ao ambiente. A viagem de carro era exatamente o que ela precisava.

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O tráfego era leve, a estrada costeira serpenteava entre dunas iluminadas pelo sol e vislumbres de água azul cintilante. Com as janelas abertas, o ar quente trazia o cheiro de sal e algas marinhas, e a tensão em seus ombros começou a diminuir pela primeira vez em dias.

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Quando ela finalmente pisou na areia, o som da maré rolando parecia um bálsamo. Ela passou pelos aglomerados mais movimentados de guarda-sóis e toalhas de praia, não procurando solidão completa, mas apenas distância suficiente para abafar o zumbido das conversas e os gritos das crianças.

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Por fim, ela encontrou um pedaço de areia longe o suficiente da entrada principal para se sentir tranquila, mas ainda à vista dos outros frequentadores da praia. O suave assobio das ondas a atingiu claramente aqui, interrompido apenas pelo grito ocasional de uma gaivota.

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Ela estendeu a toalha com cuidado, tirou as sandálias e se acomodou na cadeira, colocando a garrafa térmica de chá gelado ao alcance da mão. Ela inclinou o corpo de tal forma, apoiando-se para afundar no conforto familiar de seu livro.

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O sol estava quente, mas não opressivo, as gaivotas traçavam arcos preguiçosos sobre a cabeça e o ritmo suave da maré começava a desfocar todas as conversas estressantes da semana. Durante a primeira meia hora, foi perfeito. Então, ouviu-se o barulho de um refrigerador sendo arrastado pela areia.

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Claire olhou para cima e viu uma mulher chegando com um menino a reboque, de sete, talvez oito anos, com os pés descalços deixando rastros irregulares enquanto ele pulava de um lado para o outro em um entusiasmo mal contido. Para desespero de Claire, eles pararam a apenas alguns metros de distância, apesar do espaço aberto ao redor.

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O menino segurava um pequeno balde de plástico, disparando uma série de frases em voz alta e meio terminadas para a mãe. Ela tentou mantê-lo imóvel com uma mão enquanto passava protetor solar em seus ombros, mas ele se contorcia e gritava dramaticamente, sua voz chegando facilmente aos ouvidos de Claire.

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Claire baixou o olhar de volta para a página, determinada a ignorá-lo, mas o tom estridente cortou sua concentração mesmo assim. Antes mesmo de passar o protetor solar, o garoto se soltou e correu em direção à costa, com o balde balançando loucamente.

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O olhar de Claire se voltou para a mãe, esperando algum sinal de alarme. Mas a mulher simplesmente esfregou as palmas das mãos na areia da bermuda, tirou um elegante laptop prateado da bolsa e começou a digitar sem sequer olhar para o filho.

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Claire se perguntou: será que ela realmente não se incomodava com o fato de ele correr direto para a água? Ou será que ela não se importava? De qualquer forma, era um tipo de calma desprendida que Claire não conseguia decidir se invejava ou se ressentia.

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Ela tomou um gole lento de sua garrafa térmica e tentou, mais uma vez, deixar o som das ondas abafar todo o resto. Foi quando o garoto voltou pela areia, gritando algo para a mãe sobre a “água fria” e os “caranguejos”, pontuando cada palavra com uma pisada que espirrava areia fina sobre a toalha de Claire.

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A mulher não olhou para cima, com os dedos ainda voando pelo teclado, murmurando apenas um distraído “Isso é bom, querido” antes de voltar totalmente para a tela. As idas do garoto ao litoral se tornaram um loop: correr para a água, pegar um balde cheio, correr de volta e despejá-lo em algum lugar questionável.

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Às vezes, era na areia, só para espirrar. Às vezes, era em um poço raso que ele havia cavado, criando um pântano em miniatura. Uma vez, foi diretamente em sua própria toalha, encharcando o canto onde estava um livro de bolso.

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A cada vez, Claire olhava de relance para a mãe, esperando por um lampejo de preocupação. Isso nunca acontecia. Os olhos da mulher permaneciam fixos no laptop, com os dedos se movendo rapidamente, parando apenas para tomar um gole da garrafa de água.

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Quando o garoto perdeu o interesse nas corridas de água, descobriu que a areia seca era uma excelente munição. Ele começou a cavar com as duas mãos, pegando os torrões e jogando-os por cima do ombro sem olhar.

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Claire pegou um jato nas canelas, os grãos finos grudando no protetor solar. Ela os afastou lentamente, lembrando-se de que não estava aqui para começar algo. Mas o barulho era quase pior do que a bagunça.

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Os comentários agudos do garoto, metade gritos, metade explosões incoerentes de empolgação, se elevavam acima do ritmo da maré. Ele narrava tudo, desde a forma de sua pilha de areia até sua teoria de que “um verdadeiro tesouro” estava enterrado em algum lugar próximo.

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Claire tentou se concentrar em seu livro, mas as palavras continuavam a nadar. A tensão em seu pescoço, que havia se dissipado durante a viagem até aqui, estava voltando. Esse era para ser o canto mais tranquilo da praia. Ela o havia escolhido com cuidado.

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No entanto, aqui estava ela, compartilhando-o com uma criança que não tinha controle de volume e uma mãe que parecia habitar um universo totalmente diferente. Quando o menino passou correndo por ela novamente, dessa vez arrastando um fio de algas molhadas como uma serpentina, Claire exalou pelo nariz e tomou um longo gole de sua garrafa térmica.

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Ainda não. Ela não deixaria que esse dia se transformasse em outro confronto. Mas o fio fino de sua paciência estava se desgastando, um grão de areia de cada vez. A próxima passagem foi a que fez isso. O garoto atravessou a areia novamente, dessa vez com um balde meio cheio que deixava um rastro pontilhado de água do mar em seu rastro.

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Ao passar, um forte respingo caiu sobre a página aberta do livro de Claire, deformando o papel instantaneamente. Ela congelou por um instante, olhando para a borda ondulada da página, depois fechou o livro lentamente. Sua pulsação batia forte em seus ouvidos.

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Isso poderia ser uma coisa simples, disse a si mesma; uma conversa breve e civilizada, não uma discussão. Ela olhou para a mãe, que ainda estava debruçada sobre o laptop, com o brilho da tela refletindo em seus óculos escuros.

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“Desculpe-me”, disse Claire, com a voz firme, mas com uma certa restrição. “Seu filho acabou de jogar água no meu livro. Poderia pedir a ele para ter um pouco mais de cuidado?” A mulher olhou para cima brevemente, o tipo de olhar que se dá quando se é interrompido no meio de uma frase em um e-mail.

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“Oh, tenho certeza de que foi um acidente”, disse ela, oferecendo um sorriso fino antes de voltar a olhar para baixo. “Ele só está animado por estar aqui.” “Entendo”, respondeu Claire, forçando as palavras com a mandíbula apertada, “mas talvez ele pudesse manter a água mais perto da costa?”

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A mulher fez um aceno vago com a cabeça, do tipo que não prometia nada, e voltou a digitar. Alguns segundos depois, Claire ouviu novamente a risada do garoto, que já estava correndo de volta para a água. Claire pegou sua garrafa térmica e tomou um gole longo e lento, tentando deixar que o frescor lavasse a frustração.

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Mas a verdade é que agora parecia que o relógio estava correndo, fazendo uma contagem regressiva para o momento em que sua paciência se esgotaria completamente. Claire tentou voltar ao seu livro, dizendo a si mesma que o aceno indiferente da mulher era suficiente. Mas era um pensamento ilusório.

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A energia do garoto pareceu dobrar depois da conversa, como se a tentativa de contenção dela tivesse sido um tipo de desafio que ele precisava enfrentar. O primeiro novo incidente ocorreu minutos depois. Ele havia encontrado uma vara em algum lugar ao longo da linha da maré e agora a estava arrastando pela areia, esculpindo padrões em loop que cruzavam toalhas e bolsas de praia sem discriminação.

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Claire nem percebeu que ele se aproximava até que a vara raspou na borda de sua própria toalha, deixando uma faixa de areia úmida e arenosa em seu tornozelo. Ela olhou para cima com atenção, mas o garoto já havia se afastado, ocupado demais “desenhando uma pista de corrida” para perceber.

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Ela se virou novamente para a mãe dele. A mulher estava inclinada para perto do laptop, com as sobrancelhas franzidas em concentração e os dedos se movendo em ritmo acelerado. O que quer que ela estivesse fazendo a havia engolido por completo. Claire conteve a vontade de falar novamente.

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Ainda não, ela disse a si mesma. Apenas… ainda não. Ela pensou em arrumar as malas e ir para um lugar mais calmo, em algum lugar longe o suficiente para que não precisasse acompanhar cada movimento do garoto. Mas, ao examinar a praia, ela viu que as faixas de areia abertas haviam quase desaparecido.

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Mais guarda-chuvas haviam surgido como cogumelos, os coolers estavam sendo arrastados para seus lugares e as toalhas estavam estendidas nos últimos espaços que restavam. Se ela se movesse agora, só trocaria uma multidão por outra.

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De qualquer forma, o segundo incidente não lhe deu esse luxo. O garoto havia voltado a cavar, lançando grandes arcos de areia seca no ar. Aconteceu tão rápido que Claire não teve tempo de se proteger; um jato de grãos afiados e queimados pelo sol atingiu suas pernas, sua camisa e, o pior de tudo, a boca aberta de sua garrafa térmica.

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Ela ficou congelada por um momento, observando a areia afundar no líquido âmbar, com pequenas partículas girando como areia em um globo de neve. Quando finalmente se moveu, foi de forma lenta e deliberada. Ela fechou a tampa da garrafa térmica, escovou-se e olhou para suas roupas.

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O tecido leve de sua capa se agarrava desajeitadamente onde o suor e a areia se misturavam, e ela podia sentir uma fina camada arranhando sua pele. Um riso vazio quase escapou dela. Ela tinha vindo aqui em busca de serenidade e agora não conseguia nem tomar um gole de sua própria bebida sem sentir o gosto da própria praia.

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A mãe, ainda alheia, não olhou para cima nenhuma vez. Claire soube então que o que quer que viesse a seguir, ela não iria mais engolir. Claire limpou os últimos grãos de areia teimosos do braço e finalmente se levantou.

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Sua sombra se estendeu sobre a toalha da mãe quando ela se aproximou, com o livro debaixo de um braço e a garrafa térmica no outro. “Olá, desculpe incomodá-la”, começou Claire, mantendo a voz uniforme. “Estou realmente tentando ser paciente, mas seu filho acabou de jogar areia na minha bebida e em mim. Será que ele poderia brincar um pouco mais longe?”

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Os dedos da mulher pairaram sobre o teclado por um instante antes de ela se inclinar para trás, levantando os óculos escuros com um dedo. “Ele está apenas se divertindo”, disse ela, oferecendo um sorriso educado que não chegou a alcançar seus olhos. “Crianças são crianças.”

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“Eu sei”, disse Claire, suavizando o tom de voz. “Ele está animado. Eu entendo. Mas é que… isso estava cheio há um minuto.” Ela levantou a garrafa térmica um centímetro, um fino anel de areia flutuando na superfície. “E eu estou coberta.”

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As conversas nas toalhas próximas diminuíram. Uma família com dois lugares à frente olhava de um lado para o outro, como espectadores em um jogo; sob um guarda-sol desbotado pelo sol, um par de adolescentes fingia não olhar e não conseguia.

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A mãe passou os olhos por Claire e olhou para o garoto, que já estava correndo em direção à água novamente, e depois voltou para o laptop. “É uma praia”, disse a mulher levemente, com um ombro levantado. “A areia acontece.” “É claro”, respondeu Claire.

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“Não estou pedindo silêncio – apenas um pouco de espaço para que ele não espirre nas pessoas ou jogue areia nas coisas delas. Há bastante espaço.” O sorriso da mulher se transformou em algo frágil. Ela tocou o trackpad uma vez, como se quisesse enfatizar o ponto.

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“Não preciso de conselhos sobre como cuidar do meu filho, muito obrigada.” Um pequeno silêncio se abriu. O homem mais velho que havia notado antes balançou a cabeça levemente, uma simpatia que não chegou a intervir.

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Em uma toalha próxima, uma mulher sentada de pernas cruzadas encarou Claire com um olhar que era ao mesmo tempo de pena e resignação, como se dissesse: “Você não vai ganhar essa”. Claire soltou um suspiro firme. “Não estou tentando lhe dizer como ser pai”, disse ela, mais gentil agora. “Só estou pedindo um pouco de consideração.” “Então pense em se mudar”, disse a mãe, já voltando para a tela. “

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Há muita praia.” Ela voltou a digitar, o suave estalar das teclas como um final intencional para a conversa. Claire permaneceu ali por mais um segundo, com a pulsação nos ouvidos, depois voltou para a toalha, o ar entre elas ficou tenso e azedo enquanto a risada do garoto subia pela areia.

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O garoto já estava em sua próxima missão, pisando com os calcanhares em uma vala molhada na areia, cada respingo alto e deliberado, o ritmo chegando diretamente aos ouvidos de Claire. Ela abriu o livro novamente, mas as palavras se recusavam a permanecer no lugar. Cada risada, cada respingo, cada batida parecia um golpe deliberado.

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Ela se sentou congelada na cadeira, com o peso da situação se acomodando como uma pedra em seu estômago. Não havia nada que ela pudesse dizer que pudesse fazer alguma diferença. A mãe havia deixado bem claro que não estava interessada em ouvi-la, e o menino parecia ter mais energia do que a própria maré.

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Os olhares já haviam se dissipado, mas o calor daquele breve holofote ainda permanecia, fazendo suas bochechas arderem muito depois de o momento ter passado. Cada nova gargalhada do garoto vinha acompanhada de um jato de areia em suas pernas, na toalha e até mesmo na lombada do livro já úmido.

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Claire limpou a areia mecanicamente, e o calor do dia foi substituído por um desconforto e uma dor nas têmporas. O garoto já havia feito várias viagens à costa, enchendo seu pequeno balde até a borda com uma mistura de água do mar e areia pesada e úmida.

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A cada vez, a carga era demais para ele. Ele cambaleava até a metade do caminho de volta antes que o balde se inclinasse e despejasse seu conteúdo na areia muito antes de alcançar sua mãe. Claire não pôde deixar de observar o esforço, meio divertida, meio temendo a bagunça, enquanto a mãe do menino continuava a digitar, totalmente alheia.

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Em uma de suas pausas, o menino parou perto da toalha de Claire. Ele olhou para o balde maior que ela estava usando para guardar algumas coisas dentro dele, seu protetor solar, uma garrafa extra de água e uma toalha enrolada, e seus olhos se iluminaram. “Com licença”, disse ele, com uma voz inesperadamente educada, “poderia me emprestar seu balde? Quero fazer um castelo de areia maior”

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Claire hesitou. O balde era mais pesado, e ela sabia que provavelmente não era a melhor ideia para uma criança do seu tamanho carregá-lo cheio de água e areia. Mas a ansiedade dele a deixou mais tranquila. Ela tirou suas coisas, colocou-as ao lado de sua cadeira e entregou-lhe o balde. “Claro”, disse ela, dando um pequeno sorriso. “Apenas certifique-se de não derramar isso em ninguém, ok?”

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“Está bem! Obrigado!”, respondeu o menino alegremente, correndo em direção à praia com seu prêmio. Por um breve momento, Claire quase se sentiu mais leve, até que a mãe levantou a cabeça. “Ei!”, gritou ela, sua voz atravessando a areia, aguda o suficiente para fazer com que alguns banhistas próximos olhassem para ela. “Você não fala assim com meu filho.”

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Claire piscou os olhos, surpresa. “Eu só estava dizendo a ele para tomar cuidado”, disse ela, mantendo o tom de voz nivelado. “Ele pediu meu balde emprestado e eu deixei. Foi só isso.” Os lábios da mãe se fecharam em uma linha fina. “Se você tem algum problema, fale comigo, não com ele”, disse ela, com os óculos escuros refletindo o brilho do sol para Claire como um escudo.

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Ao redor delas, o ar mudou. As conversas se acalmaram. Claire podia sentir os olhares novamente; alguns curiosos, outros de pena, alguns com aquele olhar mal disfarçado de “oh, lá vamos nós”. Os adolescentes de antes se sentaram mais eretos para assistir, e um casal de duas toalhas trocou olhares como se fossem espectadores se preparando para a próxima rodada.

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“Eu estou falando com você”, disse Claire com firmeza, embora suas bochechas estivessem queimando. “A mãe do garoto a interrompeu com um aceno brusco de mão, murmurando alguma coisa enquanto voltava para o laptop, sinalizando que a conversa estava encerrada em sua mente.

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Claire pensou em fazer as malas. Talvez encontrar um lugar mais calmo na praia. Mas a ideia de caminhar pela areia quente, fazer malabarismos com suas coisas e procurar paz novamente parecia exaustiva.

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Ela suspirou, fechando o livro, resignando-se ao fato de que aquele dia tinha sido uma causa perdida desde o momento em que chegaram. E então aconteceu. O garoto voltou correndo da costa mais uma vez, com o balde cheio a ponto de derramar, a água brilhando à luz do sol.

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Dessa vez, ele foi direto em direção à mãe, mas não viu a borda da toalha de praia dela. Seu pé ficou preso, fazendo com que ele se inclinasse para frente. O conteúdo do balde, uma onda cheia de água do mar e torrões de areia arenosa, voou em um arco perfeito antes de cair sobre o laptop aberto no colo de sua mãe.

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O assobio foi instantâneo, seguido por um chiado fraco e sinistro e, em seguida, o estalo agudo da tela ficando preta. O rosto da mulher congelou de horror e depois se transformou em pânico. “Liam!”, gritou ela, levantando-se e quase deixando cair a máquina. “O que diabos você estava pensando?!”

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Ao redor deles, a reação foi imediata. Alguns banhistas próximos se sentaram mais eretos, com os olhos arregalados. Alguém soltou uma risada curta e abafada que provocou mais algumas risadas. O casal sob o guarda-sol azul estava sorrindo abertamente agora, um se inclinando para o outro com um comentário sussurrado que fez com que ambos rissem mais.

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“Eu estava mostrando a você”, murmurou Liam, com a voz confusa e baixa. “Eu fiz um grande castelo…”, a mãe dele esbravejou, “Eu não me importo com o que você fez!”, pegando uma toalha e enxugando furiosamente o teclado que estava pingando.

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“Oh, meu Deus… isso não está acontecendo… posso ter perdido tudo… todo o meu trabalho…” Sua voz oscilava entre o pânico e a fúria enquanto ela apertava o botão de ligar várias vezes, cada vez mais desesperada do que a anterior.

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Mais risadas surgiram de algumas toalhas ao redor, e o homem mais velho que havia olhado para Claire com pena antes, agora lhe deu um aceno de aprovação. Claire se recostou na cadeira, com os cantos da boca se curvando em um sorriso satisfeito.

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“Crianças serão crianças”, disse ela levemente, com a voz alta o suficiente para ser ouvida. A mãe congelou por meio segundo, com os olhos se fechando em fendas afiadas, antes de enfiar o laptop na bolsa com movimentos bruscos. Ela enrolou a toalha às pressas, fechou a tampa do refrigerador e chamou por Liam em sílabas curtas e apertadas.

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O menino o seguiu com relutância, arrastando o balde atrás de si, deixando um rastro na areia. Enquanto eles se afastavam pela areia, mais algumas risadas os seguiam. O casal sob o guarda-sol azul sorriu abertamente para Claire, um deles levantando a bebida em um pequeno brinde conspiratório.

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O homem mais velho que a havia olhado com pena antes fez um único aceno de aprovação, do tipo que se faz a alguém que acabou de ver a justiça acontecer em tempo real. Até mesmo o grupo de adolescentes que havia sorrido durante o confronto anterior agora ria baixinho entre eles, olhando para as figuras que partiam.

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Claire deixou o momento tomar conta dela, a satisfação a aquecendo por dentro de uma forma que o sol não conseguia. Ela observou os ombros rígidos da mãe recuarem até desaparecerem em meio ao borrão de toalhas e guarda-chuvas perto da entrada principal, o menino seguindo atrás como um navio a reboque.

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As risadas se desvaneceram, substituídas mais uma vez pelo bater e recuar rítmico das ondas. E, sem mais nem menos, o ar ficou mais leve. A tensão que havia se enroscado em seu peito durante toda a tarde se desfez, sendo substituída por uma calma fácil.

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O cheiro de sal e protetor solar voltou a se espalhar livremente, e as únicas vozes que chegavam até ela agora eram distantes e suaves, misturando-se à paisagem sonora da praia em vez de cortá-la. Ela esticou as pernas, enfiando os dedos dos pés na areia quente e fina até enterrá-los completamente.

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Seus ombros se acomodaram na cadeira, o tecido a embalando de uma forma que parecia quase indulgente. Ela abriu o livro, com as páginas agora a salvo de respingos e tempestades de areia, e tomou um longo e lento fôlego de sua garrafa térmica.

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O leve tilintar do gelo derretido contra o metal era quase musical. Pela primeira vez naquele dia, ela não conseguia ouvir nada além do oceano; constante, atemporal e totalmente dela naquele momento. Ela virou uma página, com o canto da boca ainda curvado em um pequeno sorriso. O dia não tinha sido apenas recuperado. Ele foi recuperado.

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